O dia 19 de abril é uma data em que se celebra a diversidade cultural dos povos originários, que ainda resistem para existir com dignidade e representatividade no Brasil. Por isso, a Híbrida traz aqui uma lista com cinco indígenas LGBTQIA+ que lutam para aumentar a representatividade da nossa população. 

Desde 2022, o Dia do Índio criado nos anos 1940 se tornou Dia dos Povos Indígenas, já que a palavra “índio” cunhada pelos colonizadores portugueses e espanhois é considerada pejorativa por carregar uma ideia eurocêntrica de que todos os povos nativos são iguais. Por sua vez, o termo “indígena” significa “natural do lugar em que vive” e expressa a singularidade de cada grupo. 

Por séculos, a comunidade indígena LGBTQIA+ sofreu com o apagamento. Histórias como a de Tibira do Maranhão, considerada a primeira vítima de homofobia no Brasil, foram ignoradas.

Tibira, termo tupi utilizado para designar aqueles que não se encaixavam nos padrões ocidentais de sexualidade, foi perseguido e torturado sob ordenação do missionário francês Yves d’Évreux, da Ordem dos Capuchinhos, pela prática da “sodomia” e por, segundo ele, parecer “no exterior mais homem”, mas ser “hermafrodita” e ter “voz de mulher”. Embora tenha tentado escapar, o herói foi capturado e executado em praça pública com uma bala de canhão. 

Nos últimos anos, é possível observar o resgate dessa memória na comunidade, com a representatividade de indígenas abertamente LGBTQIA+ que se destacam na política e nas artes. Abaixo, a Híbrida destaca cinco figuras da comunidade para você conhecer e desmistificar a ideia de que não existem gays, lésbicas, trans, bissexuais e queer nos grupos nativos.

5 indígenas LGBTQIA+ que você precisa conhecer

  • Yakecan Potyguara

Aos 26 anos, Jéssica Yakecan Potyguara é uma ativista lésbica que luta pelos direitos dos povos originários. Nascida em Cratéus, no oeste do Ceará, é filha de um pajé da etnia Potyguara, e fundou o coletivo Caboclas para indígenas LGBTQIA+ da sua cidade natal. Yakecan ainda atua como comunicadora na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). 

Além do ativismo, ela também é atriz,e protagonizou o curta-metragem “Notas de Yakecan”, lançado em 2023. Com direção de André Moura, a obra é uma docuficção que narra a relação de Yakecan com seu pai Cícero Potyguara. Enquanto aprende os saberes ancestrais do pajé, ela luta pela defesa do território de sua aldeia e milita em questões de gênero e sexualidade. A jovem também é candidata a vereadora de Cratéus para as Eleições de 2024 pelo PCdoB.

  • Auá Mendes

Artista e designer manauara, Auá Mendes se identifica como travestigênereindígena. Representante do povo Mura, ela já desenvolveu projetos para empresas como Natura, Google Brasil, Nike e Tok&Stok, e tem grafites espalhados pelas ruas de norte a sul do Brasil. Alguns dos mais impactantes foi a obra “Ãgawara-itá mukatúru”, com mais de 30 metros, em um prédio no Bexiga, em São Paulo, e o “Ixé Maku”, também de 30 metros, no bairro de Campina, em Belém.

Nascida em 1999, Auá utiliza sua arte como ferramenta política, ilustrando corpos marginalizados pretos, indígenas e travestigênere. Segundo ela, suas obras são “fragmentos do que não me cabe, do que eu preciso externalizar, do que quero extrair de mim, do meu autoconhecimento, do que vivo, do meu entendimento de corpo território que eu carrego, entendendo minhas cicatrizes e feridas abertas, de que elas têm história e precisam ser faladas, do mais íntimo”.

  • Emerson Pataxó

Com apenas 12 anos, Emerson Pataxó já participava de conferências de jovens e indígenas. Hoje, aos 24, ele se tornou um ativista importante na causa dos povos originários, atuando como presidente da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e Conselheiro Estadual dos Direitos das Crianças e Adolescentes da Bahia, seu estado natal.

Bissexual, Emerson sempre tratou com naturalidade sua orientação sexual em meio à Aldeia Coroa Vermelha, que fica em Santa Cruz de Cabrália, no sul baiano. Sua atuação política pelos direitos dos indígenas, dos LGBTQIA+ e do meio ambiente transformou o ativista em um exemplo para toda a comunidade.

Emerson conversou com a Híbrida sobre seu ativismo e a luta por inclusão de indígenas LGBTQIA+. Leia a entrevista na nossa edição 6, RECOMEÇOS.

  • Katu Mirim

Rapper, cantora, atriz, compositora, diretora e ativista. Não são poucos os adjetivos para usar com Katu Mirim, indígena Boe Bororo que é conhecida por suas letras que abordam temas como política, sexualidade e resgate da ancestralidade. Nascida e criada em São Paulo, Katu também fala sobre a vivência indígena em contexto urbano.

Aos 37 anos, ela se orgulha de ser uma mulher lésbica e faz parte do Coletivo Tybyra, criado em 2019 junto com outros indígenas LGBTQIA+ de diversas etnias. Katu Mirim tem mais de 150 mil seguidores com quem compartilha sua arte, cultura e ativismo. Atualmente, ela está em turnê com o álbum CURA, lançado no início de 2024, e que conta com a participação especial de Taboo, do Black Eyed Peas.

  • Danilo Tupinikim

Cientista político, Danilo Tupinikim é, aos 24 anos, uma referência na luta pela representatividade e respeito dos indígenas LGBTQIA+. Nascido na comunidade de Caieiras Velha, no norte do Espírito Santo, ele passou no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) em 2018 e teve então seu primeiro choque cultural.

“Passei a sair da aldeia diariamente para estudar e, com a mesma frequência, tive contato com a homofobia”, escreveu em um depoimento à Híbrida, publicado em 2020. Leia o texto completo aqui.

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