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Festival do Rio 2018: “Inferninho” e “Tinta Bruta” se destacam na entrega do Troféu Redentor

Filipe Matzembacher e Márcio Reolon recebem o Troféu Redentor de Melhor Roteiro por "Tinta Bruta", no Festival do Rio (Foto: Rogério Resende | Divulgação)

Diversidade e resistência. Essas foram as palavras mais repetidas durante a cerimônia de premiação do 20º Festival do Rio, que premiou “Ilha”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, como Melhor Longa de Ficção na noite deste domingo, 11, no CCLSR – Cine Odeon NET Claro. A comunidade LBGT+, o protagonismo feminino, a representatividade negra e as produções realizadas fora do eixo Rio-São Paulo estavam presentes não só na programação exibida durante os dez dias do evento, mas principalmente em cima do palco, recebendo prêmios.

A Híbrida fez uma seleção dos destaques LGBT+ da premiação. Confira abaixo:

O grande vencedor da noite apresentada por Eduardo Moscóvis e Dira Paes foi “Tinta Bruta” (relembre aqui a entrevista com os diretores e a crítica do filme). O longa dos gaúchos Filipe Matzembacher e Márcio Reolon levou quatro troféus: Melhor Longa de Ficção pelo Júri Oficial; Melhor Roteiro; Melhor Ator para Shico Menegat, que dividiu o prêmio com Valmir do Côco (“Azougue Nazaré”); e Melhor Ator Coadjuvante, para Bruno Fernandes. A equipe dedicou todos os prêmios recebidos à comunidade LGBT+ em discursos emocionados. Shico, por sua vez, disse que aprendeu muito com seu personagem: “Ele resistia, reagia e estava sempre de cabeça erguida. E é assim que toda a comunidade LGBTQI+ se comporta e vai continuar resistindo”.

Elenco de "Tinta Bruta" se destaca durante entrega do Troféu Redentor no 20º Festival do Rio (Foto: Rogério Resende | Divulgação)
Elenco de “Tinta Bruta” se destaca durante entrega do Troféu Redentor no 20º Festival do Rio (Foto: Rogério Resende | Divulgação)

De fato, “Tinta Bruta” é um filme de resistência (com afeto) que chega às telas em um momento necessário. Existe uma grande representatividade em ver um longa de temática homoafetiva, produzido por uma equipe tão diversa, como o grande vencedor de um dos maiores festivais de cinema do país. Para quem não conseguiu assistir ao filme no festival, a estreia em circuito comercial é no próximo dia 6, e a Híbrida recomenda!

Ao todo, esta edição do Festival do Rio contou com 39 produções abordando as questões da diversidade de gênero, provenientes de várias partes do mundo. E este é o quinto ano consecutivo que o festival promove o Prêmio Félix – dedicado aos lançamentos de temática LGBTQI+.

Antes do anúncio dos filmes vencedores deste ano, o Prêmio Suzy Capô de Personalidade Félix do Ano foi concedido a Saulo Xavier de Brito Amorim, presidente da Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH). O advogado subiu ao palco do Odeon acompanhado de seu marido e de seu filho, sob fortes aplausos da plateia. As dificuldades que permearam a consolidação de sua família foram as motivações para o engajamento voluntário de Saulo em favor de outras famílias LGBTs.

Desde 2016, com a atuação em âmbito nacional da ABRAFH, o advogado tem se dedicado a promover a visibilidade positiva de famílias homotransafetivas e em articular redes de solidariedade com a sociedade civil. O objetivo é garantir que os avanços conquistados ao longo dos últimos anos não sofram retrocessos com a onda de conservadorismo e preconceito que tem ganhado força nos últimos anos, especialmente nas eleições de 2018.

Saulo Xavier de Brito Amorim recebe o Prêmio Suzy Capô durante o 20º Festival do Rio (Foto: Rogério Resende | Divulgação)

Dando sequência aos filmes, o Júri do Prêmio Félix destacou a excelente qualidade das produções apresentadas este ano. Os jurados Adriana Dutra, Claudia Saldanha, Felipe Sholl e Vicente de Mello também chamaram atenção para a dificuldade de produzir obras “frente à grande campanha de ódio que assola o país”.

Os troféus do Prêmio Félix 2018 foram para “Sócrates” (Alex Moratto), como Melhor Longa Ficção; “Obscuro Barroco” (Evangelia Kranioti), como Melhor Longa Documentário; “Shade – Entre bruxas e heróis” (Rasko Miljkovic) levou o Prêmio Mostra Geração; e o Prêmio Especial do Júri foi para “Inferninho” (Guto Parente e Pedro Diogenes), que também ganhou o Prêmio Especial do Júri Novos Rumos.

Em seu discurso de agradecimento, Guto lembrou o ódio e a intolerância que “grupos já historicamente tão violentados e oprimidos” vêm sofrendo. Na última quinta, 8, o diretor conversou com a Híbrida e afirmou que considera o atual cinema LGBT brasileiro “uma força enorme e que, agora, tem uma missão ainda maior neste cenário trágico que estamos entrando. É uma missão de resistência e de distribuição de amor. Amor é resistência”.

No Festival do Rio, Guto Parente o Prêmio Especial do Júri Novos Rumos por “Inferninho” (Foto: Rogério Resende | Divulgação)

Inferninho é, precisamente, uma história de amor entre personagens improváveis. Deusimar (Yuri Yamamoto) é a dona do “Inferninho”, um bar e refúgio frequentado pelos tipos mais inusitados. Ela é uma mulher trans, que sonha em deixar tudo pra trás e ir embora para um lugar distante, enquanto Jarbas (Demick Lopes) é o marinheiro que acaba de chegar à cidade e quer fincar raízes. O sentimento que nasce entre os dois transforma completamente o cotidiano do bar e a vida de seus funcionários: Luizianne (Samya de Lavor), a cantora; Coelho (Rafael Martins), o garçom; e Caixa-Preta (Tatiana Amorim), a faxineira.

A história se baseia no sentimento de autocuidado estabelecido entre os personagens. Não sabemos o que se passa no mundo lá fora, mas dentro do bar prevalece a dinâmica da convivência e da naturalidade. Guto explica a intenção por trás dessa dinâmica: “Deveria ser óbvio que as pessoas podem ser o que elas quiserem e viver da maneira como querem. O filme foi feito pensando neste universo em que as pessoas existem como bem entendem, em um ambiente de respeito mútuo, onde o amor é possível. E é esse amor que resiste à ameaça que vem de fora”.

Yuri Yamamoto como Deusimar, a dona de “Inferninho” (Foto: Reprodução)

Para o diretor, a aceitação que “Inferninho” prega são lutas atemporais, que já existem há gerações: “o filme nunca foi pensado como uma metáfora ou quis dar conta de contextos políticos, porque essa questão não vem de agora. Falarmos das liberdades e da possibilidade do respeito mútuo é um tópico que carregamos sempre”.

Com chegada ao circuito comercial prevista para o próximo semestre, Guto deseja que o longa seja visto não só pelo público dos festivais, mas também por cinéfilos mais conservadores: “Tenho esperança de que o filme consiga sensibilizar aqueles que estão ‘em cima do muro’ e tocar os corações dos indecisos”.

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