Imprevisível e devastador, o ano não foi uma das melhores experiências para artistas ou, bem, para qualquer ser humano, no geral. Ainda assim, foi preciso seguir em frente (quando possível). Com muito fundo verde, ring lights, lives e obstáculos no caminho, a arte conseguiu se manter, mesmo com a ausência de plateias e a necessidade de repensar seus próprios processos de produção. Na música, não foi diferente. Abaixo, listamos as melhores músicas de artistas LGBTI+ em 2020, no Brasil e no mundo, com lançamentos do pop ao funk, do hip hop à MPB.

Da 50ª a 31ª posição, você encontra as 20 principais músicas internacionais, e se não são todas de artistas da comunidade, são de aliados e aliadas que acabam dominando nossa atenção de uma forma ou de outra. Daí para cima, selecionamos os melhores lançamentos brasileiros entre estrelas em ascensão, parcerias poderosas e ícones já estabelecidos. Confira:

50. Arca e Rosalía – “KLK”: a produção de Arca pode soar meio caótica para quem não está acostumado à PC Music, mas é ao encontrar o gingado de Rosalía que ela cria uma das parcerias mais inusitadas e bem vindas do ano.

49. Adam Lambert – “Velvet”: apesar de ter recebido menos atenção, Adam também investiu na estética disco sem vergonha de ser nostálgico e soltar o vozeirão que o transformou em ídolo mundial. O disco traz uma parceria deliciosa com Nile Rodgers em “Roses” e outros bons momentos como o aceno a Prince em “Loverboy”, mas é a faixa-título que traz a assinatura infalível de Adam nos vocais e nas letras.

48. Kim Petras – “Malibu”: uma das praias mais referenciadas da música, “Malibu” já foi o cenário perfeito para o desespero de Courtney Love e o conto de fadas que Miley Cyrus viveu enquanto casada. Mas para Kim, o litoral da Califórnia é o cenário perfeito para uma festa com os amigos e um amor de verão, mesmo que parte dessa genialidade pop se deva ao dedo de Dr. Luke.

47. Lindsay Lohan – “Back To Me”: mais de uma década depois do seu último lançamento oficial, Lindsay finalmente ouviu o pedido dos fãs e entregou o prelúdio do que vem prometendo há 13 anos – um disco de dance pop, o terceiro e último do seu contrato com a gravadora Casablanca. Apesar de não ter investido em divulgação e nem em clipe, a música foi surpreendentemente bem recebida pela crítica e mostrou que Lilo já está pronta para voltar a si mesma.

46. Kesha – “Shadow”: apesar de pouco celebrado, “High Road” é um trabalho mais fiel à discografia de Kesha do que seu antecessor, trazendo também alguns elementos novos que apareceram em “Rainbow”. Apesar de faixas divertidas como “Honey” e “Raising Hell”, é em “Shadow” que a artista retoma a influência do gospel para se reafirmar como vocalista, declarar seu amor próprio e mandar todos os haters para algum lugar melhor do que nas DMs dela.

45. Pussycat Dolls – “React”: pouco antes de o coronavírus começar seu legado de destruição e cancelamentos, deu tempo de os fãs do pop nos anos 2000 terem algumas poucas notícias boas, e o aguardado retorno das Pussycat Dolls foi uma delas. Com uma performance de estreia no palco do X Factor UK literalmente banhada em coreografias e nos vocais de Nicole Scherzinger, nós ainda vamos ter que esperar um pouco mais para as meninas realizaram os shows já anunciados no Brasil, mas “React” é um bom indício do que pode nos esperar.

44. Frank Ocean – “Dear April” : lançada em 2019 apenas em vinil, a versão acústica de “Dear April” chegou ao streaming no início de abril, acompanhada pelo lado a de “Cayendo”. É nela que Frank traz suas letras famosas por dilacerar qualquer coração ao cantar com o já habitual decodificador de voz sobre um amor que deu errado e deixando espaço para que ainda sintamos vontade de uma versão finalizada da faixa.

43. Britney Spears – “Mood Ring (By Demand) ” (Pride Remix): enquanto vive o maior hiato de sua carreira e talvez um dos piores em sua vida pessoal, a princesinha do pop brindou os fãs com um mimo em junho, lançando nas plataformas “Mood Ring”, faixa que até então só existia na versão física e japonesa do disco “Glory”. Se o lançamento no mês do Orgulho LGBTI+ não foi mensagem clara o suficiente, a música ainda ganhou um remix batizado “Pride”, o único com novos vocais, nos quais ela reafirma: só há uma bitch, uma única verdadeira. A nova produção parece ter sido pensada sob medida para as baladas gays do verão em Mykonos ou até em Ipanema, ainda que alguns de nós ainda prefira esperar a pandemia passar para aproveitar esse momento de glória.

42. Harry Styles – “Watermelon Sugar”: apesar de até hoje não haver certeza sobre a sexualidade de Harry (e não há nada errado nisso), “Fine Line” deixou as linhas de sua suposta fluidez um pouco mais tênues, seja pela insistência em usar roupas “femininas” ou pelas pessoas que escolheu para se esfregar em “Lights Up”. Mas é a dedicatória do clipe de “Watermelon Sugar” “à arte de tocar” e todas as imagens do ex-One Direction se deliciando na água da melancia (procure saber) que tornaram a música no perfeito hino de verão para qualquer pessoa que goste da fruta.

41. Meghan Thee Stallion e Beyoncé – “Savage”: repetindo o faro que a fez regravar “Mi Gente”, Beyoncé pulou nesse remix de uma das músicas mais executadas nos Estados Unidos e hoje já é impossível ouví-la sem imaginar o verso da Queen B. sobre uma stripper que deve abrir conta no OnlyFans.

40. Taylor Swift – “betty”: ainda é cedo para determinar exatamente o estado de melancolia, escapismo e nostalgia que o isolamento social espalhou no mundo ao longo do ano. Ainda assim, “folklore” surge fundado nesses sentimentos, que encontram na escrita de Taylor uma válvula de escape para a artista e, felizmente, para o público. Apesar de não ser um trabalho exatamente LGBTI+, “betty” acabou se tornando um hino não-oficial e platônico para as fãs da cantora, que logo trataram de interpretar a letra da música como uma forma mirabolante de a artista declarar seu amor por outra mulher.

39. Katy Perry – “Cry About It Later”: uma das popstars que mais ralou nessa pandemia, Katy não deixou de divulgar seu quinto disco de estúdio nem nos últimos meses de gravidez, estabelecendo um padrão alto para o que esperar de performances pré-gravadas. Ainda assim, “Smile” foi massacrado pela crítica e subestimado por grande parte do público geral, que não prestou a devida atenção a pérolas como essa. Ao lado de “Tucked” e “Teary Eyes”, as músicas mostram que a californiana ainda detém o dom de comandar uma pista de dança com seu pop chiclete.

38. Troye Sivan, Kacey Musgraves e Mark Ronson – “Easy”: a faixa já era uma das melhores amostras do EP “In a Dream”, mas quando Troye consegue reunir a produção de Mark com a voz suave de Kacey em versos sobre um relacionamento que acabou antes da hora, a mensagem soa mais clara. O clipe, com direito a mullet cortado no banheiro e Kacey como dançarina de beira de estrada, também é um orgasmo visual dentro do universo criado previamente por Mark em “Find U Again”.

37. Sam Smith – “Dance (‘Til You Love Someone Else)”: com a divulgação do disco “Love Goes” (ex-”To Die For”) interrompida pelo coronavírus, Sam precisou se reinventar e o trabalho acabou passando batido para muita gente, assim como essa faixa. Escondida entre os trocentos singles do projeto, “Dance” traz a produção inspirada de Guy Lawrence, metade do duo por trás do Disclosure, provando que o vozeirão de Sam também funciona muito bem para esquecer suas mágoas dançando embaixo de um globo espelhado.

36. Dua Lipa, Madonna, Missy Elliott e The Blessed Madonna – “Levitating”: é difícil pensar em alguma popstar que tenha trabalhado mais do que Dua Lipa nessa quarentena, que toda semana parecia lançar um novo clipe, remix, parceria, performance ou o que fosse necessário para chamar nossa atenção de volta ao “Future Nostalgia”. Mas mesmo entre tantos feitos em tão pouco tempo, tirar Madonna da toca para cantar uma música já lançada é uma conquista que merece respeito e aplauso. Casar isso com um rap de Missy Elliott e a produção de Blessed Madonna é ter a certeza de entregar um mimo para os gays e garantir sua presença nas pistas de dança que pretendemos invadir no mundo pós-covid.

35. Jessie Ware – “What’s Your Pleasure”: a cada disco lançado em 2020, a volta do house e da disco music davam mais um passo em direção ao completo retorno para o inconsciente coletivo e o álbum de Jessie Ware foi uma das peças centrais para esse movimento. É no primeiro “uuuh-uh-uh-uuuuh” que ela anuncia uma noite onde tudo é possível, durando até as primeiras horas da manhã pela mãos do produtor James Ford, que construiu um trabalho coeso e irresistível. E por mais que tenha ganhado um clipe oficial, é o dance video com o dançarino Nicolas Huchard montado e se esfregando pelo quarto que traduziu melhor o nosso desespero pela falta das baladas ao longo do ano.

34. Kylie Minogue e Dua Lipa – “Real Groove”: não houve uma alma viva que tenha ouvido o “Future Nostalgia” sem reconhecer a influência de Kylie Minogue nos refrões de pop dance e quando a australiana finalmente lançou o seu próprio “Disco” meses depois, a parceria entre as duas artistas já estava pedida e prometida. Que ela tenha se materializado em uma das melhores músicas do álbum e nos últimos minutos de 2020 foi um presente divino de Afrodite.

33. Rina Sawayama – “XS”: o pop da última década trilhou caminhos tortuosos e até duvidosos ao enveredar por gêneros que tiravam as bridges e refrões empolgantes dos anos 2000. Mas em “SAWAYAMA”, Rina conseguiu prestar homenagem aos anos dourados de nomes como Britney, Christina e até os primeiros trabalhos de Gaga, sem soar saudosista demais e esbanjando opulência na medida certa.

32. Miley Cyrus – “Midnight Sky”: enquanto suas contemporâneas no pop mantiveram-se fiéis a fórmulas que elas mesmas já mostraram em momentos anteriores da carreira – no folk, r&b ou grandes baladas -, Miley decidiu se reinventar mais uma vez, nessa que talvez seja a sua faceta mais autêntica até agora. Samplear “Edge of Seventeen” não é uma tarefa fácil nem nova (e Beyoncé já tinha feito isso anos antes em “Bootylicious”), mas ajudou com que “Midnight Sky” desse início a uma nova era da artista, onde ela soa mais segura de si nas letras e nas performances vocais, que renderam excelentes releituras de Blondie, Cranberries, Hole, Britney Spears e ainda as parcerias com Joan Jett, em “Bad Karma”, e Billy Idol, “Night Crawling”, ambas altamente sexualizadas e amplificadas por guitarras sujas e baterias pesadas.

31. Lady Gaga e Ariana Grande – “Rain On Me”: depois de arrastas os fãs por anos de divulgação em trabalhos voltados para o rock, country, jazz e cinema, Gaga finalmente brindou seus monstrinhos com o amanhecer de uma nova era pop, em um planeta distante com tribos que nunca foram muito bem explicadas, mas ainda assim pareciam melhores que os terráqueos.“Rain On Me”, sua maior colaboração feminina desde “Telephone” com Beyoncé (e isso não é um ataque a “Hey Girl”), está no centro dessa fantasia futurista e apocalíptica, que trouxe Ariana de volta aos tempos em que ela fazia gays dançarem em cima de um  ônibus em movimento só com o poder de um refrão vocalmente poderoso e essencialmente pop. No topo disso tudo, o clipe ainda traz duas gerações de popstars do primeiro escalão com looks arriscados, coreografias elaboradas e dançando de mãos dadas na chuva, uma cena que não vemos a hora de ser replicada ao vivo, em um bloco de carnaval ou festa de rua no mundo pós-covid.

30. Aretuza Lovi – “I Love You Corote”: antes de o mundo se deparar com a pandemia, ainda deu tempo de curtir um carnaval às pressas e, mais uma vez, Aretuza se inseriu nos hits que dominaram a festa com esse forrozão perfeito para quem ainda tem um fígado saudável.

29. SZEL – “Mil Armários”: no ano em que se lançou como artista, SZEL entregou lançamentos de janeiro a dezembro, passeando por referências do pop ao R&B. No EP de estreia “Nuncamais”, essa música traz os melhores elementos disso, enquanto divaga sobre uma vida fora dos armários.

28. CTRL + N e Tchelo Gomez – “Ainda Dá Tempo”: já especializados em trocadilhos divertidos (vide “Tomara que caia”), o duo do CTRL + N convidou para uma música mais séria do que as anteriores, apresentando um novo e promissor lado da dupla. A letra traz uma mensagem clara de esperança para vítimas de homofobia, potencializada pelos versos de Tchelo.

27. Urias – “Racha”: com uma produção minimamente curada pela equipe da Brabo Music, Urias lançou mais um single incendiário para as pistas de dança, apoiada na bravata com que entrega o rap sobre a lei das ruas ser “trá-trá-trá”.

26. Frimes – “Culito”: a drag faz-tudo do pop brasileiro produziu com maestria seu próprio EP de estreia, “F1”, alimentando aquelas que gostam de voguing e muita bateção de cabelo na pista. Aqui, ela resume tudo o que você pode esperar da personagem: escracho e deboche em rimas espertas sobre um lifestyle de patrícia futurista e ultrassexualizada.

25. Gabeu e Alice Marcone – “Pistoleira”: em um ano que o sertanejo se mostrou ainda tão hostil para LGBTQIA+, Gabeu e Alice lançaram essa parceria que traz todos os ingredientes necessários para agradar qualquer fã de sofrência. Da dor de cotovelo à produção perfeita pra arrastar a bota no chão de areia, a dupla mostra que o horizonte do queernejo ainda guarda muitas surpresas boas pro futuro.

24. Ventura Profana e podeserdesligado – “Vitória”: um dos mais importantes trabalhos do ano, o EP “Traquejos Pentecostais Para Matar o Senhor” é quase um novo evangelho de resiliência e triunfo travesti. Nessa faixa, a produção de Jhonatta Vicente e a projeção vocal de Ventura trazem tons de house que anunciam uma vitória contagiante em um futuro próximo.

23. Gloria Groove e Manu Gavassi “Deve ser horrível dormir sem mim”: Você pode não gostar de Manu Gavassi, mas foi impossível escapar da artista esse ano, a participante que mais brilhou em uma das poucas distrações benignas que o Brasil teve em 2020. Se uma coisa o BBB provou foi a habilidade de Manu em controlar a própria imagem e transmitir exatamente a mensagem que ela deseja em seu trabalho, algo que ela repete muito bem na construção “do clipe pop perfeito”.

22. Guigo – “V.S.F.”: em seu álbum de estreia “Lúcifer: O Evangelho Segundo Meus Demônios”, Guigo prova que tem fôlego e versos pra crescer muito além do nicho queer na cena rap. Em VSF, ele não apresenta só um trocadilho épico que inverte completamente seu sentido original, mas também uma declaração de superação contagiante.

21. Liniker – “Psiu”: o primeiro single autoral de sua carreira como artista solo traz Liniker derramando poesia nos versos e na voz, que passa a maior parte do tempo delicada e um tom acima do que estamos habituados a ouvir. É um convite delicado que nos chama a ouvir com atenção o que Liniker dirá daqui pra frente.

20. As Baías e Cléo – “Você é do Mal”: em um ano altamente prolífico, As Baías lançaram não só o ótimo EP “Enquanto Estamos Distantes” no início da quarenta, mas uma série de músicas com parcerias incríveis, de MC Rebecca e Rincon Sapiência a Linn da Quebrada e Xand Avião. Mas é com Cléo que o trio chega mais perto do pop e das pistas, trazendo aquele som novo, cativante e ao mesmo tempo nostálgico. O clipe é um primor à parte.

19. Linn da Quebrada e BADSISTA – “Quem soul eu?”: o talento de Linn para desconstruir a língua portuguesa em fonemas, raízes e sufixos – sem deixar que o artifício pareça com os trocadilhos baratos que se multiplicam na internet – deve ser sempre enaltecido, principalmente quando vem atrelado à mão pesada de Badsista no grave.

18. Majur – “Andarilho”: a cada passo que dá na carreira, Majur aumenta a expectativa sobre seu disco de estreia. “Andarilho” traz a artista soltando o gogó acompanhada apenas por violões, e a verdade é que ela não precisaria nem disso para nos emocionar.

17. Potyguara Bardo e Sample Hate – “Overdue”: depois de “Simulacre”, Potyguara se une ao duo do Sample Hate para um reggae delicioso em inglês, em que mostra pronúncia impecável sobre uma produção malemolente que traduz muito bem para qualquer idioma a vibe da música.

16. Alice Caymmi – “Me Leva”: Acostumada a releituras marcantes desde que apresentou sua versão para “Unravel”, da Björk, Alice resgata esse clássico do Latino que mostra todo o potencial emotivo de sua voz ao ressignificar músicas pop que você pode não ter dado a devida atenção ainda. O single é a continuação perfeita para a sua versão de “Princesa”, outro clássico do funk melody de Mc Marcinho, e um ótimo retorno da artista ao gênero.

15. Gloria Groove – “Suplicar”: agradando fãs e indústria, Gloria mesclou em “Affair” suas duas principais facetas como compositora: as de rapper e vocalista influenciada pelo R&B. O trabalho traz grandes e emotivas demonstrações vocais, como “A Tua Voz”, mas é nessa aqui que ela mostra em pouco mais de três minutos a desenvoltura com que alterna entre os vocais de Gloria e o flow de Daniel.

14. Clarice Falcão e Linn da Quebrada – “O After do Fim do Mundo”: depois de mergulhar no universo da eletrônica com “Tem Conserto”, Clarice chama o produtor Lucas Paiva para assinar essa parceria inusitada e bem-vinda com Linn. Perfeita para as pistas pós-apocalípticas, a música nos convida a fritar na xepa de 2020 e dançar com uma mão na consciência enquanto rola o after do after do after (20x).

13. Pabllo Vittar, Anitta e Luísa Sonza – “Modo Turbo”: não que precisássemos de mais uma música sobre o poder da raba, da sentada ou da rebolada, mas a chegada do verão, a falta do carnaval e a potência conjunta dos três maiores nomes do pop brasileiro já fez de “Modo Turbo” um hit antes mesmo de nascer. Polêmicas à parte, o videoclipe com estética gamer também foi um grato presente no final desse ano, mostrando que há tempos o pop brasileiro não deve nada às produções gringas.

12. Silva e Anitta – “Facinho”: seguindo o conceito de seu antecessor (“Brasileiro”, 2018), Silva mergulha ainda mais fundo na MPB tradicional e nas composições com pegada bossa, na letra e na produção, com direito até a participação de João Donato em “Quem Disse”. A maior prova disso é “Facinho”, parceria que continua a bem-vinda colaboração com Anitta, que aqui parece se divertir ao deixar a voz correr solta nas notas altas e no tema romântico da faixa.

11. Ludmilla e DJ Will 22 – “Cobra Venenosa”: Depois de uma das maiores tretas do pop brasileiro este ano, Ludmilla aproveitou seu traquejo pra criar refrões-chiclete e o ódio no peito pra extravasar sobre a briga com Anitta nesse single, lançado na mesma semana em que ela expôs o caso nas redes. Mais uma vez, Lud mostra que sabe como ninguém equilibrar uma batida de funk com o deboche imbatível que ela nos presenteia desde quando mandava as recalcadas escutarem o papo da (MC) Beyoncé.

10. Getúlio Abelha – “Sinal Fechado”: uma das melhores novidades na música queer brasileira, Getúlio bebe na fonte de clássicos da sofrência cearense com letra despudorada sobre a vontade que fica num coração partido. A virada com o sample de “Cry For You (You’ll Never See Me Again)” traz uma reviravolta bem humorada e ao mesmo tempo certeira para a proposta. O clipe é uma obra à parte e uma das produções mais instigantes e ambiciosas do ano, bebendo em referências do trash e do terror que transformam a letra em uma jornada sangrenta de vingança.

9. Jup do Bairro e Deize Tigrona – “Pelo Amor de Deize”: O resgate de Deize Tigrona em seu antecipado EP de estreia foi uma das muitas boas surpresas que Jup trouxe em “Corpo Sem Juízo”. Que a parceria venha embalada numa produção de rock e não de funk é a cereja inusitada do bolo, prova de que o universo singular da artista ainda vai nos surpreender muito mais.

8. Daniel Peixoto e Filipe Catto – “Postal de Amor”: resgatando uma parceria quase esquecida entre Fagner e Ney Matogrosso, Daniel e Catto trouxeram os versos da década de 80 para os dias de hoje com uma produção trip hop, violinos divinos e uma harmonização vocal irresistível, que fica presa na cabeça como o gosto do licor.

7. Daniela Mercury – “Apesar de Você”: Com a força do axé e de um time poderoso de aparições em seu clipe-manifesto, a Rainha do Axé e da Balbúrdia resgatou uma das maiores canções-protesto da ditadura militar no Brasil para celebrar os direitos humanos. Nada melhor para fechar 2021 do que a voz poderosa de Daniela lembrando que amanhã há de ser outro dia.

6. Rico Dalasam, Mahal Pita e Chibatinha “Mudou como?”: Rico já tinha indicado que mostraria seu lado mais emocional com “Braille”, uma declaração dilacerante e, não coincidentemente, influenciada por Frank Ocean. Em “Mudou como?”, o rapper traz a mesma aptidão do norte-americano em detalhar pessoas e situações só o suficiente para contar sua história e também abrir espaço para a interpretação do ouvinte.

4. Adriana Calcanhotto – “Bunda Lê Lê”: não que os cânones da MPB nunca tenham se arriscado no funk ou que a própria Calcanhotto não tenha nos surpreendido antes (com, sei lá, um medley de “Music/Impressive Instant”, por exemplo), mas “Bunda Lê Lê” é provavelmente a última coisa que você esperaria dela no isolamento de uma pandemia. Ouvi-la respondendo a si mesma que o que se faz na quarentena é “sentar a bunda e ler, ler” (e ir à luta!) é o melhor conselho que podíamos ouvir nesse ano. A dança abstrata em uma sala cheia de fumaça e luz, mas vazia de gente, é também a melhor representação visual do que significou ter que passar nove meses de 2020 frequentando festas pelo zoom.

4. Luiza Nobel “Estamos Bem”: esse reggae é quase um mantra de fortalecimento da saúde mental e a mensagem exata que precisávamos ouvir em 2020. Com a voz imponente, Luiza mostra por quê tem feito tanto barulho no Ceará e ainda promete muito pela frente.

3. Valéria Barcellos “Ninguém Te Avisou”: você já deveria conhecer Valéria apenas pela sua história e eloquência, mas é ao ouvir sua voz gritando que consegue entender o fascínio que ela exerce sobre quem já a viu cantar. Em “Ninguém Te Avisou”, ela alterna entre a raiva e o regozijo, e a sinceridade na potência do seu gogó é de arrepiar os pêlos da nuca.

2. Letrux “Déjà Vu Frenesi”: “Se organizar direito, todo mundo chora. Mas nem todo mundo goza.” O segundo disco de Letícia Novaes como Letrux trouxe tudo o que os fãs do Climão queriam e um pouco mais, inclusive o clima mais sombrio, tão apropriado para o que 2020 se tornaria poucas semanas após o projeto nascer. No abre-alas dessa alegoria de lágrimas, “Déjà Vu” é o prelúdio perfeito pro álbum e pro ano, com aquele gosto desesperador de que a gente já esteve atolado por aqui.

1. Pabllo Vittar “Rajadão”: o aguardado “111” chegou repleto de pérolas na tracklist, mas nenhuma cativou os fãs com tanta empolgação logo de cara como esse gospel disfarçado de psytrance. A produção é uma das mais refinadas do time Brabo Music, que continuou 2020 no topo do seu jogo e mantendo Pabllo como a musa perfeita para suas composições, cada vez mais empenhada em mostrar sua evolução vocal como artista.