Revista Híbrida
Música

Mateus Carrilho, pronto para voar sozinho: “Já queria isso há muito tempo”

A partir de hoje, Mateus Carrilho se joga no caminho sem volta da carreira solo. Depois de oito anos, três discos, incontáveis shows pelo Brasil e uma legião de fãs, o antigo vocalista da Banda Uó agora lança“Privê”, em todas as plataformas digitais. A música marca a primeira vez em que ele assume sozinho os vocais, sem participações. “Sem dúvida, alguns medos voltaram. É tudo uma novidade na minha cabeça. Com a banda, nós dividíamos tudo. Agora, sinto que tem mais responsabilidade sobre mim”, ele comenta por telefone, admitindo que está um pouco nervoso com a estreia da nova fase: “Mas eu tô pronto, já queria isso há muito tempo”.

“Privê” chega com a missão de anunciar qual direção artística Mateus irá tomar após quase uma década sendo um dos principais responsáveis pela mistura de pop e tecnobrega que impulsionou a Banda Uó pelo país. A faixa é também o carro-chefe na divulgação de seu primeiro EP, já na fase de mixagens e com previsão de lançamento para os próximos meses.

Após oito anos de Banda Uó, Mateus Carrilho se lança na carreira solo com "Privê": "Sinto que tem mais responsabilidade sobre mim" (Foto: Divulgação)
Após oito anos de Banda Uó, Mateus Carrilho se lança na carreira solo com “Privê”: “Sinto que tem mais responsabilidade sobre mim” (Foto: Divulgação)

A produção ficou por conta de Rodrigo Gorky (fundador do Bonde do Rolê e um dos “padrinhos” da Uó) e todo o seu time da Bravo Music Team, com compositores como Pablo Bispo, Arthur Marques, Arthur Gomes (Maffalda) e Guilherme Pereira (Zebu). Mas além da seleção de peso, que tem ajudado a moldar a cara do pop nacional escrevendo hit atrás de hit para nomes como Pabllo Vittar (“Vai passar mal”), Alice Caymmi, Iza, Lucas Lucco e Cléo (Pires), para citar alguns, Mateus também traz consigo a expertise dos anos à frente da Banda Uó.

Rodrigo Gorky, Mateus Carrilho e Pabllo Vittar durante sessão em estúdio, em clique publicado no 2017 (Foto: Reprodução Instagram)

“Eu vou ser bem sincero… As pessoas não sabem muito bem como são as coisas e só entendem o que aparece no produto final, mas grande parte da produção artística [da Banda Uó] era eu. Eles mesmos [Candy e David] podem falar isso. Tanto que cada um está vindo aí com seu próprio material, e o que eles vão fazer é bem diferente”, explica Mateus, escolhendo com cuidado as palavras na hora de explicar que os fãs poderão notar algumas semelhanças entre o seu som como artista solo e o que estavam acostumados a ouvir da Banda Uó.

“Não é exatamente igual. Tem aquela pegada pop que eu sempre gostei de fazer, mas em um tom mais filtrado e simples, sem a pirofagia de antes. Claro, ainda vão ter algumas similaridades, e eu vou achar ótimo se as pessoas notarem isso”, enfatiza. Para o processo, ele conta que decidiu revisitar o passado e anotações antigas que encontrou guardadas: “As coisas aconteceram de forma bastante orgânica. Ouvi uns acordes antigos, dali já saiu uma batida e nasceu a ‘Privê’, por exemplo, uma parceria minha com o [Pablo] Bispo. Então eu sentei com os outros produtores e seguimos compondo”.

Eu quis falar sobre coisas simples, com as quais as pessoas poderiam se identificar

Mateus explica que entrou de cabeça no processo criativo do EP sem nenhuma intenção específica de qual sonoridade queria seguir dali em diante: “Eu quis falar sobre coisas simples, com as quais as pessoas poderiam se identificar. Ao mesmo tempo, eu sou um contador de histórias. Escrevo sobre o meu universo, e essa é a primeira vez que tomo sozinho as minhas decisões. Não que antes fosse ruim, mas agora posso dar a minha cara para as músicas e saber que o público vai se identificar mais comigo, como pessoa”.

A preocupação em ser enxergado como indivíduo e ter seus méritos reconhecidos no trablaho é compreensível. Por quase uma década, o público assimilou inevitavelmente o nome de Mateus ao da Banda Uó, criada em 2010 por ele, Davi Sabbag e Mel Gonçalves (mais conhecida como Candy Mel). Após algumas paródias divertidas de músicas pop norte-americanas, o grupo estourou pela internet com seu primeiro single oficial, uma versão de “Whip My Hair”, da Willow Smith, que acabou se tornando “Sheik de Amor” na mão do trio e lhes rendeu o prêmio de Melhor Webclipe no MTV Video Music Brasil, em 2011.

Banda Uó recebe de Marimoon o prêmio de Melhor Webclipe no VMB 2011 (Foto: Reprodução)

A partir daí, a mistura popular de ritmos brasileiros com música pop e eletrônica, o uso inteligente e ocasional de gírias LGBTs nas letras e a irreverência abusada das performances e videoclipes fez com que a Banda Uó se tornasse mais do que uma sensação online. Seguiram-se shows pelo Brasil afora, campanhas de publicidade, participações em programas de TV, dois discos e um DVD ao vivo, esses últimos sob a chancela da Deckdisc.

É importante lembrar que, quando a Banda Uó surgiu em Goiânia, o cenário pop brasileiro era bem diferente do atual. Anitta ainda era apenas uma MC carioca, enquanto Ludmilla ainda não tinha surgido nem como MC Beyonce e Pabllo Vittar ainda fazia covers de Whitney Houston no Youtube. O sertanejo universitário estava começando a despontar com força total nas rádios e TV do país graças ao sucesso de Michel Teló e os excessos do rap ostentação estavam longe de chegar ao mainstream como hoje. Isso sem falar que ver uma banda fronteada por dois gays assumidos e uma vocalista trans não era algo exatamente comum no Brasil.

A Banda Uó nasceu por motivos muito específicos, em uma outra fase das nossas vidas

“A Banda Uó nasceu por motivos muito específicos, em uma outra fase das nossas vidas. E, ao longo do tempo, esses motivos mudaram. Nós sempre fomos muito sinceros em relação a isso”, explica Mateus sobre o hiato anunciado pelo grupo em outubro do ano passado. Através das redes sociais, o trio disse um “até logo”, afirmando que o motivo da pausa era a necessidade dos artistas de experimentarem coisas novas. Dois meses depois veio o último single, “Tô na rua”, e já em março deste ano eles encerraram a última turnê com um show de despedida repleto de participações especias.

“Nós já havíamos conversado há mais de um ano sobre dar essa pausa. Às vezes você quer chegar em algum lugar e não pode tentar carregar ninguém. Nós três queríamos coisas muito diferentes e eu lutei muito pela Banda Uó. As pessoas não sabem, mas a parte criativa era toda minha”, explica Mateus, responsável pela direção de mais da metade dos videoclipes lançados pelo grupo, negando que o sucesso obtido com “Corpo Sensual”, sua parceria com Pabllo Vittar que rendeu milhões de streams, tenha influenciado na decisão do hiato. “Claro, o trabalho abriu minha mente para outras oportunidades, mas essa conversa já existia antes”, completou.

Mateus Carrilho e Pabllo Vittar nas gravações do clipe de “Corpo Sensual” (Foto: Divulgação)

Mas ao contrário de outros grupos que se separam em meio a climão, troca de farpas pela imprensa e indiretas escondidas em música, Mateus garante que a Banda Uó, mesmo separada, será sempre uma família: “A gente tá sempre junto ainda. Claro, demos uma pausa agora, até porque eu acho importante para não nos influenciarmos. Mas não existe nada ruim entre a gente”.

“Sempre fiz música para as pessoas se divertirem, e vou continuar fazendo”, afirma Mateus Carrilho (Foto: Divulgação)

Mateus, que preferiu dar esses primeiros passos na carreira solo de forma independente, sem a pressão de uma gravadora cobrando datas e resultados por trás, ainda conta que o processo de composição para suas músicas veio na hora certa: “Eu não estava mais na vibe de fazer aquela parada escrachada. Isso [meu EP] já saiu natural, porque era algo que eu queria. Não sei se teria feito outro disco para a Banda Uó com tanta vontade”, explica.

Além da música, que já está disponível nas plataformas de stream, Mateus participa nesta terça (29) do “Prazer, Pabllo Vittar” e, no dia seguinte, estreia o clipe de “Privê”. Ainda sem data para o lançamento do EP, ele garante que mostrará um lado diferente e mais eclético de sua persona criativa, e que terá até “uma música de mega sofrimento, bem dramática e de coração partido”, mesmo que ele não esteja vivendo esse momento agora: “Eu sempre fiz música para as pessoas se divertirem, e vou continuar fazendo. Tô feliz, fiz tudo com muito carinho e quero que as pessoas vejam isso”.

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