Híbrida
CINEMA & TV

A reação inaceitável ao primeiro beijo entre dois homens no BBB

Lucas Konka Penteado e Gilbero protagonizaram o primeiro beijo gay do Big Brother Brasil (Foto: Reprodução TV Globo)

Lucas Konka Penteado e Gilbero protagonizaram o primeiro beijo gay do Big Brother Brasil (Foto: Reprodução TV Globo)

O ator e slammer Lucas Koka Penteado desistiu de sua participação no 21º Big Brother Brasil, após sofrer uma série de ataques bifóbicos na festa que aconteceu durante a madrugada deste domingo (7) no reality, após protagonizar com Gilberto Nogueira o primeiro beijo entre dois homens na história do programa. Lucas teve sua sexualidade questionada por outros participantes, inclusive pessoas LGBTQ+, mesmo após dizer que estava nervoso que nunca havia se declarado bissexual publicamente.

Karol Conká, Lumena e Pocah lideraram os ataques ao brother, insinuando que ele havia beijado Gilberto como estratégia de jogo. “Você não é único e especial. não adianta agenciar pauta aqui dentro, tem outras pessoas iguais você. Você está agenciando uma pauta coletiva, uma luta, em prol de um rolê que é seu, individual”, disse Lumena.

Durante os ataques, Lucas respondeu: “Vocês sabem como viver lá fora? Eu não sei. Eu nunca tinha assumido isso aí, mano. Fui na maior humildade perguntar… Aí, essa humilhação eu não sofro. […] Eu não sei ser outra pessoa e não vou viver com outras pessoas que não aceitam eu”. Momentos depois, o participante abandonou a casa. “Eu sou bissexual. Eu sou uma pessoa que ama quem ama”, disse antes. Assista abaixo:

As críticas foram o golpe final em Lucas, que nos últimos dias já vinha sofrendo uma série de humilhações e ataques racistas, tortura psicológica e intolerância religiosa. Durante a festa, ele havia comemorado o beijo com Gilberto em conversa com Karol Conká:

O episódio ainda reflete o preconceito que pessoas bissexuais enfrentam cotidianamente, muitas vezes até por pessoas se dentro da comunidade, invalidando sua orientação sexual e as razões pelas quais não se apresentam imediatamente. Como um jovem negro de periferia, as dores de Lucas são ainda mais potencializadas. Nas redes sociais, alguns usuários inclusive afirmaram que já tinham ficado com Lucas antes do programa e negaram que ele estivesse se aproveitando de uma pauta que não lhe pertence.

Após o episódio, a Frente Bissexual Brasileira emitiu uma nota de apoio ao ex-participante e repúdio à resposta dos seus companheiros de confinamento: “Sabemos que assumir-se em rede nacional, ainda mais sendo uma pessoa famosa, é um processo difícil e que nesse momento o que ele precisava era de acolhimento para entender que esse é um passo importante, que precisa ser dado quando estamos prontos, e que a pessoa terá toda uma comunidade ao seu lado. No entanto, o episódio foi demarcado pela violência e o não lugar de pessoas bissexuais dentro da própria comunidade que faz parte”.

“Um beijo entre dois homens negros foi questionado, enquanto na mesma edição pessoas de gêneros diferentes se beijaram e o beijo não foi criticado, pelo contrário, foi celebrado dentro da casa”, continua a nota. “Lucas, foi acusado por mulheres bissexuais e lésbicas de “agenciar pauta” e de “assumir sua bissexualidade para se promover”. Vivemos em um país extremamente racista e LGBTfóbico, que mata, exclui e discrimina as pessoas por sua raça, orientação sexual e identidade de gênero. O que as pessoas na casa chamam de oportunismo, devemos chamar de coragem. Não é nada fácil assumir ser quem é.”

Ainda de acordo com a Frente Bissexual Brasileira, “o que aconteceu no programa só evidencia que todos os espaços são violentos para pessoas bissexuais, o armário, a sociedade cis heteronomativa e até mesmo o meio LGBT+”. Ao fim do comunicado, a organização ainda reforça que a produção do Big Brother Brasil e da TV Globo teriam responsabilidade em não permitir que ataques do tipo fossem permitidos durante a exibição do programa.

A Aliança Nacional LGBTI também repudiou o comportamento das participantes e, em nota, ofereceu apoio psicológico e jurídico a Lucas: “A bifobia precisa ser discutida e as atitudes dos participantes dessa edição do Big Brother Brasil 2021 precisam ser investigadas nas esferas cível e criminal. Violência, racismo e LGBTfobia, às custas das vulnerabilidades e da exploração das fragilidades das pessoas, em rede nacional, não é entretenimento”.

Nas redes sociais, a corrente de apoio a Lucas é enorme, com mensagens de carinho e afeto que lhe foram negadas dentro da “casa mais vigiada” do Brasil. Em uma mensagem enviada à produção do BBB, Dona Jacira, mãe de Gilberto, se declarou feliz pelo filho e demonstrou apoio a Lucas: “Você é melhor do que tudo aquilo que fizeram com você”.

Assista abaixo ao primeiro beijo gay do Big Brother Brasil. Nós, da Híbrida, desejamos muita força e amor ao Lucas, e reiteramos que o senso de comunidade da população LGBTI+ é construído na base do acolhimento e da união, não da desconfiança e deslegitimação.

Notícias relacionadas

Juíza impede censura de Bolsonaro a séries LGBTs na Ancine

João Ker
5 anos atrás

Marco Pigossi entra para o elenco do spin-off de “The Boys”

Revista Híbrida
3 anos atrás

Como “Renascer” está fugindo do estereótipo LGBT+ na TV

João Ker
5 meses atrás
Sair da versão mobile