Se a carreira meteórica de Gisele Bündchen (cada dia mais rica, poderosíssima) nos anos 1990 escancarou a porta da moda internacional para as modelos brasileiras, na última década esse mesmo mercado tem aberto os olhos para tops que desafiam os padrões de gênero. E se o fenômeno vem ganhando força global a cada ano que passa, com nomes que vão de Lea T a Valentina Sampaio, a mais nova pérola dessa safra é a andradinense Marcela Thomé, de apenas 21 anos, que após duas temporadas brilhantes na São Paulo Fashion Week, está de volta para riscar novamente as passarelas da semana de moda mais importante do país durante sua 45ª edição.
A moda surgiu para a modelo após ter sido avistada por um olheiro na Tailândia, onde se apresentava em teatros fazendo dublagem de artistas nacionais como Wanessa. Agora, depois de já ter entrado para o casting da WAY Model e conquistado marcas como Lino Villaventura, À La Garçonne, Ellus, Amir Slama e Lenny Niemeyer no portfólio, a modelo já tratou de invadir a passarela da Água de Coco, no último sábado (21), abrindo os trabalho da temporada de desfiles que vai até a próxima quinta-feira.
Agora, pronta para construir seu nome em uma indústria que, aos poucos, se mostra pronta para focar mais no seu talento do que em seu gênero, ela adianta para a Híbrida como tem se adaptado à rotina de modelo, suas inspirações, seus sonhos e ambições. Vem com a gente:
Híbrida: Essa vai ser a sua terceira temporada de desfiles na SPFW. Chegou a ter alguma surpresa, positiva ou negativa, nas primeiras vezes?
Marcela Thomé: Eu tive muitas surpresas positivas na minha primeira temporada. Trabalhei com grandes marcas e também abri e fechei desfiles. Isso foi mágico pra mim.
H: Na época da sua transição, teve alguma mulher que te inspirou esteticamente, em algum sentido?
MT: Eu sempre fui amante da beleza feminina. Desde nova, já observava as mulheres se maquiando ou fazendo qualquer outra coisa que diziam que “um garoto não podia fazer”. Eu me identificava com aquilo. Aquele mundo feminino me pertencia.
H: Você afirmou em outra entrevista que teve certeza do que queria aos 16 anos. Quem te deu o apoio nessa época?
MT: Minha família sempre me apoiou. Assim como eu, minha mãe e meu pai já tinham certeza da minha alma feminina.
Desde nova, já observava as mulheres se maquiando ou fazendo qualquer outra coisa que diziam que ‘um garoto não podia fazer’
H: Você nasceu em Andradina, no interior de São Paulo, mas já morou na Tailândia e agora vive com aquela agenda corrida de modelo. Sente falta de algo específico da vida no interior?
MT: Às vezes eu sinto falta da tranquilidade do interior, mas já me adaptei e amo essa vida corrida de modelo. (Risos)
H: Vi que, quando morou na Tailândia, você costumava se apresentar com músicas da Wanessa Camargo. Conte mais sobre essas performances: era lip synch? Você chegava a treinar coreografia?
MT: Eu dublava números musicais. Adorava porque podia brincar de ser várias personagens diferentes. Sempre gostei de dançar e atuar e isso me ajuda muito na profissão que exerço hoje.
H: Por sinal, que músicas você gosta de ouvir antes ou depois de um desfile?
MT: Eu gosto de me concentrar. Às vezes faço alguma brincadeira para quebrar aquele frio na barriga, mas é importante se concentrar para desfilar bem plena.
H: Já sentiu que ser uma mulher trans chegou a te atrapalhar ou a te ajudar na moda, em algum momento?
MT: Tudo depende de com quem você está lidando. Alguns apoiam, outros não.
H: Qual seu maior objetivo ou sonho na carreira de modelo?
MT: Eu sonho ser uma grande modelo, ganhar meu dinheiro e, é claro, trabalhar com pessoas incríveis. Só isso! (Risos)