O governador republicano do Tennessee, no sul dos Estados Unidos, sancionou uma lei na última quinta-feira (2) que proíbe shows de drag queens em locais públicos do estado. A legislatura é o último em uma série de ataques da extrema-direita norte-americana contra a comunidade LGBTQIA+ e deve abrir precedentes para que outros estados conservadores tentem fazer o mesmo.
Segundo a nova lei, “performances de cabaré” tornam-se proibidas em espaços públicos ou na presença de crianças, assim como a menos de 1000 pés (aproximadamente 305 metros) de escolas, parques e templos religiosos. Quem descumprir a lei será punido com uma multa de US$2.500 e até um ano de prisão. No caso de reincidência, a pena pode chegar a 6 anos.
Esta não foi a única legislação que o governador Bill Lee sancionou. Outra lei proibiu que pessoas transsexuais menores de idade possam receber tratamentos de afirmação de gênero, como bloqueadores de puberdade, hormônios ou cirurgias. Em outros nove estados, todos eles com maioria republicana no legislativo, leis semelhantes estão sendo propostas, debatidas e, muito provavelmente, em breve serão aprovadas.
No ano passado, o governador de Oklahoma, o republicano Kevin Stitt, proibiu a participação de mulheres e meninas trans em esportes femininos. O mesmo já acontece em outros 17 estados pelo país, 16 deles onde Donald Trump venceu nas eleições de 2020. Na maioria dos casos, a proibição vale apenas para crianças, mas em outros vai até os esportes universitários.
Outra proposta que vem sendo debatida em Oklahoma é a proibição de tratamentos de afirmação de gênero para pessoas menores de, pasmem, 26 anos. Um projeto de lei semelhante está em discussão na Carolina do Sul com o mesmo limite de idade. Já no Kansas e em Mississippi, a ideia é proibir os tratamentos até os 21 anos.
Em setembro do ano passado, um grupo neo-nazista carregando suásticas (o que é permitido nos EUA) e cartazes transfóbicos ameaçou quem participava de um “Drag Brunch” em Pflugerville, no Texas. Cenas como essa passaram a se repetir cotidianamente. Em dezembro, em Dallas, novamente neo-nazistas tentaram interromper uma performance drag, desta vez um show de natal feito para todas as idades. Com saudações nazistas, membros da Rede de Liberdade Ariana, um grupo supremacista branco, permaneceram em frente ao teatro Texas Trust CU intimidando aqueles que chegavam ao local.
De todos os estados republicanos, o Texas é o maior, tanto em tamanho quanto em número de habitantes. Por lá, o governador Greg Abbott está em uma verdadeira cruzada contra a população LGBTQIA+. Ele já proibiu a participação de meninas e mulheres trans em esportes femininos, mas quer também proibir shows de drag com presença de crianças, tratamentos de afirmação de gênero (com a perda da licença do médico que infringir a lei), assim como a proibição de debates de temas da comunidade LGBTQIA+ nas escolas do estado.
Em termos legais, os estados republicanos são o que mais sofrem com o perigo dos retrocessos, mas os estados democratas também começam a ver as consequências da onda conservadora incitada por essas propostas de lei. Em dezembro passado, no Queens, em Nova York, um evento de contação de história com pessoas trans em uma biblioteca local gerou um novo confronto entre grupos neo-nazistas e manifestantes LGBTQIA+. A polícia teve que fazer uma linha separando os dois grupos enquanto, das janelas, crianças assistiam à cena de violência e repressão sem entender o que acontecia.
Tudo indica que esta política do ódio nos Estados Unidos só tende a crescer nos próximos meses. Com eleição no ano que vem, alguns políticos republicanos querem provar às suas bases fanáticas que são eles os mais homofóbicos, transfóbicos e retrógradas.