Híbrida
ARTE & LITERATURA

“The Drag Series”: projeto fotográfico explora e enaltece as queens da cena nacional

Alma Negrot, Adore Delano, Pabllo Vittar e Kim Chi no projeto "The Drag Series"

Nascido em Recife, o fotógrafo Fernando Cysneiros resolveu dedicar-se nos últimos 18 meses a uma paixão em comum com a fotografia: o universo drag. Desde maio do ano passado, ele vem clicando drag queens do Brasil para o projeto “The Drag Series”, que já ultrapassou a marca dos 35 mil seguidores no Instagram. Estrelas nacionais como Alma Negrot, Penelopy Jean e Pabllo Vittar já posaram para suas lentes, assim como outras rainhas internacionais do calibre de Adore Delano, Kim Chi, Alyssa Edwards e Chi Chi Devayne, todas de “RuPaul’s Drag Race”.

Mantendo a mesma estética de fundo branco, flash direto e personagem no centro, Fernando cria uma espécie de catálogo documental da cena queer brasileira, cujos registros já giram em torno de 150 queens. Em tempos onde uma final de RPDR causa tanta comoção na comunidade LGBT+ quanto uma partida de Fla x Flu gera entre os fãs de futebol, explorar e enaltecer a cena nacional é algo não só possível, mas necessário.

Abaixo, Cysneiros explica de onde veio o projeto, como é explorar a arte queer pela fotografia e quais as queens que ele ainda pretende clicar:

Fernando Cysneiros e Adore Delano nos bastidores de ensaio para a Drag Series (Foto: Reprodução Instagram)

 

Híbrida: Quando começou sua paixão por fotografia? Em que momento o universo Drag se tornou um foco desse trabalho? 

Fernando Cisneyros: Comecei a fotografar em 2010, mas só chegou a virar profissão mesmo em 2013! E meu trabalho com as drags teve início em maio do ano passado, há pouco mais de um ano.

H: De onde veio a ideia do “Drag Series”? Como você já participava desse mundo antes do projeto?
FC: Meu trabalho fotográfico sempre teve um objetivo muito publicitário, que é minha formação. Sempre trabalhei com publicidade e fotografia de maneira a atender as demandas dos meus clientes, mas nunca tinha realizado algum projeto de iniciativa minha. Com essa vontade de criar algo autoral, surgiu o “The Drag Series”. Antes, eu já tinha algum contato com o mundo drag e sempre tive essa afinidade, seja através de amigos ou das redes sociais. Foi algo que surgiu naturalmente e só vem crescendo desde então.

H: Você realiza alguma pesquisa para fotografar seus personagens ou eles surgem de maneira orgânica? Se pesquisa, quais são os critérios que você busca?
FC: As drags que fotografo surgem de várias formas: recomendações de outras que já participaram, interações nas redes sociais e também inscrições que recebo através de um formulário disponível no site do projeto. Antes de visitar alguma cidade, também faço uma pesquisa para descobrir as drags daquela determinada cena local. Sempre me perguntam os critérios para escolha das drags, mas realmente não tenho algo muito definido: é um mix de relevância na cena, poder de representatividade e diversidade, um portfólio recheado, a capacidade de trazer algo novo para o projeto, sorte e muito mais.

 

H: Quais são os maiores prazeres e desafios de fazer a série?
FC: O prazer são as mensagens carinhosas e o reconhecimento que recebo, além da possibilidade de aprimorar minhas técnicas e trazer visibilidade para esse mundo. Acho que o maior desafio é a falta de suporte financeiro para visitar mais cidades e fotografar mais drags, de diferentes regiões do país. Também existe uma certa pressão de queens e seguidores que ficam na expectativa de o projeto mostrar os talentos de suas cidades, mas que nem sempre é possível por não termos como viabilizar essas viagens.

H: Você consegue traçar um ponto comum entre todas as personagens que já fotografou?
FC: Acho que não! A arte drag é muito diversa e cada personagem é única. Claro, dá pra notar referências em comum, veias artísticas similares, mas cada uma com sua interpretação.

H: Teve alguma queen que você achou que não conseguiria fotografar, mas acabou fotografando?
FC: Quando comecei o projeto, não imaginava que conseguiria fotografar drags que admirava de longe como algumas participantes de “RuPaul’s Drag Race” ou mesmo as brasileiras que moravam em estados mais distantes.

Fernando Cysneiros no ensaio comemorativo de 100 queens do “The Drag Series” (Foto: Reprodução Instagram)

H: Quais são os personagens que você ainda não fotografou e estão na sua lista dos sonhos?
FC: Ah, tem várias! Se eu for citar todas vai ter briga caso eu esqueça alguém haha. Acho que posso citar com segurança algumas como Silvetty Montilla, e outras que ainda não consegui encontrar: Lia Clark, Aretuza Lovi, Rebecca Foxx e outras. Das gringas, RuPaul seria a maior conquista né?

 

H: Como tem sido a resposta ao teu trabalho?
FC: Geralmente é bem positiva, tanto dos seguidores quanto das drags participantes e da imprensa! Percebo isso principalmente em algumas pessoas mais próximas, que não viam muito futuro no projeto quando ele estava no comecinho, mas acabaram mudando de opinião (ou aceitando melhor) agora que ele cresceu um pouco mais e tem um reconhecimento maior.

Notícias relacionadas

Livros com temática LGBT+ dominam lista de censurados nos EUA

João Ker
6 anos atrás

(Exclusivo) Um ensaio sobre a população trans e não-binária de Recife

João Ker
5 anos atrás

Novo livro de memórias de RuPaul será lançado no Brasil

Revista Híbrida
1 ano atrás
Sair da versão mobile