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Silvero Pereira comenta nova trama de Zaqueu no remake de “Pantanal”

Silvero Pereira fala sobre a nova abordagem à história de Zaqueu no remake de "Pantanal" (Foto: Rafael Monteiro | Revista Híbrida)

Silvero Pereira fala sobre a nova abordagem à história de Zaqueu no remake de "Pantanal" (Foto: Rafael Monteiro | Revista Híbrida)

Silvero Pereira retorna este ano ao horário nobre da TV Globo, após o sucesso que alcançou interpretando a dualidade de Nonato/Elis Miranda em A Força do Querer (2017). Agora, o ator dá vida a Zaqueu, o mordomo que chega na segunda fase de Pantanal para trabalhar na fazenda de José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira) e se apaixona pelo peão heterossexual Alcides (Juliano Cazarré).

Na novela, que já tem quebrado recordes de audiência no horário nobre, o ator promete trazer novamente questões importantes sobre o universo LGBTI+ para a tela dos brasileiros. Mas ao contrário da história original escrita por Benedito Ruy Barbosa, na qual Zaqueu chegava ao  Pantanal e sofria incontáveis situações e agressões homofóbicas, a nova versão promete uma abordagem diferente.

“Não podemos, hoje, seguir essa linha. Isso seria desrespeitoso e atrasado com os avanços, o conhecimento e a luta que nossa comunidade LGBTQIAP+ vem construindo”, conta Silvero Pereira, em entrevista exclusiva à Híbrida.

Uma das principais alterações na versão criada por Bruno Luperi (neto do autor original) é a forma didática com que a orientação sexual de Zaqueu será abordada. O roteiro também foi adaptado em outros pontos, como na exclusão das falas e ofensas homofóbicas direcionadas a Joventino Leôncio Neto (Jesuíta Barbosa). No folhetim de 1990, o personagem causava “desconfiança” sobre sua heterossexualidade por ser um rapaz da cidade grande desacostumado aos modos do Pantanal.

Os fãs de Silvero Pereira, entretanto, podem ficar tranquilos e sossegados que além da dose diária na novela, o ator também está com dois projetos no cinema. Em Me tira da mira (Hsu Chien), exibido hoje nas principais salas do Brasil e capitaneado por Cléo, Fiuk e Fábio Jr., ele dá vazão à sua veia cômica com o traficante Ramirez.

No outro lado do espectro cinematográfico, é Silvero quem interpreta, declama e se deleita na poesia de Belchior – Apenas um coração selvagem, documentário de Natália Dias e Camilo Cavalcanti que mergulha na vida e obra do artista cearense. “Ele é um gênio na construção de arte e política”, comenta o ator, nascido em Mombaça, a quase 300 quilômetros da capital Fortaleza.

Abaixo, leia a entrevista completa com Silvero, na qual ele fala sobre todos esses projetos. E para quem quiser mais, sugiro ainda visitar a nossa 7ª edição, Movimento, também estrelada pelo ator (por aqui já espalhei alguns spoilers do ensaio).

HÍBRIDA: Como você chegou a ser escalado para o remake de Pantanal? E o que você lembra que mais te marcou na versão original da novela?

SILVERO PEREIRA: O convite veio por parte do diretor Rogério Gomes. Eu estava trabalhando em Vitória quando recebi a ligação com a proposta. Já havíamos trabalhado em A Força do Querer. Acho que o mais marcante era o universo místico da novela e as belezas naturais. Eu era completamente fã da história da mulher que vira onça.

H: Na versão original, o Zaqueu, seu personagem, sofria muito com falas e ataques homofóbicos, algo que será abordado de outra maneira nessa releitura. O que achou dessa decisão e de que forma acredita que ela impactará no público atual?

SP: Há 30 anos, vivíamos um período bem delicado sobre questões de diversidade sexual, sendo praticamente motivo de piada. Não podemos, hoje, seguir essa linha. Isso seria desrespeitoso e atrasado com os avanços, o conhecimento e a luta que nossa comunidade LGBTQIAP+ vem construindo. Acho que essa versão vem com o objetivo didático, reflexivo, fazendo o público se questionar de ações de violência verbal, comportamental.

H: Consegue enxergar alguma semelhança entre a sua história pessoal e a do Zaqueu? Se sim, como isso ajudou na composição do personagem?

SP: Sim! Sou quarentão (nasci em 20 de junho de 1982) e sofri muito bullying quando criança e adolescente por ser mais afeminado do que os padrões masculinos. Então, tem muito das ações de memória emotiva para a realização de algumas cenas.

H: Por sinal, você compartilhou um pouco de como foi o treino de montaria para esse papel. Como tem se saído nessas cenas mais físicas como peão? Qual o maior desafio durante as filmagens?

SP: Tenho me saído muito bem. Estou amando a relação com a natureza e com cavalos. Aprender equitação tem sido incrível. Ainda não fui pro Pantanal, logo, ainda não sei como será gravar no calor e no meio das ações naturais.

Silvero Pereira fotografado para a edição 7 da Híbrida, “Movimento” (Foto: Rafael Monteiro | Revista Híbrida)

H: Zaqueu também protagoniza uma trama de amor não correspondido com Alcides, vivido por Juliano Cazarré. Como tem sido construir essa relação com o Juliano?

SP: Ainda não gravei com Juliano. Já trabalhamos juntos em 2012, no filme Serra Pelada, e ele é muito gentil e concentrado. Logo, acho que teremos uma química bem bacana e cuidadosa nessa relação.

H: Você participa do documentário Belchior – Apenas um coração selvagem, recitando alguns poemas e composições de autoria dele. Como foi mergulhar nas palavras do conterrâneo cearense?

SP: Sou muito fã de Belchior, considero um dos maiores compositores brasileiros. Acho suas letras atemporais e que atravessam o lugar artístico em direção a fortes críticas sociais, políticas. O filme é lindíssimo, é uma grande honra estar nessa produção.

H: E de que forma diria que a arte de Belchior se faz necessária hoje, depois de tantos anos que foi lançada?

SP: Não se pode ouvir Belchior de qualquer forma. Ele penetra nas suas questões pessoais e sociais. Sua voz e suas letras são, como o próprio diz, “feito faca” que corta e sangra. Belchior é um gênio na construção de arte e política.

H: Outro projeto seu que teremos esse ano é o filme “Me Tira da Mira”, onde você faz um dos vilões. O que te atraiu nesse personagem?

SP: Ramirez é completamente diferente de tudo que já fiz. É vilão e é comédia, coisas que sempre quis fazer, além do elenco maravilhoso. Estou muito feliz com esse trabalho.

H: Você é bastante ativo nas redes sociais e está sempre produzindo esquetes, paródias, coreografias, imitações etc. Em sua coluna no Diário do Nordeste, entretanto, você questionou até que ponto o engajamento e número de seguidores têm se tornado quase obrigatórios para os atores. Como é a sua relação com essa nova “demanda”? Já se sentiu em algum momento “obrigado” a produzir conteúdo?

SP: Minha última coluna no Diário do Nordeste não condena a entrada de influencers no mercado audiovisual ou o movimento contrário. Acho que o grande problema é não ter responsabilidade profissional com a área em que esteja trabalhando. Eu amo redes sociais, mas não acho que sirvam apenas para entretenimento ou futilidade. É preciso saber aproveitar esse engajamento para se posicionar e educar também. Não me sinto obrigado a engajar para trabalhar. Faço porque gosto e me divirto junto, porém percebo claramente o mercado muito preocupado com escalação a partir de números, e é isso que devemos criticar.

H: No ano passado, foi anunciado que você viveria o Clodovil [Hernandes] em uma cinebiografia. Em que pé anda o projeto? Já tem alguma previsão de quando o trabalho chegará ao público?

SP: Estou pra estrear a série Nada Suspeitos, pela Netflix, e com Pantanal fico gravando até outubro. A série do Clô está em pré-produção e só iniciaremos preparação e gravações no ano que vem.

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