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Pete Buttigieg abriu espaço nos EUA, mas representatividade não é tudo

Pete Buttigieg abriu espaço nos EUA, mas representatividade não é tudo (Foto: AP)

Pete Buttigieg abandonou sua campanha à Presidência dos Estados Unidos nas primárias do Partido Democrata na noite deste domingo (1º), após um resultado desastroso nos estados de Nevada e da Carolina do Sul. Apesar de breve (disputou apenas quatro dos 50 estados), o ex-prefeito de South Bend, uma cidadezinha de Indiana, fez história. Ele foi o primeiro pré-candidato à presidência abertamente gay na história do partido e do país.

Sem sombra de dúvidas, Pete representou uma ruptura: abriu caminho para mais e mais LGBTs no futuro da política americana. Por outro lado, deixou muito a desejar, não apenas nos números de votos, mas nas políticas que defendeu (e deixou de defender).

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Buttigieg, apesar de ser o primeiro pré-candidato gay da história, faz parte do grupo tido como mais “moderado” dentro do Partido Democrata, uma ala que seria tido como conservadora no Brasil. Ele foi contra todas as políticas propostas por outros candidatos que tratavam saúde e educação como direitos universais, por exemplo.

Pete, durante toda sua campanha, foi duramente contrário ao plano de “Healthcare for All” proposto por Bernie Sanders e Elizabeth Warren. Para o ex-prefeito, não deve existir algo como um SUS nos EUA. Ele se mostrou contra o plano de “Saúde para Todos” e defendeu um estranho plano de “Saúde para todos que querem”. Basicamente, o modelo propõe que quem tem plano privado não pagaria imposto para ajudar a subsidiar a saúde pública. Cada um por si, salve-se (literalmente) quem puder.

Pete Buttigieg com o marido, Chasten Glezman, durante o anúncio oficial de sua candidatura à presidência (Foto: Michael Conroy | AP)
Pete Buttigieg com o marido, Chasten Glezman, durante o anúncio oficial de sua candidatura à presidência (Foto: Michael Conroy | AP)

No campo da educação, Buttigieg também apresentou saídas recuadas. Enquanto a ala mais progressista do partido propôs socorro às família endividadas com financiamentos do ensino superior para os filhos e até gratuidade universal em universidades públicas (como existe no Brasil), Pete defendia ajuda apenas às família que tivesse uma renda anual menor do que $100.000,00 ao ano.

Outro ponto baixo de sua campanha foi o financiamento que a impulsionou. Cada vez mais, candidatos democratas entendem aquele velho bordão: quem paga a banda escolhe a música. Por isso, candidatos como Sanders e Warren optaram por não receber doações de bilionários e grandes empresários. Pete, porém, não só recebeu enormes quantias do grande empresariado norte-americano, como sempre saía em sua defesa nos debates, atacando progressistas que “demonizam os bilionários do país” e os acusando de “socialistas revolucionários”.

Sim, Pete Buttigieg foi importante e ganhou um lugar na história. Com toda a certeza, teve que responder a ataques homofóbicos, sobretudo do presidente e de sua base ultra conservadora. Ainda no último dia 14, ele foi atacado pelos radialistas Rush Limbaugh, que se referiu ao candidato como “aquele garoto gay de 37 anos que beija o marido no palco”, e Sebastian Gorka, outro apoiador de Donald Trump que questionou “por que um homem gay pode dar lições sobre a santidade da vida no útero?”.

É fato que ele abriu espaço, servindo de exemplo para muitas crianças que hoje crescem sabendo que sua sexualidade não é a imposta pela heteronorma. Porém, vale lembrar: representatividade não é tudo. Que um dia os EUA tenha um (ou uma) presidente LGBT, mas que também defenda saúde e educação para todos, defendendo os direitos de trabalhadorxs e não de bilionárixs.

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