Aos 22 anos, João Guilherme Ávila já é um fenômeno da sua geração. Com uma carreira artística que começou com apenas sete anos de idade, o paulistano é uma das estrelas de Da Ponte Pra Lá, nova aposta nacional da (HBO) Max para o streaming brasileiro cujo enredo principal gira em torno do assassinato de um jovem trans.
“Tenho muitos admiradores da comunidade, e hoje me sinto muito próximo deles com a presença nas minhas redes, ou quando assuntos como a masculinidade frágil viram pauta”, diz João Guilherme em uma conversa exclusiva com a Híbrida. “Vejo um apoio e uma admiração que me deixam muito feliz mesmo, porque é uma comunidade que sempre foi oprimida por só querer ser o que eles são, por querer estar bem com o seu corpo, da maneira que eles se enxergam.”
Mesmo sendo um homem hétero, João Guilherme tem, entre seus mais de 26 milhões de seguidores nas redes sociais, uma boa parcela de admiradores da comunidade LGBTQIA+, da qual se tornou aliado nos últimos anos pela forma como rejeita a performance tóxica da masculinidade. Por isso, ele também é vítima constantes de ataques homofóbicos.
No episódio mais recente, o ator chamou o jogador Endrick de “ídolo” em uma foto publicada pelo atleta após marcar seu primeiro gol pela Seleção Brasileira. O simples comentário desencadeou uma série de respostas com a palavra “gay” em suas redes sociais, numa clara tentativa de ofender o ator.
“Para mim, isso é regra na vida: se você está feliz e respeitando todo mundo e todos, não tem porquê ninguém ficar te apontando dedos. Isso vai desde a maneira que você se veste à sua orientação sexual ou a maneira que você se identifica”, afirma João Guilher. “Eu sou um homem hétero cis, mas sempre tive contato com todos os lados como ator nos sets de filmagem, que são cada vez mais ricos em diversidade. E a gente acaba aprendendo muito, a gente deixa a intolerância, coisas que são ensinadas de berço, e vira acolhimento.”
Filho do cantor Leonardo com a empresária Naira Ávila, João Guilherme não tem medo de explorar seu lado feminino na maneira como se veste e se apresenta. Em sua opinião, ter sido criado a maior parte do tempo pela mãe e pela avó, que o acompanhava nos trabalhos quando criança, tornou-o um adulto mais sensível, para além do contato com a arte em si.
Eu sei o que sou pelo meu contato com a arte e pela minha cabeça aberta para tudo, para entender a beleza em todas as formas. Tem gente que não tem essa visão, essa sensibilidade
“Ter esse lado masculino e feminino é um pouco de alma, algo maior, de espírito. Todo mundo tem um lado masculino e um feminino dentro de si. O meu é bem aflorado, como já falaram para mim, como um elogio”, comenta. “É de uma sensibilidade maior, e não entendo por que ser tão duro ou nos padrões que a sociedade acha que a gente deve pensar e se comportar.”
João Guilherme é Enzo
O trabalho mais recente de João Guilherme em Da Ponte Pra Lá, que estreia no próximo dia 4, é na pele do adolescente Enzo Bianchi, filho do secretário de Segurança Pública de São Paulo, que usa dos seus privilégios para transgredir. Em sete episódios, a série traz temas como transfobia, corrupção policial, questões raciais, abuso de drogas e álcool, enquanto o personagem retrata a vida de um garoto padrão na parte rica da cidade.
“Eu fico muito feliz de poder participar de um projeto que pode ser o começo de uma nova visão, que aborda esse tema de maneira quase excepcional, sem romantizar e denunciando muitas coisas”, destaca o ator. “Poder fazer parte de uma mensagem maior é muito legal. Não consigo identificar nenhum outro trabalho que eu tenha feito com um peso assim, que possa realmente botar as pessoas para pensarem um pouco – sobre si mesmas e sobre o ambiente que elas vivem – que estimula o olhar ao outro.”
Assista abaixo ao trailer de Da Ponte Pra Lá.