Se depender de Daniela Mercury, o carnaval 2021 não morre. Eleita no ano passado como uma das melhores lives durante a pandemia da covid-19 pelo The New York Times, a artista transmite às 20h30 da próxima sexta-feira, 12, a nova edição do seu Carnaval Virtual da Rainha, justo no dia em que o País estaria oficialmente dando a largada para a folia. Não só isso, mas ela também homenageia o mestre Moraes Moreira em uma parceria inédita com Gal Costa no frevo Quando o Carnaval chegar, lançado na última semana.
“Falta pouco para todos estarmos vacinados. Mas enquanto isso não acontece, precisamos continuar com o isolamento social, sem aglomeração, de máscara e usando álcool gel. A gente ainda não pode ir para a rua celebrar a vida, por isso vamos começar treinando em casa para Quando o Carnaval Chegar”, diz Daniela, que promete tanto os grandes hits de carnaval quanto boas doses de alegria.
Depois de ter lançado o elogiado disco Perfume no pré-carnaval de 2020, Daniela agora assina a composições de Quando o Carnaval Chegar, que leva produção de Yacoce Simões carregada nas guitarras baianas. “Eu gostei muito da música. Aceitei na hora o convite para gravar a música. Daniela é um amor de pessoa. Eu gosto muito dela e o frevo é muito bacana. Achei legal ela me convidar porque é uma homenagem a Moraes Moreira, que fez Festa do Interior, gravada por mim, que foi um grande sucesso e também é um frevo, nos remetendo à lembrança dessa canção linda”, celebra Gal sobre sua primeira parceria com a conterrânea.
“Gal ter aceitado o convite foi um sonho realizado. Passei 3 dias ouvindo Gal cantar na música e chorando. É Gal Costa, né?”, comemora Daniela, emocionada. O clipe dirigido por Renato Nunes foi lançado na última sexta, uma animação com protestos cheios de humor e ironia, típicos do carnaval, homenagens também a Marielle Franco, Elza Soares, Paulo Freire, Zé Celso Martinez, Cacique Raoni, Sócrates, Sílvio de Almeida e até um beijo na boca entre as duas cantoras.
“Eu queria homenagear Moraes e também Gal porque amo os dois. Foi Moraes que deu voz ao trio elétrico. Ele que abriu caminho para todos nós. Eu chego na Praça Castro Alves e lembro de Moraes. Ele foi um revolucionário da alegria. Essa música é minha forma de agradecer a ele por tudo que ele fez”, conta a artista, que também planeja um live repleta de arte, com obras de J Cunha. “Queria pedir aos meus fãs que se fantasiem e façam stories e posts me marcando, durante a live. Quero sentir a energia e a vibração de todo mundo”, convida.
Abaixo, leia nossa entrevista exclusiva com Daniela, na qual ela fala sobre a expectativa para o Carnaval Virtual da Rainha, como curtir a data em meio à pandemia, sua parceria com Gal e o que ela mesma não deixa faltar em suas playlists de folia.
HÍBRIDA: Não há nada que se compare à energia de um bloco ou trio elétrico no carnaval. Como você pretende transmitir essa emoção para a sua live em homenagem à folia?
DANIELA MERCURY: O público dançando e cantando é o mais importante em um carnaval, por isso estou preparando um cenário bem mágico para homenagear o público! Vou fazer um repertório super animado e leve para todo mundo pular dentro de casa e liberar toda a tensão possível. A gente precisa muito de um carnaval imaginário para diminuir a pressão emocional e o estresse que temos passado no último ano. E eu vou ensinar algumas coreografias para todo mundo brincar. (Risos)
H: Que dica você dá para quem pretende aproveitar um pouquinho do carnaval e ao mesmo tempo respeitar as regras de distanciamento social, uso de máscaras etc.? O que é possível fazer?
DM: Com imaginação, tudo é possível. E não há a menor chance de desrespeitar o isolamento e colocar sua vida e a de todos em risco! Então, vamos preparar a casa para o Carnaval Virtual.
Minha sugestão é que todo mundo enfeite a casa, invente fantasias divertidas, grave vídeos e poste na rede social. Outra ideia é combinar com os amigos um baile a fantasia na hora da live, para curtir o Carnaval Virtual da Rainha! Cada um em sua casa. Podem ligar a televisão e, ao mesmo tempo, fazer uma chamada de vídeo com os amigos e dançar virtualmente com eles e comigo. Não dá para aglomerar com quem não mora com a gente, mas todo mundo que mora junto pode participar do nosso carnaval imaginário. As crianças, os adultos e os mais velhos. Todo mundo vira criança no carnaval, então a gente tem que se entregar ao espírito carnavalesco e relaxar um pouco, que é o que importa nesse momento tão tenso. Vamos espantar a tristeza por alguns dias.
Também sugiro que cada um faça ou encomende comida, coloque a bebida para gelar, para que o Carnaval em casa seja o mais parecido com um carnaval de rua. Dance pela casa toda, por menor que seja. Saia do quarto para a sala, como se estivesse atrás do meu trio. Emoção é a chave para aproveitar esse Carnaval Virtual.
H: O The New York Times elegeu no ano passado sua live como uma das melhores do mundo na quarentena. Isso te colocou alguma pressão ou deu mais segurança ao preparar o Carnaval Virtual? O que podemos esperar na nova live?
DM: Foi espetacular receber esse reconhecimento do The New York Times. Quero fazer uma live ainda mais maravilhosa nesse carnaval diferente. Vou cantar músicas lindas e muito animadas, e grandes hits para que todo mundo tenha também lembranças gostosas de outros carnavais. Vou fazer um circuito imaginário por vários lugares do mundo, da Barra até Ondina, do Campo Grande até a Av. Carlos Gomes, da Av. Paulista até o final da Consolação, e vamos assim pelo mundo todo e com toda a energia para não deixar ninguém parado. Será uma live acelerada.
Ouvir a voz de Gal em um frevo composto por mim e cantando comigo é uma das maiores alegrias de toda a minha vida
Como e quando surgiu a ideia de convidar Gal para uma homenagem a Moraes Moreira? E como foi o processo de gravação dessa parceria?
DM: Gal é uma cantora extraordinária, com quem eu sempre sonhei cantar. Estava esperando uma oportunidade e resolvi mostrar a música para ela. E ela adorou. Quando o Carnaval Chegar tem uma melodia clássica e é uma homenagem para Moraes. Ter Gal cantando comigo é também a melhor maneira de homenagear ele, pois ela gravou frevos extraordinários compostos por Moraes. Ouvir a voz de Gal em um frevo composto por mim e cantando comigo é uma das maiores alegrias de toda a minha vida.
H: Em 1996, a imprensa chegou a dizer que vocês duas tinham se desentendido por causa de uma apresentação em Salvador. Isso chegou a acontecer? Se sim, como resolveram o assunto? E se não, vocês já chegaram a conversar sobre isso?
DM: Eu sempre amei Gal e sempre fui muito carinhosa com ela. E ela comigo. Nunca houve briga.
Compor foi uma maneira de enfrentar a realidade e às vezes também de fugir dela
H: Como a quarentena tem influenciado sua criação artística? Esse isolamento ajuda ou atrapalha na hora de criar uma música?
DM: A questão não é o isolamento em si, é o medo e a tristeza que aprisionam a gente. E a indignação com tudo que está acontecendo no Brasil. Compor foi uma maneira de enfrentar a realidade e às vezes também de fugir dela. Eu compus muito sobre temas diversos.
H: Desde a defesa dos direitos humanos e LGBTI+ até a condução desastrosa da pandemia, você tem criticado abertamente o governo de Jair Bolsonaro desde o início. Acredita que é hora do impeachment?
DM: Acredito que sim, pois não vejo perspectiva de futuro para nós. Estamos sem vacina, em crise econômica grave, sem credibilidade e isolados internacionalmente. Não vejo qualquer compromisso do governo com a saúde da população, nem com a proteção do meio ambiente, nem com as minorias. Muito pelo contrário. Estamos no caos, rumo a uma situação ainda pior.
H: Como Rainha do Axé, você é presença confirmada e imprescindível em qualquer playlist, festa ou bloco de carnaval. Mas o que você gosta de ouvir pra entrar no clima da folia?
DM: O bloco Ilê Aiyê, o Olodum, o Cortejo Afro, a Timbalada, os sambas-enredos, Zeca Pagodinho, Carlinhos Brown, Psirico, Anitta, Ludmila, Léo Santana, Ivete [Sangalo], Claudia [Leitte] e Harmonia [do Samba].