Um dos países mais hostis em relação à comunidade LGBTI+, a Rússia alcançou um outro nível de ridículo com o novo reality show I’m Not Gay [Eu Não Sou Gay], idealizado pelo influencer Amiran Sardarov. O deputado da extrema-direita russo, Vitaly Milonov, também conhecido no país por sua escancarada homofobia, se tornou um dos principais convidados do programa, cujo objetivo é reunir oito participantes em provas bizarras para descobrir ao final qual deles é gay.
No primeiro episódio, já disponível no Youtube, Milonov disse aos competidores: “Espero que logo vocês descubram qual é o gay”. Quando o grupo não conseguiu encontrar o integrante LGBTI+, ele anunciou: “Vocês mataram uma pessoa inocente”.
Milonov foi o idealizador de uma lei conhecida como gay propaganda law [“lei da propaganda gay“], que visa censurar a divulgação de materiais LGBTI+ por acreditar que estes “apresentam ideias distorcidas sobre o valor social igualitário dos relacionamentos sexuais tradicionais e não-tradicionais”. Assinada pelo primeiro-ministro Vladimir Putin em 2013, a legislação homofóbica diz ter a intenção de “proteger crianças de serem expostas à homossexualidade”.
Num documentário do diretor Reggie Yates, lançado pela rede BBC em 2014, o deputado disse: “Um pedaço de merda não é perigoso, mas é um tanto desagradável vê-lo nas ruas. A homossexualidade é nojenta. A homofobia é bonita e natural”.
Apesar de o extremo mau gosto do conceito de “I’m Not Gay” espantar, não é incomum encontrar produções midiáticas ou culturais que ridicularizem a comunidade LGBTI+ na Rússia. Uma delas, inclusive, foi a responsável por uma tragédia recente.
Há três anos, a ativista Yelena Grigoryeva, que já havia sido presa por se manifestar contra a “gay propaganda law”, foi encontrada morta com marcas de estrangulamento e facadas pelo corpo. Os principais suspeitos?! Os usuários do site SAW, inspirado no filme Jogos Mortais, que promovia a identificação, perseguição e tortura de LGBTIs no País.
De acordo com Dinar Idrisov, amigo da vítima, as autoridades locais nunca fizeram nada para protegê-la das ameaças de morte que vinha recebendo desde abril de 2019.
Além disso, a Rússia também teve grande influência na caça aos LGBTIs da Chechênia e nos campos de concentração descobertos no País em 2017. A história, publicada em primeira mão pelo jornal Novaya Gazeta, brotou como o ápice de uma longa jornada anti-LGBT promovida pelo líder checheno Ramzan Kadyrov, que seguia de forma mais agressiva os passos de seu líder e aliado Putin.