A 42ª edição da Casa de Criadores agitou São Paulo na última semana, entre os dias 06 e 10, e comemorou com louvor os 20 anos da marca. Desta vez na Praça das Artes, centro da cidade, o evento responsável por lançar algumas das principais e mais interessantes carreiras da moda brasileira trouxe nomes já conhecidos em seu line-up oficial, novos destaques e um show permeado pela diversidade e resistência, que terminou em festa na Peixaria Mitsugi.
Aqui pela Híbrida, elegemos as 10 passarelas que prometem aquecer o outono/inverno 2018 com seus destaques na 42ª edição da Casa de Criadores. Confira:
Diego Fávaro
Em sua última coleção, Fávaro exibiu uma coleção de cunho extremamente pessoal inspirada no enfrentamento pessoal de uma depressão e batizada “SOS”. Agora, para a próxima estação, o estilista retorna à passarela empenhado em continuar com essa volta por cima. Desta vez, entretanto, ele direciona seu olhar aos trolls, com a coleção “Haters Gonna Love Me”. Tons sóbrios em preto e branco, passando pelo verde militar e pelo marrom marcam as peças desejo, com frases de impacto e slogans que têm tudo para se tornarem verdadeiros sucesso de vendas e manterem o clima urbano das criações de Fávaro novamente sob os holofotes.
Ocksa
Marcando a estreia solo do jovem Igor Bastos na marca após a saída de Deisi Witz, a Ocksa desfilou looks marcados por moletons, nylons, experimentações e o que promete ser a figura registrada do próximo outono/inverno: os tricôs manuais — proposta que também completou, com sucesso, a bagagem da mineira LED em sua passagem pela SPFW e pelo Minas Trend nessa temporada.
Felipe Fanaia
Outro destaque do primeiro dia foi o desfile debochado e divertido como sempre de Felipe Fanaia. Mergulhado em cores, maxicasacos de neoprene e peças em nylon, o cardápio do estilista apostou alto no oversize, mas com o devido cuidado de jamais perder a identidade jovem de Fanaian ou a sensualidade de suas roupas. A surpresa? A presença de Gabriel Lyons, garoto à frente do meme-funk de “Sweet Dreams” que estourou na internet com sua presença no programa “Casos de Família”.
Rober Dognani
Comemorando seus 15 anos no evento, o show comandado por Rober Dognani foi altamente baseado na megalomania visual dos anos 80, com muitos brilhos, paetês e volumes, atrelado a um toque atual na presença de expressões como “Vraaaa” e “Whoooow!”. A sessão nostalgia, em tom de espetáculo, contou também com a presença da performática Aretha Sadick para o encerramento do desfile, que entrou ao som do clássico “Como Uma Deusa”, entretendo o público e o time de modelos com suas caras, bocas e a presença radiante de uma quase divindade das passarelas.
Another Place
Apostando na moda sem gênero e na liberdade de rótulos – cartão carimbado da marca, que já a levou para lugares mais altos lá fora, como a NYFW -, a recifense Another Place trouxe para o público uma coleção enérgica com um toque esportivo, marcada por uma paleta com laranja, rosa, preto e estampas militares, desta vez ressurgidas em novos tons e nuances.
Os artistas do Projeto LAB
No segundo dia da Casa de Criadores, três marcas desfilaram no setor do evento que dá chance e visibilidade a estilistas que ainda não pertencem ao line-up oficial. Foram elas: a D-Aura, com looks urbanos fortes no branco, imitando a textura de papel; a ACRVO, recheada em estamparia e em sensualidade; e Caroline Funke, com um universo lúdico e descontraído em suas peças.
Na quarta-feira foi a vez de outras três etiquetas estamparem a Praça das Artes: Diego Gama, que levou uma performance-protesto com corpos nus e beleza de Alma Negrot para a passarela; Rocio Canvas, que se inspirou na decoração de interiores para produzir suas peças; e a Senplo, que mais uma vez trouxe sua alfaiataria em 50 tons de preto.
Isaac Silva
Num dos desfiles mais políticos desta temporada, Isaac Silva trouxe a resistência da cultura negra para o palco da Casa de Criadores com uma coleção original inspirada na moda afrobrasileira. Para comandar o show, o estilista contou ainda com a presença da poeta Mel Duarte, declarando seu slam das mina para o público; com a escritora Stephanie Ribeiro, que provocou a platéia ao falar sobre as surpreendentes estatísticas de morte dos negros no país; com Michelle Fernandes, que “coroou” Ribeiro com um turbante — acessório símbolo da luta da mulher negra; e com a chegada de Apolinário, que falou sobre a supremacia de mulheres brancas na moda e a falta de visibilidade para mulheres pretas no mesmo meio.
CZO
Cristian Resende, à frente da marca, apresentou uma cartela de looks urbanos pesados no oversize, no japonismo e no sportwear. Antenada, a coleção possui fortes detalhes em estampas, sobreposições e transparências. Encerrando o desfile, eis que surge a presença de Ney Matogrosso vestindo uma camiseta da marca com a frase “Prefiro Toddy ao Tédio”, em uma homenagem simbólica a Cazuza que, ainda em 1986, usava uma t-shirt com os mesmos dizeres.
Fernando Cozendey
Sempre destaque nas edições em que participa da Casa de Criadores, o carioca Fernando Cozendey não decepcionou mais uma vez. Retornando ao lycra e apostando forte no preto pela primeira vez, o estilista recriou o clima dos anos 20 à sua maneira, com suas franjas melindrosas de miçangas espalhas por collants, vestidos e tops. O desfile, batizado “Perfeita”, foi a primeira parte de uma trilogia sobre a vida de Fernando, que dividida entre infância, puberdade e a idade adulta (exibida nesta temporada). No casting, acima de tudo: diversidade de corpos, idades, formas, raças e gêneros. Na passarela, passagens marcantes como as da atleta paralímpica Marinalva de Almeirda (ovacionada pela platéia), a instagrammer Marara Kelly, o close de Aretha Sadick e o espacate final de Babu Carreira.
O encerramento do Brechó Replay
O coletivo, famoso pelas imagens irreverentes que mantém nas suas redes sociais, encerrou a 42ª edição da Casa de Criadores com chave de ouro. Mais do que um mero desfile, o show apresentado pelo Brechó Replay foi um musical de reflexão sobre a intolerância e o preconceito, batizado “Contra Cultura” e dividido em três atos. Na passarela, uma performance artística e musical ancorada por Linn da Quebrada e o repertório de “Pajubá”, além das pancadas de slam e poesia por Deusa Poetisa, Felipe Marinho, Victória Carolina e mais.