A National Hockey League (NHL) decretou a proibição do uso de elementos a favor dos LGBTQIA+ em partidas oficiais de hóquei nos Estados Unidos. A nova política é algo jamais visto nos esportes do país e encarada como um enorme retrocesso para a comunidade a nível continental, já que a NHL também regula as equipes do Canadá.
Entre os itens banidos pela federação, estão camisas com as cores do arco-íris e as tapes, que são fitas especiais usadas nos tacos para absorção de impacto. Por isso, nos últimos dias, viralizaram nas redes uma série de argumentos contra a proibição da #PrideTape usadas pelos jogadores.
Em junho, o dirigente da NHL, Gary Bettman, já havia dito aos times que usar símbolos e camisas com as cores da bandeira LGBTQIA+ era uma “distração” no hóquei.
“Eu sugeri que seria apropriado para os clubes não trocarem de camisas (coloridas) durante o aquecimento porque isso se tornaria uma distração. Apesar do fato de todos os nossos clubes, de uma forma ou de outra, acolherem e homenagearem vários grupos ou causas, preferimos que isso receba uma atenção apropriada e não seja uma distração”, disse Bettman ao Sportsnet. Agora, a NHL bane completamente os itens LGBTQIA+ usados por atletas.
Para entender o impacto da medida, o hóquei no gelo é simplesmente o quinto esporte mais popular nos EUA, atrás apenas do futebol americano, basquete, futebol e beisebol, segundo dados do Statista Global Survey, divulgado em 2022. Considerando que o hóquei acaba um pouco restrito aos estados mais frios, na Nova Inglaterra, Noroeste e Grandes Lagos, ainda assim é bem relevante.
Por sua vez, a NHL é o quinto campeonato esportivo mais visto entre os estadunidenses, depois da NFL (futebol americano), NBA (basquete), MLB (beisebol) e MLS (futebol), que cresceu muito nos últimos anos e ultrapassou a NHL após a chegada de grandes astros internacionais como David Beckham, Thierry Henry, Kaká e, mais recentemente, Lionel Messi.
Alguns jogadores de hóquei criticaram a proibição da NHL. Scott Laughton, capitão alternativo do Philadelphia Flyers, afirmou que “provavelmente vão continuar me vendo usar a pride tape de qualquer jeito”, aproveitando que os dirigentes ainda não divulgaram se vão punir os atletas que boicotarem a medida arbitrária.
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Em uma carta aberta divulgada nesta segunda-feira (16), o jogador Adam Fryer chamou a medida de “totalmente absurda” e que “machuca”. “A Pride Tape exemplifica essa habilidade de compartilhar um momento de expressão individual, significando não apenas aquilo que o atleta defende, mas também criando um ambiente de inclusão onde todos se sentem confortáveis, independente de quem são.”
“Os jogadores deveriam ter a liberdade de expressar seus valores e crenças de qualquer forma que escolherem. Quando eu era mais jovem, tive colegas de time que usavam fitas especial – alguns preferiam azul, vermelho ou até mesmo fitas com desenhos impressos. Isso tinha significado pessoal para eles, fosse uma cor ou um símbolo”, escreveu.
Já o defensor do Minnesota Wild, Jon Merrill analisou os argumentos da organização: “Ninguém quer ser uma distração para o time. Mas não consigo ver como distração alguém usar uma fita durante 15 minutos no aquecimento. Não faz sentido para mim”.
Não é de hoje que o hóquei está no centro do debate sobre direitos e apoio à comunidade. Em 2017, a NHL lançou a campanha “Hockey Is For Everyone”, que em português significa “Hóquei é para todos”, na qual buscava promover a diversidade e inclusão entre todos os gêneros, orientações sexuais, etnias e classes sociais.
Já no ano passado, um jornalista gay do Canal CBC, David Heroux, publicou uma reportagem mostrando que 3,85% dos funcionários da NHL se consideravam lésbicas, gays, bissexuais ou de outra orientação sexual diferente da heterossexual.
No entanto, o ano de 2023 se mostrou um enorme retrocesso para os LGBTQIA+ no hóquei. A única grande liga dos EUA que nunca teve um jogador ou atleta abertamente gay mostrou que, definitivamente, não é para todos.