A Federação Internacional de Natação (Fina) anunciou esta semana que não vai aceitar a participação de mulheres transexuais que tenham completado a transição depois dos 12 anos. A entidade acredita que passar pela puberdade masculina traria vantagens para atletas trans. No caso dos homens transexuais, segue permitida a transição em qualquer fase da vida.
A decisão vai restringir as competições oficiais para a maior parte das atletas trans, uma vez que quase todos os países sequer permitem transicionar de gênero em idade tão jovem. A própria Associação Mundial para Saúde de Transgêneros recomenda o início do processo apenas a partir dos 14 anos.
“Isso não quer dizer que as pessoas são encorajadas a fazer a transição aos 12 anos. É o que os cientistas estão dizendo, que se você faz a transição após o início da puberdade, você tem uma vantagem, o que é injusto. Eles não estão dizendo que todos devem fazer a transição aos 11 anos; isso é ridículo. Você não pode fazer a transição até essa idade na maioria dos países, e espero que você não seja encorajado a fazer isso. Basicamente, o que eles estão dizendo é que não é viável para pessoas que fizeram a transição para competir sem ter uma vantagem”, disse James Pearce, porta-voz do presidente da Fina, Husain Al-Musallam.
O estudo que embasou a decisão da Fina foi realizado pelo Science Group e votado durante o Congresso Geral Extraordinário da Fina, que acontece em Budapeste, simultâneo ao Mundial de Esportes Aquáticos. Cerca de 71% das 152 federações participantes votaram a favor das medidas.
As novas regras da Fina valem para competições de natação, polo aquático, nado artístico, maratona aquática e saltos, mas também podem abrir precedentes para outros esportes, uma vez que o Comitê Olímpico Internacional (COI) determinou ainda no ano passado que cada modalidade tem autonomia para definir suas próprias regras para a participação de atletas transexuais.
A Fina também aprovou a criação de uma equipe para estabelecer regras para uma nova categoria na Natação, a qual seria aberta para a participação de mulheres trans. No entanto, muitos entendem que essa seria apenas uma nova forma de segregação das esportistas.
Grupos de defesa de atletas LGBTQIA+, como a Athletes Ally, afirmam que a política adotada pela Fina é “discriminatória, prejudicial e não-científica”, já que não existem pesquisas suficientes que apontem a vantagem de atletas trans em competições de alto rendimento.
Uma das atletas afetadas pela novas regras é a nadadora americana Lia Thomas, que se tornou a primeira campeã trans da National Collegiate Athletic Association (NCAA), a liga universitária dos Estados Unidos. Ela competiu durante três anos na equipe masculina da Universidade da Pensilvânia antes de transicionar e entrar para categoria feminina. Thomas sonhava com as seletivas para as Olimpíadas de Paris em 2024, mas agora não poderá disputar as principais competições de natação. Ela não comentou sobre a decisão da Fina.