Abril de 2018 marca um dos piores aniversários na história da comunidade LGBT global: o primeiro ano desde que os campos de concentração para LGBTs na Chechênia foi denunciado pelo jornal Novaya Gazeta. Criadas por agentes do próprio governo checheno, essas “instalações” foram usadas para o aprisionamento, tortura e execução de homens gays, que estariam “desonrando suas famílias e sua nação” ao manterem relacionamentos homoafetivos. Mas, depois de 12 meses e uma revolta internacional com o atentado aos direitos humanos na região, pouco – ou melhor, nada – mudou na segurança para LGBTs no norte do Cáucaso.
Como mostramos na nossa primeira edição, a Russian LGBT Network é a principal responsável pela evacuação daqueles perseguidos tanto na Chechênia quanto em outros países da região que também punem LGBTs com pena de morte. No último dia 3, a ONG realizou uma coletiva de imprensa em Moscou com a presença de um dos seus co-fundadores, Igor Kochetkov, e da jornalista Elena Milashina, responsável pelo furo de reportagem sobre o caso.
Durante o evento, eles compartilharam os resultados das investigações e das operações realizadas pela ONG ao longo do último ano. No total, foram 114 chechenos evacuados da região, dentre os quais 92 já estão realocados para outros países fora da Rússia. Dentre os casos registrados, estima-se que 41 pessoas tenham sido ilegalmente capturadas e torturadas na Chechênia. Os números apresentados também englobam 35 familiares das vítimas, que procuraram a Russian LGBT Network por não se sentirem mais seguros no país.
A família é um fator decisivo no combate à perseguição realizada por Ramzan Kadyrov. De acordo com a ONG, três LGBTs que conseguiram escapar da Chechênia foram posteriormente capturados por seus familiares, e a morte de pelo menos um deles já foi confirmada. Outros cinco precisaram retornar ao país por motivos diversos, dos quais um também foi assassinado.
Além dos números, outro aspecto descoberto ao longo deste último ano foi o de que mulheres trans e lésbicas também estão na mira do governo checheno, com pelo menos 12 casos registrados pela Russian LGBT Network. A situação é especialmente delicada, inclusive para ativistas de direitos humanos na região, uma vez que mulheres, cis ou transgênero, estão sob o completo controle de seus familiares e não recebem autorização individual para deixarem o país nem sob pretexto de trabalho.
Ainda em janeiro, a ONG recebeu relatos de que as prisioneiras, uma vez capturadas, enfrentavam o mesmo tipo de tortura e espancamento que os homens, e ainda eram submetidas a agressões sexuais durante o encarceramento. E, ao que tudo indica, esse filme de terror ultrarrealista está longe do fim.
Uma das principais dificuldades que tanto ativistas quanto os próprios LGBTs enfrentam na Chechênia é o poder e a impunidade do governo vigente, o qual tem carta branca e apoio de Vladimir Putin. Como apresentado na coletiva, as investigações realizadas na região foram lideradas pela própria polícia chechena, que demonstrou não só infeciência ao tratar do caso, mas também tem exercido pressão psicológica sobre os familiares das vítimas executadas, uma vez que eles são considerados “responsáveis” pelas desonras cometidas.
Por enquanto, o trabalho exercido pela Russia LGBT Network e a investigação jornalística do Novaya Gazeta, que gerou um documento de 18 volumes com 300 páginas cada, é a melhor e única chance que essas pessoas têm de escapar da tirania chechena. Para saber mais sobre o trabalho realizado pela ONG e como a situação no norte do Cáucaso chegou a esse estado, clique na imagem abaixo e leia a matéria especial da nossa 1ª edição, “Levanta e Luta”.