Híbrida
MÚSICA

Arlo Parks fala do novo disco “sensível”, “vulnerável” e inspirado em SZA

Arlo Parks: "Gosto de ler meus livros e ficar passeando por florestas, essa é mais a minha vibe" (Foto: Divulgação)

Com apenas 22 anos, a britânica Arlo Parks já foi descrita pela crítica e por seus pares como uma das principais vozes dessa geração graças à sinceridade brutal e à vulnerabilidade direta de suas letras. Indicada duas vezes ao Grammy por seu disco de estreia, Collapsed In Sunbeams (2021), a artista está pela primeira vez no Brasil para se apresentar nesta sexta-feira (19) como headliner do primeiro C6 Fest, em São Paulo.

Além de marcar seu début nos palcos brasileiros, o show tem um quê de especial para Arlo Parks pela chance de ela apresentar algumas das músicas ainda inéditas que compõem seu próximo disco, My Soft Machine, cujo lançamento será exatamente em uma semana, no dia 25. “Sei que o segundo álbum carrega muita pressão, mas fazer música é a coisa mais natural do mundo pra mim”, conta a artista em entrevista exclusiva à Híbrida.

Vestida com um conjunto preto de moletom e os cabelos tingidos no mesmo tom de rosa que aparece na capa do trabalho, Arlo conta que tem aproveitado o tempo livre para passear por São Paulo, visitar as feiras e comer (muito!) mamão. Também diz ser fã de Gal Costa, Caetano Veloso e Arthur Verocai.

Ao longo dos últimos meses, a artista disponibilizou quatro faixas do disco, que carrega colaborações com alguns dos maiores produtores atuais. A dançante “Blades”, por exemplo, mostra um lado mais divertido e leve que Arlo ainda não tinha revelado em trabalhos anteriores, com batidas assinadas por Paul Epworth, o nome por trás de sucessos gravados por Adele, Florence + The Machine, Rihanna e Bruno Mars.

“Pegasus”, último single de divulgação antes do álbum, é uma parceria delicada e romântica com a estouradíssima Phoebe Bridgers que também tem o dedo de Epworth na produção e versa sobre a experiência de um primeiro amor correspondido e saudável. Ainda trabalharam no disco nomes requisitados como Ariel Rechtshaid (Madonna, Beyoncé), Buddy Ross (Frank Ocean) e Carter Lang (SZA).

“Trabalhei com eles (Ross e Lang) exatamente porque sou fã dos trabalhos do Frank Ocean e da SZA. E ambos ganharam bastante sabedoria, acho, por trabalhar com esses artistas que são, tipo, personalidades culturais”, comenta Arlo.

Apesar da pouca idade, a artista conta que não gosta de passar muito tempo online nem se importa com críticas sobre, por exemplo, sua bissexualidade, que declarou publicamente aos 17 anos. “Prefiro ler um livro”, comenta.

Capa de "My Soft Machine", segundo disco de Arlo Parks (Foto: Divulgação)
Capa de “My Soft Machine”, segundo disco de Arlo Parks (Foto: Divulgação)

HÍBRIDA: É a sua primeira vez no Brasil? Está aproveitando?

ARLO PARKS: Sim! Sim, sim. Eu amo. Estou saindo para longas caminhadas, tendo bons jantares, indo aos mercados, comendo muita fruta… Tipo, bastante mamão! (risos)

H: Realmente, nossos mamões são bem frescos. (risos) Você já conhecia alguma música brasileira antes de vir pra cá?

AP: Sim, mas não sei pronunciar. (Pergunta ao assessor) Arthur Verocai, Caetano Veloso e Gal Costa. Isso! Esses são meus favoritos.

H: Como se sente prestes a lançar seu segundo disco? Sei que o primeiro teve um desempenho ótimo, mas agora você também está na casa dos 20 anos, que é diferente da adolescênci. Como foi traduzir essas novas experiências em sons e composições?

AP: Sei que o segundo disco meio que carrega muita pressão, mas criar música é a coisa mais natural do mundo pra mim. Eu sempre me agarrei à ideia de sempre lembrar por que comecei a fazer isso. E não foi por prêmios ou por um tipo de aclamação.

Era apenas eu, sentada no meu quarto porque amo música. E eu meio que voltei ao cerne disso. Acho que crescer te dá mais confiança, em termos de seguir a sua intuição, trabalhar duro e saber que você tem uma visão. Então, acho que o segundo disco foi na verdade bem amável. Me diverti bastante.

Também mudei para Los Angeles e passei um bom tempo tendo essa nova aventura na minha vida pessoal. Acho que levei muito disso para o álbum, apenas sendo muito curiosa e aberta.

H: Realmente senti esse sentido de aventura em “Blades”, acho que por ser uma música mais animada e diferente do primeiro disco.

AP: Sim, exatamente. E eu queria fazer uma música que desse para dançar. Queria fazer uma música que fosse mais eletrônica. Que eu produzisse sozinha. Eu definitivamente estava tentando novas coisas.

H: “Impurities” e “Pegasus” já são músicas muito vulneráveis. Como se sente com isso? Dá medo, especialmente por ser tão nova e sincera sobre um coração partido ou se sentir carente às vezes?

AP: Não acho que sinta (medo). Definitivamente há uma sensação de ansiedade porque você escreve uma música que é só para você e então se dá conta que o mundo inteiro pode ouvi-la. Mas quando penso nos meus artistas favoritos, até mesmo Phoebe (Bridgers) ou Elliott Smith, ou tantos outros que me inspiram por causa da vulnerabilidade, isso meio que dissolve o medo um pouco pra mim. Porque aí eu fico ‘Ok, se eu quero emocionar as pessoas e me conectar com elas, tenho que ser honesta. E é isso que me faz não sentir medo.

H: Você trabalhou com alguns produtores que já colaboraram com a SZA e com o Frank Ocean. Você se sentiu inspirada por eles para o novo disco? E já pensou em colaborar com algum dos dois em uma música?

AP: Sim! Quer dizer, adoraria fazer isso um dia. Seria incrível. Se você puder arranjar isso, eu amaria. 

H: Beleza, se isso acontecer então eu posso ser o responsável. 

AP: (Risos) Mas sim, eu trabalhei com eles exatamente porque sou fã dos trabalhos do Frank Ocean e da SZA. Ambos, Carter Lang e Buddy Ross, realmente ganharam bastante sabedoria, acho, por trabalhar com esses artistas que são, tipo, grandes personalidades culturais. Sinto que aprendi muito com eles.

E eles me permitiram seguir meu próprio caminho, em termos do que eu queria fazer. Assim, eu não queria fazer uma “música da SZA”, mesmo que me sinta inspirada por ela. Estava apenas sendo eu mesma, e eles me apoiaram nisso.

H: Você se identificou como bissexual desde o começo da sua carreira, basicamente. Como se sentiu após essa declaração? Acha que houve algum tipo de rejeição, se não no Reino Unido, em outros lugar? Ou foi tranquilo?

AP: Para ser sincera, não passo tanto tempo na internet. Então, talvez houve alguma crítica, mas eu simplesmente não vi. 

H: Nossa, mas como você consegue passar tanto tempo desconectada?

AP: Não sei. Sinceramente, sou ruim com tecnologia. Gosto de ler meus livros e ficar passeando por florestas, essa é mais a minha vibe. Mas sabe, sinto que sempre haverá pessoas que desafiam quem você é. Especialmente pra mim, mesmo que seja sobre eu ser uma mulher na música, ou uma pessoa negra ou uma pessoa queer. Sempre vai existir alguém que tem uma opinião sobre quem você é. Mas eu sei quem eu sou, então não me importo de verdade. 

H: Seu primeiro álbum foi lançado em meio à pandemia da covid. Como se sente agora que pode apresentar essas músicas ao vivo e se conectar com o público? 

AP: Sinceramente, é meio que maravilhoso. E também foi maravilhoso poder tocar essas músicas que ajudaram as pessoas durante um dos tempos mais difíceis que tivemos coletivamente. Tocar e ver as pessoas, pais com filhos pequenos, casais ou qualquer pessoa que apareça, seja sozinha ou com os amigos.

Apenas ver o tanto que as pessoas se conectaram com o que eu fiz foi quase transformador. E estou animada para ver como as pessoas respondem às músicas novas também. Estou animada.

H: Se pudesse resumir o disco em um sentimento, qual seria?

AP: Hum… Sensível. É sempre sensível. Todos os meus álbums serão, até o fim dos tempos. É sempre emotivo.

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