Híbrida
ARROBA

Tá passada? Esse Menino sobre seu sucesso, humor no Brasil e “Poodle”

Em "Poodle", Esse Menino reconhece e subverte os clichês que rodeiam a comédia LGBTI+ (Foto: Doma 02/Divulgação)

Há dois meses, um vídeo publicado no Instagram, satirizando a recusa do governo Bolsonaro em responder aos e-mails enviados pela farmacêutica Pfizer sobre a compra de vacinas contra a Covid, viralizou em todo o canto da internet. Compartilhado à exaustão nas redes sociais, a postagem virou gif, teste do Buzzfeed, figurinha de Whatsapp e, desde então, instaurou uma expressão que grudou na cabeça dos brasileiros: “tá passada?”.

Por trás e à frente das câmeras, estava um jovem cujo nome artístico atende por “Esse Menino”. Ele, aos 25 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo. “Minha vida mudou assim, inteira. Às vezes eu demoro um pouco para assimilar”, confessou, em entrevista exclusiva à Híbrida, sobre seu sucesso inesperado.

Nascido em Belo Horizonte e criado na cidade de Teófilo Otoni, interior de Minas Gerais, Esse Menino bebe – como costuma dizer – do humor desde a infância. Rodeado por familiares engraçados – como também costuma falar -, descobriu, por volta dos 12 anos, que a graça não vem necessariamente de nascença, mas sim de ensinamento e aprendizado. Uma espécie de Simone De Beauvoir do humor: não se nasce comediante, torna-se.

E assim, de Dave Chapelle, passando pelas queens de Drag Race até Tatá Werneck, ele foi montando um repertório recheado de referências, que o ajudaram a criar sua própria identidade na área.

Em 2018, começou a produzir conteúdo para a internet, conquistando um punhado de seguidores aqui e acolá. Até que o sucesso bateu à sua porta. “Fui me acostumando a postar um vídeo e ganhar uns 2 mil seguidores. Ou quando bombava muito, dava uns 5 mil. O da Pfizer, postei achando que seria mais um desses. E de repente… O pau quebrani. Vixe, Maria”, relatou, com sua linguagem já característica.

Agora, com mais de 1 milhão de seguidores na rede que o alçou à fama, o roteirista, humorista e ator lança o projeto independente “Poodle”, baseado em sua própria vivência e compreensão de mundo. Na história, o protagonista abraça seu destino como homem cis gay “divertido” após abandonar a militância: decide virar “pet de madame”. Com participações especiais de Chico Felitti, Duda Beat e Jup do Bairro – com quem tem uma química evidente -, a atração demonstra o seu talento em reconhecer e subverter os clichês que rodeiam a comunidade gay. Tudo com muito rosa, pompom e, é claro, ironia. 

Para ele, “‘Poodle’ foi realmente um tiro no escuro. É um projeto que eu queria ver e não tinha. E falei “ah, vamos fazer e ver onde é que vai dar”. Com a estreia marcada para as 18 horas desta sexta-feira (13), o especial estará disponível até o dia 20 para transmissão online na plataforma Evoé por apenas R$ 20,00.

À Híbrida, o humorista falou sobre sua trajetória artística, como enxerga a representação da comunidade LGBTI+ no humor nacional, a inspiração por trás de “Poodle” e os projetos futuros. Para tentar manter seu charme, que vai do sotaque mineirês às interjeições, tentamos deixar a transcrição do áudio o mais perto possível do encontro real. Confira, abaixo, o papo na íntegra:

Esse Menino abraçando seu destino como homem cis gay “divertido”: virar “pet de madame” (Foto Doma 02/Divulgação)
Esse Menino abraçando seu destino como homem cis gay “divertido”: virar “pet de madame” (Foto Doma 02/Divulgação)

HÍBRIDA: Como surgiu o seu interesse pelo humor? 

ESSE MENINO: Eu sempre gostei muito de pessoas engraçadas e minha família tem várias pessoas assim. Minhas tias, primas… todas descompensadíssimas e eu as admirava muito. Daí, com uns 12 anos, pensei: “ah, tem como você estudar isso aí, né. Tem como você ser assim. Não é uma coisa que você só nasce”. E virou meio que uma cisma, sabe. Coisa de menino pequeno, que às vezes cisma com um trem e empolga nisso e vira a personalidade da pessoa. Tipo “escuto Foo Fighters e agora sou roqueira”. Fiquei nessa e comecei a estudar desde então. Aprendi inglês até por conta disso, porque fui pesquisando muita coisa americana.

Durante muito tempo, fui apaixonado pela área, mas não pensava em seguir. Eu tinha um pouco de medo do que seria. Porém, quando comecei a assistir MTV, na época que tinha Tatá Werneck, Dani [Calabresa], aquela galera toda, falei “ah, bicha, daria tudo pra estar lá” e lascou. “Quero fazer isso da minha vida mesmo”. Daí fiz faculdade de Cinema para aprender roteiro e acabei não dando muito certo lá, mas aprendi várias coisas. E comecei a botar meus trem na internet assim e foi… e tamo aí, né (risos).

H: É perceptível que você tem suas particularidades no humor. A sua voz, a maneira como brinca com ela. Como você aprendeu isso?

EM: É muito doido porque algumas coisas a galera acha que é espontâneo, só que existe realmente uma técnica por trás. E como consumi muitas pessoas durante toda a vida – tanto aquelas que trabalhavam com isso, quanto quem não e eu considerava engraçadas de conversar -, fui acumulando e selecionando o que achava que entrava ali e aqui. O que funcionava comigo, com meu texto, a minha performance. E foi muito teste. Fazia stand-up até pouco tempo, quando ainda dava pra fazer e conversava com os amigos, montando um quebra-cabeças de elementos e vendo o que dava certo. A coisa da voz é uma das que eu mais gosto de trabalhar e é algo que a galera nota. Enfim, fui testando e achando a minha voz mesmo, e acaba que ela é essa coisa em tudo quanto é canto ao mesmo tempo.

H: É muito difícil não sair do “personagem” durante uma performance de stand-up?

EM: Então, o Esse Menino é uma versão mais exagerada minha, não uma outra pessoa. E na hora, realmente não é muito difícil. Até quando tem um improviso, as coisas funcionam nesse mesmo tom e vai. Uma questão que eu gosto muito e que as pessoas falam é o meu vocabulário, porque tenho mania de conversar igual uma senhora idosa e acaba que tudo faz um grande coral e funciona.

H: E além dos seus parentes e da galera da MTV, quem mais te inspirou?

EM: Gata, eu realmente bebo de tudo quanto é fonte. Tem a galera americana, com um milhão de referências, como o Chris Rock, o Dave Chappelle, a Wanda Sykes. Mas também gosto muito da galera australiana. Nos países onde o stand-up e a comédia têm um certo valor, a coisa é tão grande que ela tem ramificações. Então, tem os mais “alternativos”, que aqui ninguém conhece tanto; os que são gigantes, que fazem sentido serem gigantes porque são realmente muito bons… 

Enfim, eu bebo de tudo quanto é fonte. Galera que já morreu, tá viva… Eu vou pra tudo quanto é canto. Mas tem sempre aquelas clássicas, né. Daqui tem a Silvetty Montilla, por quem eu sou apaixonado, Nanny People… Atores, que não necessariamente fazem stand-up, mas são do humor, como Luís Miranda, Fernanda Torres… Eu sou doido com a Fernanda Torres, bebi Vani [personagem da atriz em “Os Normais“] minha vida inteira. Tentei aprender de todo mundo que eu consumi.

H: No especial você fala de RuPaul’s Drag Race também. Como sou fã, queria saber quais são suas queens favoritas.

EM: Horroooores. Sempre fui cismado com as gatas comediantes, as que fazem graça. As que são bonitas são tudo. As que são sei lá o que também são tudo também. Mas as que são comediantes ganham meu coração. Eu sou apaixonado pela Trixie Mattel – que em RuPaul não brilhou tanto, mas fora tem uma carreira muito boa. Também amo a Bob the Drag Queen e a Alaska. Eu acho que seriam essas três que eu gosto muito. Mas realmente tem várias, as gata arrasa. Eu gosto muito da Naomi Smalls também, que é uma gatinha na beleza, mas é *beijo* ouro *beijo*.

H: Agora, vamos lá: esperava ter estourado com o vídeo da Pfizer?

EM: Gata, jamais. Eu já estava fazendo isso há três anos, trabalhando dessa forma na internet, muito no meu ritmo. Eu nunca fui uma pessoa do “tem que postar toda semana”, “toda terça-feira às 11” e tal. Nunca foi minha onda. Eu sempre fui do tipo que quando tem uma ideia, vai lá e grava. E fui me acostumando a postar um vídeo e ganhar uns 2 mil seguidores. Ou quando bombava muito, dava uns 5 mil. O da Pfizer, postei achando que seria mais um desses. E de repente… O pau quebrani. Vixe, Maria.

Minha vida mudou assim, inteira. Às vezes eu demoro um pouco para assimilar, até porque comecei a trabalhar mais do que já trabalhava. Vou e volto para São Paulo, aquela onda. E às vezes falo: “gente, o que esse povo quer comigo?”, mas tamo aí, tamo fazendo.

H: Como tem sido lidar com a repercussão que o vídeo gerou? Como foi o passo-a-passo desse estouro?

EM: De primeira, fiquei muito retraído, porque queria saber onde ia parar. Eu não tinha noção. Quando bateu 100 mil seguidores, por exemplo, eu falei “putz, arrasou”. Porque eu só lancei aquele vídeo pra poder lançar “Poodle” e entrar uma semana depois. Só que foi subindo. Chegou nos 500 mil e falei “é… vamos ver onde é que vai dar”. Por trás, o e-mail comendo, pipocando de proposta. De gente querendo trabalhar, fazer vídeo e tal.

No meio desse processo, acabei entrando pra Mynd. A galera maldosinha do Twitter fica nessa conversinha de que “bomba, Preta [Gil] já tá no telefone”. Mas Preta já me seguia antes, já rolava uma interação e a gente estava num papo que se oficializou. E foi uma ajuda muito grande porque muita coisa acontece ali. É muito trabalho. E eu sou muito ruim de data. Meu irmão estava me ajudando demais. Eu fiquei umas duas semanas sentado no sofá daqui de casa dando entrevista assim, uma hora atrás da outra. Começava de manhã e terminava às 7 horas da noite. Então, é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Mas eu acho também que eu estava trabalhando para que desse certo. Foi só uma questão de digerir mesmo, de se acostumar. Mas nós tamo aí, gata. Um milhão de coisas vindo, projetos e projetinhos. Aguarde!

H: Alguém que você admira entrou em contato contigo?

EM: Gataaaa… Um milhão! Eu fiquei muito feliz. Obviamente tem vários artistas que gosto muito, até falei esses dias sobre o Tony Salles, que eu sou muito fã e é um cantor de pagodão. E tem uma galera que é muito massa, assim. Fiquei muito surpreso de me seguirem, eu realmente não esperava.

Fiquei muito, muito feliz quando vi outros humoristas me seguindo. Tem uma galera que eu acho que tem um alcance maior, que é a galera da televisão, como Ingrid Guimarães, Samantha Schmutz, que porra, é muito fofa, Tátá Werneck, que eu quase morri do coração, Dani Calabresa… E a galera do stand-up também, que acaba que aqui no Brasil tem uma posição completamente diferente porque o povo não consome da mesma forma, como Thiago Ventura, Afonso Padilha… Essa galera toda veio bater papo e falar “bicha, quando você quiser fazer qualquer coisa, me chama” e eu fiquei muito, muito feliz. Muito realizado de que me viram como um deles.

H: Na sua visão, quais são as maiores diferenças que enxerga no seu stand-up, no stand-up no Brasil e o que acompanha lá de fora?

EM: Uau, vamos lá. Eu acho que tem uma certa estrutura na própria mídia, que lá fora fala “essas pessoas aqui são tão importantes quanto cantores e atores”. Não existe uma preferência igual é aqui como com os globais. Não tem muito essa hierarquia. Obviamente, cada um no seu elemento, mas as pessoas são tratadas mais ou menos iguais. Comediante lá fora anda de jatinho nas turnês, lota o Madison Square Garden… Então é uma proporção realmente diferente e é algo enraizado na cultura deles.

Enquanto que aqui, pelo que vejo da minha galera (que no caso tem a minha idade, é mais “alternativa”, da comunidade LGBTI+, etc.), olham muito como se stand-up fosse um rolê de hetero. Porque a referência que a gente tem no Brasil, pelas pessoas que começaram, são Danilo Gentili, Rafinha Bastos. Então, algumas pessoas de primeira já rejeitam por conta da imagem deles, pensando que se for lá, é isso que vai ver. E não é assim. Existem várias ramificações, vários grupos. Em São Paulo, por exemplo, tem grupo só de galera preta, só de galera LGBTI+… As pessoas vão tentando criar um espaço para elas.

Acho que uma das diferenças mais grandes é o próprio público também, que não conseguiu olhar e falar “putz, se eu for lá, vai ter algo para eu consumir”. Porque acaba que a gente cai nesse ciclo. É arte e tudo o mais, mas também é um business. Tem pessoas, digamos, do stand-up hoje, que fazem muito sucesso e que possuem um discurso que vai muito contra o meu, com relação a minorias e demais pautas. Então a galera já liga e fala “stand-up no Brasil é isso”. Só que não. Porém, como a galera que consome esses textos é quem vai realmente, que marca presença, o mercado valoriza só eles. Tem várias outras pessoas comigo que têm um fechamento, que fazem coisas na mesma onda e tal, mas que não têm a mesma atenção que os outros.

Comediante também só aparece em manchete de jornal se falar alguma merda. Daí sai processo e tal. Não tem uma coisa do tipo “ele está fazendo um projeto”. Enfim, acho que é isso: tanto um fator público, quanto midiático e também da nossa cultura de não reconhecer tanto, só dar atenção pra televisão. É quase um TCC que eu te falei aqui, mas é isso (risos).

H: O que você espera ver mais no humor produzido no Brasil?

EM: As que tão fazendo agora, estão de parabéns, porque tem muita coisa massa acontecendo. Mas eu acho que quanto mais diversidade, quanto mais pessoas com vozes diferentes fazendo, mais gente que consome comédia vai ter noção de outras realidades. Existem piadas que eu não posso fazer pois não tenho a vivência pra isso; como ser uma pessoa trans e contar a transição de uma forma engraçada, por exemplo, que para algumas pessoas vai entrar na cabeça de uma outra maneira, ajudando elas a criar uma empatia – não que alguém tenha que mendigar isso, mas arte é um fator proporcional a isso. Então acho que quanto mais pessoas diferentes estiverem ocupando lugares na televisão, nos podcasts, no stand-up e tudo o mais, todo mundo ganha. Acho que a comédia e o público ganham. 

“Poodle” foi realmente um tiro no escuro. É um projeto que eu queria ver e não tinha. E falei “ah, vamos fazer e ver onde é que vai dar”. Acho que quanto mais gente diferente, nova, fazendo coisas diferentes e não se colocando nos moldes da indústria é sempre bom.

H: Como você vê a representação LGBTI+ no humor feito no Brasil?  Acha que passamos por um avanço?

EM: Eu vejo um avanço muito grande, porque na internet as pessoas meio que acham a gente. Nosso público encontra a gente. A partir disso você pode falar da sua realidade, das coisas que vive e as pessoas se identificam ou não, mas conseguem ver. Então acho que o avanço tá nisso, de quem toma as rédeas, que é quem tá fazendo, que tem a vivência. 

E a gente tá fazendo a piada e não tá sendo a piada, né. O que muda muito a dinâmica do que era feito aqui no Brasil. Eu acho que isso mudou demais. O próprio Paulo Gustavo é um exemplo. Ele teve um impacto tão grande nesse quesito de ser quem faz a piada e não de virar a piada que ele transformou a indústria. Porque depois dele, vieram vários outros artistas – que já estavam ali, já trabalhavam, mas que sentiram o impacto da onda dele. A indústria olhou e falou: esse cara é foda, vamos dar mais espaço pra essa galera.

Ao mesmo tempo, eu posso estar lá fazendo uma piada que é super minha, que é super empoderada e vai ter alguém na plateia que vai rir do meu jeito de falar, porque eu tô desmunhecando, porque acha que eu sou bicha e tal e tem coisa que não dá pra controlar. Mas eu sinto que do lado de cá, quem tá fazendo, tem uma autonomia e liberdade muito maior. Então eu sinto um avanço, mas sempre pode melhorar.

H:Como surgiu a ideia por trás do especial?

EM: Eu tinha passado num edital em Belo Horizonte de micropeças de 10 minutos. Estava empolgada com essa ideia, porque reparava que a questão da militância virou um produto, né. Muitas marcas hoje fazem porque tem que fazer. E já estava existindo uma repulsa a isso da galera que é mais descolada; E a internet tem um ciclo. A coisa bomba e depois… Meu vídeo da Pfizer mesmo, daqui a pouco vai ser “nooossa, ai, ninguém aguenta isso mais” – se já não está (risos). Enfim, quis expressar isso, mas de uma forma mais subversiva, porque eu poderia chegar lá e falar “gente, isso aqui é errado e tal”, mas eu quis fazer o contrário. Eu quis me render 100% e falar “olha, não dou conta mais, não dá pra acompanhar a internet, eu vou ser uma bichinha poodle de madame SIM, é uma vida muito mais glamourosa, não vou agradar a galera do Twitter, mas eu não vou sofrer mais com todas as questões que existem em você se desconstruir”. Porque a desconstrução é um processo muito inconveniente, se a gente parar pra pensar em todas as estruturas que existem. Enfim, nasceu daí e era um texto de 10 minutos que foi exibido numa live e eu falei “bicha, gostei muito desse projeto, queria muito investir nele” e já estavam surgindo uns trabalhinhos assim. A gente faz vídeo pra internet de 3 minutos e a galera já reclama que tá longo. Quero sair dessa. Quero mostrar o que mais eu sei fazer e aí veio.

H: Isso é perceptível em “Poodle”. Você pega muitos clichês e os ressignifica. E diferentemente do “humor gay” do passado, que era feito para um público hetero, você faz para o público LGBTI+ e, de quebra, parte do público hetero consegue participar. E por mais que essa linguagem já faça parte do Twitter, por exemplo, ela é uma novidade no audiovisual. Parabéns!

EM: Nossa, muito obrigado! Valeu!

H: Preciso perguntar: por que Poodle e não Lulu ou outro cachorro de madame?

EM: É total, 100% pela parte estética do projeto. Porque existem vários nomes, né. “Gay pet”, “chaveirinho de amapô”, várias coisas. Só que eu gosto muito de uma estética exagerada, né (dá pra perceber) e até alguns elementos de drag entram. Então, eu estava pensando em vários nomes e falei assim “gente, a pegada do poodle dá pra fazer tanta coisa”. Na primeira apresentação, fiz um penteado que era cacheado atrás e na frente tinha um cabelão e achei demais. E acho o nome bonitinho assim. É mais pela parte estética mesmo, o volume, o pompom.

H: Mas fica aí a sugestão para uma possível continuação…

EM: Dá pra fazer o canil inteiro (risos).

H: Como foi a escolha das participações especiais? Inclusive, sua química com a Jup do Bairro é incrível.

EM: Nossa, não existe. O que foi aquilo?! Eu também fiquei assim, e-m-o-c-i-o-n-a-d-o.

Então, as três pessoas que participaram já me seguiam antes. Eu e Jup tínhamos uma relação mais de amizade mesmo. De participar de live, conversar e tal. E ela sempre mandava mensagem falando pra escrever algo pra nós dois. E eu falava “gata, tenho um negócio, espera que tem um projeto acontecendo”. Tanto que a personagem Jup do Condomínio eu escrevi pra ela. Que bom que ela topou.

Já Duda tinha falado comigo sobre umas coisas muito massa com relação a comédia nesse tempo. E eu já tinha escrito a parte da “Depressão” e queria muito que tivesse uma trilha meio triste. Daí, pensei “a Duda é tipo assim, a rainha da sofrência pop. Putz, será?” e mandei uma DM. Ela, uma flor, no mesmo dia respondeu e pediu para eu mandar as direções. Trocamos Whatsapp e tal e foi muito tranquilo.

O Chico eu já queria que fizesse, pois precisava de um narrador e eu amo o podcast que ele apresentava (Além do Meme) e acho a voz dele muito boa. Ele assistiu a micro-peça e eu pedi “Chico, narra um trem aqui pra mim, véi” (risos) e ele foi.

Esse Menino e Jup do Bairro, como Jup do Condomínio, no especial “Poodle” (Foto: Doma 02/Divulgação)

H: Nos créditos de “Poodle”, você dedica o especial à sua madrinha. Qual o espaço dela na sua vida?

EM: Minha madrinha pegou Covid e faleceu por conta disso e foi um pouco antes de tudo acontecer. Ela é um daqueles exemplos que falei no início, uma das mais marcantes. As pessoas da minha família são engraçadas sem saberem que são, são pessoas caricatas, exageradas. A maioria é mulher e muito perua, e a vida inteira deram muita força pra eu me expressar e ser quem sou. Realmente, nunca senti uma repressão dentro de casa. Lá a gente é muito unido, todo mundo. Sempre me senti muito quisto. Sempre aplaudiram muito. E ela torceu demais por mim, pela minha carreira. Eu fiquei muito triste que o boom aconteceu antes dela morrer, porque realmente ela acompanhava tudo. A última mensagem que me enviou, antes de falecer, foi no Instagram, dizendo que estava no hospital, muito mal, mas que estava vendo meus vídeos com alegria. Então, toda essa simbologia, de ser uma mulher exagerada, de ser uma gatona, é muita referência pra mim. Colocá-la ali no final foi o mínimo que eu podia fazer, porque eu a amo demais. 

H: Quais seus futuros projetos? O que vem por aí?

EM: “Poodle” tem sido – e está sendo – um processo de aprendizado em todos os sentidos, tanto na parte artística, quanto na parte empresária. Porque é um produto que eu estou vendendo, mas também fazer e atuar foi toda uma situação. É um formato que poderia acontecer mais. Já tiveram outros comediantes conversando comigo, inclusive, querendo saber como foi a experiência pra fazer igual. Porque te dá uma autonomia muito diferente do que esperar alguém ou uma plataforma comprar. Apesar que, realmente, gostaria que os próximos uma plataforma comprasse (risos).

Além disso, tenho algumas coisas já acontecendo, alguns projetos maiores que não são 100% autorais. Convites que viraram colaborações e tal… Mas é isso. E eu quero também fazer um mini-especial no final do ano contando um pouco da viralização, que possivelmente vai pro Youtube de graça. Vamos ver se vai rolar, se eu vou conseguir. Mas a ideia já existe, o texto já começou.

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