A Casinha é um novo projeto para os LGBT+ cariocas que ainda nem saiu do papel e já se tornou necessário. Desenvolvida pelos amigos Natalia Pasetti, Natalia Médici, Lorena Miguel e Lucas Meloa iniciativa pretende criar uma casa de acolhimento para LGBTs em situação de risco no Rio de Janeiro, disponibilizando cursos de capacitação, um centro cultural e atendimentos médico e psicológico para a comunidade. Hoje, mesmo sem ter sido lançada, a página da Casinha no Facebook já recebeu mais de 50 pedidos de alojamento, como conta uma de suas fundadoras à Híbrida.

“Nós recebemos quase que diariamente, de pessoas das mais diferentes idades que estão em situação de risco”, comenta Natalia Pasetti, estudante de Ciências Políticas, com foco em direitos humanos. Os casos, ela relata, vêm na grande maioria de jovens e adolescentes que são hostilizados, agredidos e ameaçados dentro de casa pela família e tentam buscar algum tipo de auxílio através da página.

Projeto "Casinha" pretende construir casa de acolhimento e centro cultural para LGBTs no Rio de Janeiro
Projeto “Casinha” pretende construir casa de acolhimento e centro cultural para LGBTs no Rio de Janeiro

A solução, por ora, tem sido redirecionar essas pessoas para órgãos como o Conselho Tutelar, a Defensoria Pública ou algum posto de atendimento psicológico e/ou jurídico na capital fluminense. “A gente recebe muitas mensagens de pessoas passando por situações de violência. Essa semana mesmo tivemos um garoto contando que sofreu tentativa de assassinato do irmão mais velho por ser LGBT”, ela explica.

Brechó realizado pela Casinha para arrecadar fundos (Foto: Divulgação)

No plano inicial, a Casinha já estaria funcionando e acolhendo pessoas desde o mês passado. Entretanto, as ações promovidas pelo grupo ainda não conseguiram alcançar o valor necessário para que o local se mantivesse pelo período de um ano. “Tentamos diminuir a nossa meta e agora estamos repensando as nossas estratégias. A maioria do trabalho que realizamos é totalmente voluntário, com um grupo bem regular de apoiadores. Inclusive temos conseguido bastante ajuda. Ganhamos a nossa documentação pro bono, tivemos que pagar apenas o cartório, o que conseguimos bancar através de um brechó com roupas doadas”, conta Natalia, que também vem angariando fundos através de festas, parcerias e até vendendo sacolé na 22ª Parada de Resistência LGBTI.

A ideia para fundar uma casa de acolhimento no Rio surgiu após ela ter tomado conhecimento dos campos de concentração na Chechênia e o horror vivido pelos LGBT+ daquele país. A notícia lhe gerou tamanha inquietação que Natalia precisou fazer algo a respeito: mobilizou amigos, foi atrás da Casa 1, em São Paulo, e começou a organizar os primeiros esboços da Casinha. “Isso me assustou e me incomodou muito. Nós vemos muita violência o tempo inteiro no Brasil, muitos amigos próximos já passaram por situações aterrorizantes, mas aquilo me abalou muito. Foi onde me perguntei como conseguiria fazer alguma mudança nesse mundo e não me sentir mais impotente”, ela explica, acrescentando que a ideia é criar uma rede de mobilização com a Casinha, a Casa 1 e outros projetos similares pelo país.

Equipe da Casinha durante ato contra a cura gay (Foto: Divulgação)

“Estamos mapeando outras casas de acolhimento, postos de atendimento psicológico, fazendo também um diálogo com o SUS. Entendemos que não vamos poder acolher todo mundo, mas já é uma forma de fazer política pública por fora do Estado”, avalia Natalia, que já conseguiu uma parceria com unidades de atendimento psicológico, para onde encaminha alguns dos pedidos que tem recebido antes de a Casinha ser inaugurada. “O mais importante é acolher a pessoa, independente de onde ela venha”, completa.

Em janeiro, eles já planejam um Festival de Música para alcançar o restante da verba – ou pelo menos parte dela. Por enquanto, o trabalho da Casinha segue acontecendo majoritariamente nos âmbitos do encaminhamento e da capacitação, mas é apenas uma questão de tempo e mobilização coletiva para que o sonho se realize.

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