Com muito bom humor, glamour e um look “de milhões” com dois quilos de cabelo, em alusão à sua carreira como produtora de laces, a drag queen Halessia foi de longe uma das mais bem vestidas durante a última edição do anual Baile da Vogue. Não era de se esperar, uma vez que a maquiadora e agora modelo fez parte da edição histórica da revista, estampando a capa da bíblia da moda ao lado de nomes como Pabllo Vittar, Gloria Groove e Bianca DellaFancy.
Mais do que a Vogue, Halessia tem desfilado pelas passarelas da Casa de Criadores e da São Paulo Fashion Week, por onde trabalhou com nomes como Rober Dognani, Walério Araújo e LED. Nada mal para o pequeno Felipe Cavina, que durante a infância em Florianópolis gostava de andar pela casa enrolado no lençol e com a toalha na cabeça, sonhando em um dia ser como as supermodels Naomi Campbell, Adriana Lima e Gisele Bündchen.
Hoje, com a Halessia, ele está chegando lá. “Quando fui para a minha primeira balada, aos 18 anos, vi uma drag loira que era como eu queria ser. Na mesma época, comecei a assistir à sexta temporada de RuPaul’s Drag Race. Comecei a ver mais esse universo, como funcionava, essas transformações, e comecei a testar escondido com as amigas”, lembra.
As montações escondidas eram feitas no banheiro até que veio a coragem para apresentar Halessia ao mundo em uma festa de Halloween, em Florianópolis. “Comecei a ter banhos demorados (risos) e ficava só me maquiando, depois tirava tudo. Na minha primeira saída oficial, eu nem tinha peruca ainda porque comprei uma na China e não chegou ao tempo”, conta.
Halessia explica que por mais de um ano usou a mesma peruca sintética, até que a mesma curiosidade despertada com as maratonas de RuPaul fez com que ela se aprofundasse não só na busca de tutoriais que ensinassem a pintar o próprio rosto, mas também a produzir as perucas que se tornaram uma de suas marcas registradas. Hoje, as laces que levam sua assinatura são usadas por gente do calibre de Luísa Sonza, Anitta e Gloria Groove.
“Minha Mãe Drag é o youtube, porque meio que aprendi tudo lá. Maquiagem e peruca, todos os detalhes vieram de lá”, explica Halessia. “Não era uma meta nem um plano, mas sempre quis fazer tudo da forma mais impecável. Meu sonho desde o início era ter uma lace de cabelo humano e, quando fiz a primeira, as outras drags e inclusive as celebridades de onde eu ia começavam a ficar de olho e querer o cabelo igual ao mesmo, pelo acabamento, qualidade e textura. Comecei a produzir e montei minha barraquinha pela demanda.”
O mergulho de Halessia na moda promete explorar outros ares agora que a drag entrou para o casting da WAY Model, a mesma agência que cuida das carreiras de Sasha Meneghel, Carol Trentini e Shirley Mallmann. “Tem sido um sonho, porque desde sempre sonhava em ser modelo, antes mesmo de começar a me montar. Inclusive, já caí em agências furadas de fazer book etc. Só depois que vim pra São Paulo que comecei a me desenvolver mais”, conta.
Por ser um corpo dissidente que apresenta imagem feminina, mas com medidas consideradas masculinas, Halessia conta que a carreira na moda traz alguns novos desafios: “Anteriormente, por ser muito magro, não passava dificuldade porque a maioria das roupas 38 me serviam. Hoje, meu corpo tá mudando um pouco com a academia, por exemplo, e agora estou vendo a diferença”.
Fã de Versace e Alexander McQueen, ao mesmo tempo em que veste com certa regularidade peças da Prada, Gucci e Balenciada, a drag não se deixa abalar por um ou outro percalço e faz o que sabe de melhor: cria o que precisa. “Hoje, vejo essa dificuldade de achar peças femininas que me caibam. Mas quando é algo muito específico, eu mesma crio.”