Híbrida
MÚSICA

Yann fala sobre términos, recaídas e a importância de representatividade LGBT

Yann Hatchuel

Depois de colocar Mariana Ximenes pra cantar ao seu lado e reunir um time que contou com nomes como Britney Spears, Demi Lovato, Céline Dion e Elza Soares na luta contra a LGBTfobia, Yann Hatchuel está de volta com um novo EP, Entre o Fim e o Recomeço vol. 2″. O trabalho é a continuação de seu último projeto, que, como ele conta, pretende destrinchar os sentimentos vividos no temido período entre um relacionamento e outro. “Meu interesse foi de explorar musicalmente as diferentes emoções que sentimos após um fim de uma relação, mas antes da superação. Esse estágio nebuloso de emoções conflitantes.”, conta o artista, em entrevista à Revista Híbrida.

Na estrada desde 2014, Yann começa essa nova era com o videoclipe para “Me beija”, filmado em Los Angeles e dirigido por The Vtmns. Nele, o cantor mostra o término de um relacionamento pela perspectiva do ex, ao mesmo tempo em que ambos continuam tendo recaídas, o que só complica ainda mais a situação.

Abaixo, falamos com Yann sobre essa nova era em sua carreira, términos complicados, a importância da representatividade, o papel de um artista em tempos de crise política e mais. Confira:

Yann em cena do clipe de "Me beija", carro-chefe de divulgação do EP "Entre o fim e o recomeço vol. 2" (Foto: Divulgação)
Yann em cena do clipe de “Me beija”, carro-chefe de divulgação do EP “Entre o fim e o recomeço vol. 2” (Foto: Divulgação)

Híbrida: Por que você resolveu dividir “Entre o fim e o recomeço” em dois volumes? E no que o 2º difere do 1º, em questão de sonoridade, temática e letra?

Yann Hatchuel: Como diria a maravilhosa Florence Welch, “o mais escuro vem antes do amanhacer”, e os EPs seguem esse sentimento. Se o primeiro volume é o fim da tarde, esse segundo volume é o que acontece depois da meia-noite. Essa sensação que quis ilustrar também nas capas. O volume II é também fortemente influênciado pelo synthpop dos anos 80.

H: Em 2017, você lançou “Igual”, um clipe que mobilizou muitas popstars da gringa contra a LGBTfobia no Brasil. Hoje, um ano depois, como mede o impacto que isso teve não só para o problema como para a sua carreira?

YH: Para o problema, é dificil dizer. Sinto que buscar além da tolerância, a busca pela aceitação é uma briga diária para LGBTQs. É importante o movimento ser unido. Foi incrível a repercussão do projeto. ‘Igual’ foi destaque na mídia em todos os continentes do mundo e é fundamental que saibam o que acontece aqui. Claro que o projeto é um pó de areia dentro do que é ser necessário para de fato existir uma mudança. Infelizmente, sinto que o Brasil passa agora por um momento ainda mais desesperador para minorias. É aterrorizante a possibilidade daquele-que-não-deve-ser-nomeado vencer essas eleições.

No sentido de carreira, foi realizador poder criar um projeto como esse, para a comunidade da qual faço parte, com o apoio de artistas e heróis que de fato me inspiraram para ser quem sou. Nunca imaginei que poderia um dia fazer algo com artistas como a Britney ou Elza Soares. Fico agradecido pelo resto da vida por ter sido em um projeto dessa importância.

H: Você também se apresentou durante a Parada do Orgulho LGBTI do Rio, em 2017, da qual ‘Igual’ foi a música-tema. Como artista e pessoa LGBT, de que forma encara essa cobrança do público para que as pessoas vistas como “públicas” se posicionem mais em relação à política?

YN: Nina Simone falava que o papel do artista é relatar o que acontece em seu tempo. Acredito nisso. O voto secreto é um direito nosso, mas acredito que se como artista você se beneficia da cultura e dinheiro de minorias, o mínimo que deve fazer é utilizar sua plataforma para ser um aliado em momentos cruciais. Ter um candidato abertamente preconceituoso e fascista é definitivamente esse momento. E se escolher ficar calado, por favor, também não resolva aparecer depois para pedir nosso dinheiro.

H: “Me beija” fala muito sobre a atração por um ex e todas as nuances de um encontro pós-término. O que te inspirou para a música? E, aproveitando, o que pode acontecer de melhor e de pior num encontro com um ex? Dá algumas dicas pra gente do que não fazer nessas situações.

YH: O que inspirou a música foi algo que me aconteceu. Eu componho músicas sobre essas situações porque costumo lidar pessimamente com isso. Talvez a melhor dica seria não compor músicas, porque sempre gera climão com quem foi a inspiração. Mas, claramente, eu não gosto de boas dicas…

H: Você lançou seu primeiro EP em 2014, e muito mudou no cenário pop brasileiro de lá pra cá, principalmente para artistas LGBTs, que têm ganhado mais espaço e criando novos formatos. Como você enxerga esse aumento e de que formas isso te impulsiona ou não na carreira?

YH: Maravilhoso, maravilhoso mesmo. Isso foi o resultado de umas das melhores coisas que a internet trouxe para a indústria da música. Infelizmente, ainda existem muitos passos a serem dados. Apesar de termos visibilidade, isso ainda não reflete justamente nas paradas musicais. Ainda existe uma grande resistência do público geral em consumir música de artistas abertamente LGBTQs e, principalmente, daqueles que também mostram isso em sua arte.

Apesar disso, o que aconteceu nos últimos cinco anos é revolucionário. Como criança, sempre me senti isolado, já que existiam pouquíssimos artistas abertamente LGBTQs na grande mídia. Obviamente, isso só aconteceu porque, antes de todos nós, vieram pioneiros como Ney [Matogrosso] e Cássia Eller, que arriscaram tudo que tinham para que um dia artistas como eu pudessem existir.

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