Híbrida
HISTÓRIA QUEER

A homofobia de James Webb, homenageado pela Nasa

O cientista James Webb, homenageado no novo telescópio da Nasa, é acusado de ter implementado políticas homofóbicas durante sua administração à frente da agência (Foto: Cortesia da Nasa / Revista Híbrida)

As primeiras imagens do espaço feitas pelo novíssimo telescópio James Webb Space Telescope e divulgadas na última semana pela Nasa cativaram o mundo e infestaram as redes sociais. Porém, dentro da comunidade científica, uma problemática tem se imposto desde que o instrumento orçado em US$ 10 bilhões foi divulgado: o desejo de que ele tivesse outro nome e não homenageasse um homem cujo histórico de LGBTIfobia é difícil de ignorar.

James Edwin Webb, nascido em 1906 na Carolina do Norte, Estados Unidos, foi um militar de carreira e subsecretário de Estado entre 1949 e 1952 e o segundo diretor de administração na história da NASA ao longo da década seguinte – mesma época em que pessoas LGBTI+ enfrentaram duras políticas de perseguição no país e na agência por serem consideradas um perigo à soberania dos EUA.

Tal período, conhecido popularmente como Lavender Scare [Susto de Lavanda], envolveu a demissão sistemática de trabalhadores gays e lésbicas do serviço público estadunidense, em paralelo à disseminação de que a comunidade LGBTI+ fosse moralmente falha, depravada e perigosa. Perguntas tipo “você se identifica como homossexual” ou “já teve relações sexuais com pessoas do mesmo sexo” eram disparadas de forma institucional para encontrar e eliminar funcionários “suspeitos” de tal conduta.

Webb, que esteve à frente da NASA ao longo de sete anos, foi acusado de ter agido como cúmplice das práticas discriminatórias e de implementá-las também na agência espacial. Sob sua administração, cientistas e astrônomos que fossem considerados “culpados” de praticar relações com alguém do mesmo gênero eram compulsoriamente demitidos.

Em 2021, mais de 1.700 pessoas assinaram uma petição pedindo para que a NASA renomeasse o telescópio. O principal argumento foi o depoimento do ex-funcionário Clifford L. Norton, demitido por Webb sob “suspeita de homossexualidade” e “condutas imorais, indecentes e vergonhosas”.

Mais recentemente, a astrônoma Chanda Prescod-Weinstein, professora assistente de física da Universidade de New Hamsphire, disse à Scientific American que Webb facilitou políticas homofóbicas apoiado por integrantes do Senado dos EUA.

“Como parte da sua administração, Webb tinha responsabilidade pelas políticas feitas sob sua liderança, incluindo aquelas homofóbicas que ocorreram enquanto era diretor da NASA. Alguns argumentam que se Webb foi cúmplice, então todos que trabalhavam na administração da agência naquela época também foram. Nós concordamos. Mas a NASA não está lançado um telescópio com o nome de toda a administração”, diz Chanda.

Imagem da estação espacial James Webb, batizada em homenagem ao ex-diretor da Nasa (Foto: Cortesia da Nasa)
Imagem da estação espacial James Webb, batizada em homenagem ao ex-diretor da Nasa (Foto: Cortesia da Nasa)

Desde 2021, a comunidade astronômica vem pedindo à Nasa que o telescópio seja rebatizado, enquanto um abaixo-assinado com a mesma demanda conseguiu reunir mais de 1.700 nomes, lideradas por Chanda e outros quatro cientistas.

Em resposta, a NASA diz que abriu uma investigação para “examinar o papel de Webb no governo”. O resultado, porém, foi insatisfatório. “Fizemos tudo que podíamos e nos esforçamos ao máximo com a pesquisa. Esses esforços, no entanto, não revelaram nenhuma evidência justificando a mudança de nome”, disse uma porta-voz da agência à NBC.

Em março deste ano, a revista Nature obteve mais de 400 páginas de documentos da NASA. Entre elas, estava anexo um papel onde se lia: “Isso mostra que a Nasa decidiu que remover empregados homossexuais seria sua política. Eles tinham uma escolha ao longo da posse de Webb para alterar ou mudar essa política”.

Para Chanda, a Nasa tem preferido ignoras a “informação pública sobre o legado de JW”. Ela também é categórica em afirmar que James Webb “não merece ter um grande observatório com seu nome”.

Após a polêmica, a agência especial divulgou que “está totalmente comprometida em envolver e capacitar totalmente uma ampla gama de pessoas, organizações, recursos e ativos, porque sabemos que isso nos permite alcançar todos e tudo o que precisamos para melhor cumprir nossas missões”.

Atualmente, a hashtag #RenameJWST tem sido usada nas redes sociais por cientistas e aliados dos direitos LGBTI+ com a intenção de pedir a mudança de nome do telescópio.

Notícias relacionadas

Deputadas querem incluir Tibira do Maranhão entre os Heróis da Pátria

Revista Híbrida
2 anos atrás

Em 1992, Kátia Tapety foi a primeira travesti eleita na política do Brasil

Bruna Benevides
4 anos atrás

Khnumhotep e Niankhkhnum, um casal gay em pleno Egito Antigo

Anghel Valente
6 anos atrás
Sair da versão mobile