Revista Híbrida
Cinema & TV

Pabllo Vittar sobre programa no Multishow: “Queremos conscientizar as pessoas”

Pabllo Vittar durante as gravações do primeiro episodio de seu programa no Multishow (Foto: Guto Costa | Divulgação Multishow)

O Multishow exibe hoje o primeiro episódio de Prazer, Pabllo Vittar”, um novo programa de variedades que mistura música, humor, entrevistas e três spinoffs para a web, apresentado pela drag queen mais famosa do Brasil. Com cinco episódios que vão ao ar toda terça-feira, às 21h, a atração ainda conta com uma leva de participações que prometem mostrar toda a versatilidade da cantora e, agora, apresentadora, que mais uma vez faz história para a representatividade LGBT no país que mais nos assassina em todo o mundo.

“Nós vamos tocar em assuntos necessários, mas não diria que polêmicos. O real motivo de fazermos esse programa é levarmos a conscientização para a casa das pessoas e mostrar que nós, LGBTs, podemos fazer o que a gente quiser”, explicou Pabllo Vittar nos bastidores de sua primeira gravação, pouco antes de subir ao palco.

O real motivo de fazermos esse programa é mostrar que nós, LGBTs, podemos fazer o que a gente quiser

Gravado na Barra da Tijuca, o programa terá três cenários na TV: no primeiro, Pabllo irá apresentar algumas músicas suas e covers ensaiados especialmente para a atração; no segundo, há uma espécie de closet, onde a drag se desmonta em frente às câmeras; no terceiro, ela irá receber convidados e debater temas como família, ídolos, bandeiras, personalidade e futuro.

A primeira amiga de Pabllo a sentar no sofá é Preta Gil, que vem enaltecendo a artista desde o início de sua carreira. Preta chega acompanhada do filho, Francisco, para falar sobre família. “Vamos mostrar um pouco da amizade que surge nos bastidores e dos assuntos que conversamos às vezes sobre as nossas vidas – coisas que ninguém fala, mas que são muito relevantes”, avisa Pabllo, enquanto faz mistério sobre os próximos convidados.

Preta, o filho Francisco e a neta Sol de Maria serão os primeiros convidados de "Prazer, Pabllo Vittar" (Foto: Reprodução Instagram)
Preta, o filho Francisco e a neta Sol de Maria serão os primeiros convidados de “Prazer, Pabllo Vittar” (Foto: Reprodução Instagram)

O objetivo principal do programa é que a apresentadora se sinta à vontade para falar tanto com os artistas quanto com o público “como se estivesse em casa”. “As pessoas sabem muito da Pabllo Vittar, do que elas veem nos palcos e nas entrevistas. Mas o Phabullo Rodrigues da Silva mesmo… Eu sou muito tímido, então quero me abrir mais com vocês. De menino, realmente, eu sou mais reservado. Fico até nervoso quando alguém me para no aeroporto e eu estou desmontada”, ela explica com bom humor.

E, realmente, a essa altura a Pabllo já provou para o público brasileiro que atingiu um status de diva pop como poucas no país conseguiram até então: com singles cuidadosamente escolhidos, ela mostrou toda sua versatilidade musical, indo do funk ao brega e à eletrônica, mantendo sempre o equilíbrio entre o comercial e aquilo que soa genuíno em sua voz. A fórmula foi fazendo sucesso e, nos últimos 13 meses desde que lançou seu début, “Vai Passar Mal”,  a cantora fez com que uma drag queen dominasse as TVs, o rádio, a internet e, talvez o mais importante, rodas de conversa pelo país inteiro.

Pabllo Vittar sobre seu novo programa no Multishow: “Eu sou muito tímido, então quero me abrir mais com vocês” (Foto: Guto Costa | Divulgação Multishow)

Com o programa, essa dominação deve aumentar ainda mais, e aqui é inevitável pensar em como o público LGBT+ deve se sentir ao ter pela primeira vez em rede nacional um programa basicamente pensado cuidadosamente para si. Claro, já tivemos outros LGBTs em posição de destaque na TV, vide Fernanda Gentil à frente do “Esporte Espetacular” e as drag queens Penelopy JeanRita von Hunty e Ikaro Kadoshido “Drag Me Brasil”, no E!. 

Mas é inegável que “Prazer, Pabllo Vittar” irá falar diretamente com o público jovem, que constitui não só a maior parcela de audiência da emissora, mas também da base de fãs da apresentadora. Até porque, o principal ponto em comum que pode-se perceber entre a Pabllo dos palcos e o Pabllo que vez ou outra dá as caras desmontado no Instagram é a esponatenidade genuína com que ambas as personalidades se posicionam em frente a uma câmera.

Nas gravações, por exemplo, quando foi perguntada pela enésima vez se é O Pabllo ou A Pabllo, a artista repetiu que não se importa com o pronome usado para se referir a ela, mas completou em tom de brincadeira: “Mas eu passei uma hora na frente do espelho e você vai me chamar de ‘ela’ sim, porran, eu tô bonita!”.

Em “Prazer, Pabllo Vittar”, a cantora se divide entre números musicais, entrevistas e quadros de humor (Foto: Guto Costa | Divulgação Multishow)

“Eu sou uma pessoa muito verdadeira, que sempre quis muito isso tudo. Então eu passo muita verdade quando canto e falo”, ela explica, ciente de que esse novo destaque na carreira pode e deve reverberar entre os jovens LGBTs do país. “Esse é o sonho de uma criança lá do interior do Maranhão, que hoje se tornou realidade para muitas outras crianças que vão poder acreditar nos seus sonhos também. É isso que me deixa forte para continuar fazendo o que eu faço, mesmo com tanto ódio”, conta.

O ódio ao qual ela se refere é a quantidade de haters que surgem quase que semanalmente na internet, divulgando fake news sobre a cantora e tentando cristalizar em cima de sua imagem o “fim da família tradicional brasileira”. Afinal, quem ainda não teve o desprazer de receber a famosa corrente do “Dessa vez a Pabllo Vittar foi longe demais!” que agradeça pela sensatez dos seus contatos.

Por sinal, um dos spinoffs para a web irá abordar exatamente esses tipos de comentários. Em “Destilando haters”, Pabllo irá dividir umas taças de “bons drink” (sic) com Aretuza Lovi, Gloria Groove, MC Pocahontas, Lexa, Gominho e Preta Gil, enquanto leem a falta de noção alheia no mundo online. “Não é de agora que eles falam isso e eu adoro, já estou preparada. Eu amo os haters, porque eles dão audiência! Quer falar mal? Só usa a hashtag do programa”, ri a apresentadora, antes de voltar para o tom sério e afirmar que, às vezes, é inevitável não ficar magoada com o que lê a seu respeito.

Eu amo os haters, porque eles dão audiência! Quer falar mal? Só usa a hashtag do programa

“Não vou dizer que não sinto, porque é muito difícil você fazer um trabalho e as pessoas irem lá te menosprezar por isso. Eu não gosto de um monte de coisa, nem por isso vou lá jogar ódio [no trabalho dos outros]. Mas hoje em dia sou muito blindada quanto a isso. Eu sei o que estou fazendo, a consistência do meu trabalho e o quanto eu batalhei pra estar aqui”, afirma.

A essa altura, há quem já comece a dizer que o programa será parecido com os que Anitta apresenta no mesmo canal, o “Música Boa” e o mais recente, “Anitta entrou no grupo”. Mas Pabllo é rápida e certeira em, com razão, afastar as comparações: “A Anitta já é quase dona do Multishow, eu tô estreando. Eu sou drag queen, ela é mulher cis, então são vibes diferentes e eu vou levar outro tipo de entretenimento para a casa das pessoas. Vai rolar musica também, mas do meu jeito”.

Em “Prazer, Pabllo Vittar”, a drag queen irá apresentar numeros musicais de seus próprios hits e outros covers pensados especificamente para o programa, como “Toxic”, de Britney Spears (Foto: Guto Costa | Divulgação Multishow)

“Do seu jeito” significa que, ao invés de se apresentar com uma banda e um time de convidados a cada programa, Pabllo irá mostrar seu carisma, singularidade, coragem e talento através de números cuidadosamente coreografados, com dançarinos e no melhor estilo diva pop que ela mesma já vem fazendo e os LGBTs adoram. Para o primeiro episódio, por sinal, ela preparou um cover do clássico“Toxic”, de Britney Spears, em uma versão meio cabaré meio tecnobrega, que provavelmente vai deixar os fãs da Princesa do Pop sem fôlego. *vai passar maaal*

Essa é mais uma prova da diferença que faz ter um LGBT pensando seu próprio programa voltado para jovens. Qualquer pessoa que tenha crescido entre os anos 1990 e 2000, inevitavelmente precisava zapear entre MTV, Multishow e Bis para ter acesso a esse tipo de conteúdo musical na era pré-Youtube, fosse em forma de clipes ou de performances. Pabllo, por fazer parte desse público, sabe bem o impacto que isso pode ter tanto nos espectadores quanto em sua própria marca: “Eu gosto desses programas que falam diretamente com o pessoal jovem, onde a gente pode se comunicar da nossa maneira. Acho isso mais natural”.

 

A jogada de mestre ainda é complementada pelo quadro online “Dancing Queens”, onde Pabllo e seus dançarinos irão ensinar as coreografias apresentadas no programa, resgatando mais uma vez a memória do pop 2000, quando divas como Britney, Jennifer Lopez, Madonna, Pussycat Dolls e Beyoncé dominavam as paradas de clipes com megaproduções coreografadas, que mais tarde eram absorvidas pelos fãs e regurgitadas em festas e recreios. (O millenial que nunca tentou gravar a sequência de “Single Ladies” ou de “I’m a Slave 4 U” que atire a primeira pedra.)

Mas ainda há mais: outro quadro específico para a internet será o “Bem menininha”, apresentado por Pabllo ao lado da Blogueirinha de Merda e de John Dropscom os três ensinando dicas de maquiagem, looks, carões e closes. Se você conhece o trabalho das duas influencers, e é muito provável que conheça mesmo sem saber, já dá para ter uma ideia dos memes e gargalhadas que vão surgir a partir disso.

No quadro “Bem menininha”, Pabllo Vittar dará dicas de maquiagem, looks e close com Blogueirinha de Merda (foto) e John Drops (Foto: Divulgação)

Mesmo que mire em um público mais abrangente, “Prazer, Pabllo Vittar” já nasce de forma definitva como o programa que finalmente irá levar às casas de milhares de brasileiros a cultura dos LGBTs brasileiros, transmitida por uma de suas maiores porta-vozes. A experiência de ver nossas gírias, nossas discussões, nossos ídolos e nossas lutas tratadas com naturalidade na TV, e não como algo exótico ou didático, é um marco inegável e deve sim ser celebrado. Como a própria disse, “ainda falta que o mundo coopere e seja mais tolerante, mais respeitoso com as pessoas. A Pabllo Vittar me dá isso: autonomia para eu fazer o que eu quiser, e voz, de alguma forma”.

E ah, enquanto o “Prazer, Pabllo Vittar” terá apenas cinco episódios, os fãs podem ficar tranquilos que ela não deve parar tão cedo: os preparativos para o 2º álbum de inéditas da cantora estão a todo vapor e ela volta ao estúdio para gravar os vocais oficiais do disco assim que o programa terminar. A previsão de lançamento é para ainda esse ano.

Notícias relacionadas

Os melhores filmes LGBT+ no Festival do Rio

João Ker
7 anos atrás

Cinema brasileiro LGBTI+ faz sucesso no Festival Pink Apple, da Suíça

Humberto Moureira
3 anos atrás

Vitor Fadul quer “desafiar estigmas” do autismo em seu 1º disco, “PANAPANÁ”

Livia Muniz
1 ano atrás
Sair da versão mobile