Valéria Barcellos nasceu há 40 anos, em um 17 de dezembro, no interior do Rio Grande do Sul. Uma semana depois, foi o Menino Jesus no presépio da cidade. A mãe dela contou que, assim que a viu quietinha na manjedoura, soube que a filha ia ser artista. “Não foi um nascimento, foi uma estreia.” De lá para cá, Valéria trocou Santo Ângelo por Porto Alegre, o nome artístico Houston por Barcellos e até o estado civil algumas vezes, mas nunca deixou de ser quem é.
Aqui, a cantora e atriz – que acaba de vencer um câncer – fala do que passou e do que virá, planos que também divide com seus seguidores no Instagram. Sempre com uma certeza: se ela tem voz, é para ser escutada.
HÍBRIDA: O que você lembra da sua infância?
VALÉRIA BARCELLOS: Quando eu era criança, pelos sete anos, fui tomar banho com a minha mãe. Vi minha mãe sem roupa, olhei para ela e perguntei: o que é isso? A mãe achou que eu estava falando dos pelos pubianos dela e me disse: quando tu crescer, tu vai ser assim também. Fiquei com aquilo na cabeça. Tinha uma tia que ia na minha casa e ela tinha uma verruga no nariz. Ela cauterizava essa verruga e ela voltava. Eu pensei: ah, entendi, isso aqui que eu tenho vai cair quando eu crescer e eu vou ficar igual à mãe! (risos). Achava que todo mundo era menina e o de todo mundo caía. Numas pessoas mais tarde, em outras mais cedo. Depois dos sete ou oito anos, tive uma decepção terrível, porque não caiu. (risos)
Minha mãe disse que era pra eu virar o que eu sempre tinha sido. Mãe sempre sabe.
H: Quando você se entendeu como mulher?
VB: A minha transição mesmo foi dos 17 para os 18 anos, quando fiz tratamento hormonal. Fiz sem receita, sem acompanhamento, coisa que eu não recomendo para ninguém. Eu já estava em vias de vir para Porto Alegre fazer o vestibular. O tratamento é muito doído. É exteriorizar o interior, né? Minha mãe disse que era pra eu virar o que eu sempre tinha sido. Mãe sempre sabe.
H: Você teve apoio da sua família?
VB: Minha mãe falou assim: ai, eu só tenho medo que tu te machuque. Eu vim a entender isso depois de um tempo, em Porto Alegre. No dia 30 de agosto de 2015, fui esfaqueada por um cara na rua. Tinha feito um show no dia anterior, estava empolgada ainda, feliz e tal. O cara veio da direção contrária e me disse um monte de coisas. Eu fui pra cima discutir, ele tirou uma chave de fenda da mochila e me atingiu. Fiquei ali ensanguentada na rua, tentando entender aquilo. Até hoje não entendo. A pessoa saiu ilesa, caminhando, como se o direito dela tirasse o meu ou como se o meu tirasse o dela, sei lá, de estar ali.
Mas eu levo disso uma coisa muito boa para a minha vida, porque ele falou uma frase muito pontual, que é: “teu lugar não é aqui”. Ele tinha razão, de certa forma. Eu sou uma voz que tem o privilégio de ser ouvida quando canta, então acho que meu lugar realmente não era só ali, era levando e dizendo essas coisas para as pessoas. Que isso acontece, sim; que é mais comum do que imaginam; que pode acontecer com qualquer um, trans ou não, mas que trans sofrem um pouquinhooo mais (risos). E eu não estou comparando sofrimentos, só dizendo que acontece mais comigo que com quem é normativo, branco, essas coisas.
H: Como era a sua vida em Santo Ângelo?
VB: Eu cantava numa banda de baile e já tinha começado o tratamento hormonal, mas meus colegas não entenderam muito bem. Era muito dolorido. Eu tinha que cantar com uma faixa de atadura no peito pra não aparecer, porque eu cantava vestida de terno, olha que coisa mais estranha! E aí eu usava aquela faixa pra apertar e comecei a ouvir muitas coisas ruins deles. Chegou um dia que um cara falou pra mim: “Vamos fazer um teatrinho: aqui na banda tu é uma coisa, e fora tu pode ser o que tu quiser”. Eu achava que não era nem gente nessa época. Que não tinha nem direito de ser gente. Mas aí eu comecei a pensar que isso não influenciava no meu talento diretamente.
Eu achava que não era nem gente nessa época, que não tinha direito de ser gente.
Eu senti que as coisas poderiam ser diferentes, e saí da banda em 2004. Fiquei em Santo Ângelo um tempo, meu dinheiro acabou (risos). Morava sozinha, a minha mãe tinha morrido e meu pai me colocado pra fora de casa. Quer dizer, pedido gentilmente pra eu me retirar da casa, que era minha também. Essas coisas que acontecem… Fui morar num porão onde não conseguia nem ficar em pé. Às vezes, faço uma retrospectiva das coisas que já passei e penso: meu Deus, como sobrevivi?
H: Foi aí que você veio para Porto Alegre?
VB: Quando acabou meu dinheiro, não tinha outra opção além de vir pra Porto Alegre. Vim de Santo Ângelo com 25 anos, já bem velhinha. Cheguei pra trabalhar na C&A, achava que eu não ia acontecer enquanto cantora. Nessa época, eu morava na casa da minha tia, em São Leopoldo (região metropolitana de Porto Alegre), e um amigo querido, o Jeferson, me disse pra ir num lugar de Porto Alegre que tinha videokê. Ele achava que, se eu cantasse lá, alguém me veria e eu ia conseguir trabalho. Eu não tinha R$ 3,00, que era o dinheiro da passagem, e esse amigo me emprestou.
Daí eu fui no videokê e comecei a cantar Whitney Houston (Valéria cantarola “I will always love you”). O bar estava cheio e todo mundo foi parando pra me ouvir. O lugar era o Venezianos, onde trabalho até hoje. Falando assim, parece que foi tão fácil, tão rápido. (risos)
H: O câncer apareceu quando você vivia o seu melhor momento.
VB: Foi chocante, porque quando a gente descobre que está com câncer parece que já morreu, né? Parece uma sentença de morte. É essa a sensação quando se conta para os outros. E não é isso. É uma herança genética. Meus pais podiam ter deixado dívidas, eu dava um jeito de pagar, mas sobrou um câncer. (risos)
Era 2018, eu ia estrear uma peça de teatro sobre uma mulher trans que tem o desejo de ser mãe – assim como eu. O diagnóstico chegou no dia da estreia. E tive que entrar no palco mesmo assim. Pari essa peça, mas o câncer me trouxe muita luz. Não se trata de romantizar a doença, que é horrorosa. Eu digo: câncer não dói, não coça; se observem, olhem seu corpo. Se tu estás com uma mancha que não sabe o que é, vai investigar. Começou assim, com uma manchinha no meu pé que eu achei ser micose de praia. Descobri que era um tipo de câncer raro de pele e músculos.
Às vezes, faço uma retrospectiva das coisas que já passei e penso: meu Deus, como sobrevivi?
H: Você se sente diferente depois de ter passado pelo câncer?
VB: Calma lá, ainda estou passando! (risos) A descoberta da doença me abriu outras possibilidades. Lembrei que não sou dona do meu tempo, principalmente. Por exemplo, escrevi uma peça durante o tratamento, que ainda vai acontecer. A pandemia me tirou – nos tirou – do eixo, mas vai acontecer. É uma peça chamada “Cabeças Carecas”, onde colhi depoimentos de outras mulheres em tratamento. Tem coisas muito engraçadas e também muito tristes.
É curioso pensar que só pude terminar a peça na última sessāo de quimioterapia. Isso foi angustiante, porque quero as coisas pra ontem, entendeu? Tive que construir isso ao longo de um tempo que não era meu, mas o que o câncer pedia. A gente aprende muito na dor. Eu descobri no início, o que foi melhor, porque o câncer é assim: qualquer dia que tu descobres antes é um dia que tu ganhas.
H: E sobre a peça que você estava ensaiando antes de ter o diagnóstico?
VB: Era “Entrega para Jezebel”, de um escritor piauiense chamado Roberto Muniz Dias. Direção do Rodolfo Lima, que faz os textos do Marcelino Freire. Tive que ir pra São Paulo, passar um tempão lá. Um teste de resistência pra um casamento. (risos)
H: Há quanto tempo você está casada?
VB: Há três anos. Esse menino que estou namorando, nós moramos juntos, ele é interessantíssimo, porque é um menino negro – eu nunca tinha namorado meninos negros antes. Engraçado, né? Não que tenha essa obrigatoriedade, mas a gente tem muito mais proximidade, porque ele também é um homem trans, aí a gente tem muita história igual. Não é empatia, é congruência. Não conheço a família dele: é a família dele lá, e eu aqui. Ele conhece a minha, mas… (não completa a frase).
H: Você quase foi jornalista e, hoje, escreve muito. O que está produzindo?
VB: As pessoas têm uma certa preguiça de ler, né? Eu escrevo um texto gigantesco, e as pessoas veem o tamanho do texto e já não querem ler. Então, criei um projeto: Valéria, lê pra mim. Eu leio com uma empostação de voz que eu já sei que as pessoas vão prestar um pouco mais de atenção, pelo menos. A atuaçāo no teatro também ajuda bastante.
H: E você também tem um blog criado durante o câncer.
VB: Sim, chama Trans Radioativa. (risos) Com toda a função da doença, a primeira pergunta que as pessoas me faziam era: e o teu cabelo? Eu tinha um black power imenso na época e começou a cair. Me preparei muito para isso, mas ao mesmo tempo, no dia que caiu, eu tomei um choque tão grande… Foi muito louco. A médica me disse: em 10 dias, vai cair teu cabelo. Eu falei: ai, não seja exagerada, li na internet que talvez não caia. Crianças, nunca procurem as respostas da sua doença na internet! E aí, 10 dias depois, caiu.
A mulher trans tem que estar sempre bem vestida, de salto, maquiada, penteada, porque senão ela deixa de ser mulher
Eu estava em casa, fazendo sei lá o quê, e passei a mão na cabeça. Quando fiz isso, caiu um chumaço tão grande na minha mão, como se estivesse colado com velcro. Olhei para o meu marido, para aquilo e não conseguia me mexer dali. Fui pro banheiro e chorei muito, muito, muito. Aí meu namorado foi no banheiro me consolar, passou a mão no meu cabelo e caiu mais um pedaço. A gente começou a rir, porque não tinha o que fazer. A mulher trans tem que estar sempre bem vestida, de salto, maquiada, penteada, porque senão ela deixa de ser mulher. E aí meu gênero caiu com meu cabelo, né?
H: Como você conseguiu enfrentar essa parte da doença?
VB: Quando estava ficando careca, me lembro que peguei um Uber pra ir ao hospital e estava o meu nome no aplicativo, Valéria. O motorista me olhou e perguntou: tá bom o ar-condicionado para o senhor? Isso me chocou, essa coisa do gênero. É muito desesperador. A minha vaidade, tive que abandonar tudo. A primeira coisa que perguntei pra médica foi: quando é que posso fazer a unha? Quando posso me depilar? Não pode, porque é uma porta para infecções.
Ainda faltam dois ou três meses, mas depois não só posso, como devo ter uma vida normal. Depois, tenho que ir de dois em dois meses no consultório até completar os cinco anos. É pelo SUS. Tem umas coisas que faço particular porque meu namorado é médico e consegue. Mas te digo: abençoado o país que tem um sistema de saúde público como o nosso. O SUS salvou minha vida.
H: Mesmo debilitada, você não abandonou a luta LGBTQI+.
VB: É LGBTQIA +! Tem muita letra agora, mas a culpa não é da gente. A culpa é de vocês, que não entendem que um homem trans é um homem, e uma mulher trans é uma mulher. Se vocês entendessem e não ficassem perguntando, seria mais fácil. (risos)
A luta pela diversidade é necessária porque a gente vive tempos em que precisamos explicar o óbvio. E o preconceito das pessoas é muito perigoso, presente. Há desculpa pra tudo. ‘Ah, ele não entende porque é muito velho, ela não entende porque é religiosa…’ Sempre que perguntam sobre isso, digo que estou nessa luta porque não pra mim, é pros netos dos meus netos, e preciso ter essa humildade. É disso que a comunidade LGBT e a população têm que ter a noção: de que é uma luta não pra agora, mas que vai dar resultados daqui a muito tempo.
Quero ter os mesmos problemas de todo mundo; estou cansada de ter problema com gênero e sexualidade
Quando me perguntam, por exemplo, qual é o meu sonho, eu falo que quero ter problemas. O sonho da minha vida é ter problemas. Eu quero reclamar que comi muito, que o refri está gelado demais na minha mão, que está muito calor, que a fila do supermercado está enorme… Sabe? Quero ter os mesmos problemas de todo mundo. Estou cansada de ter problema com gênero e sexualidade, e acho que ter problemas comuns, pequenos, banais, é um dos maiores sonhos de qualquer pessoa trans na vida.
H: Tudo isso no país que mais mata transexuais no mundo.
VB: Fique feliz que a pessoa aqui está viva, porque a expectativa de uma pessoa trans é de 35 anos! Uma vez, estava conversando com a Elisa Lucinda e ela disse uma coisa maravilhosa: “corpos trans e pretos são corpos parlamentares”. São corpos que falam por si, né? Eu chegar num lugar onde não me conhecem, as pessoas vão pensar: nossa, o que será que essa pessoa tá fazendo aqui? Meu corpo já falou por si, só que as pessoas leem uma leitura de rodapé, de orelha de livro. As pessoas precisam ler o livro.
H: E como um hetero pode ajudar nessa luta?
VB: Escuta, pergunta. Não ofende, não tira pedaço. Ninguém nasceu sabendo nada… Nós vivemos em 2020, é uma hora em que tu tens que praticar a oralidade, que conversar com o outro. Uma coisa que nós sentimos muita falta é a escuta. As pessoas não nos ouvem. Se ouvissem mais, a gente falaria menos!
H: Nesse sentido, a falta de escuta também é uma violência.
VB: É exatamente isto. Acho que falta muita escuta pra todas as letras da comunidade LGBT e pra todo mundo. A gente está com um problema muito grande na nossa sociedade, que são as graduações. Acho que a Faculdade Mark Zuckeberg, que forma advogados, juízes, jornalistas, críticos de arte, ela precisa de uma reformulação nas suas disciplinas. As pessoas vão no Facebook e dão suas opiniões, fundamentadas sabe-se lá em quê, sabe-se lá onde. É aquela frase que eu digo sempre: o brasileiro não precisa ser estudado, o brasileiro precisa estudar.
Eu caí na asneira uma vez, na primeira matéria minha que saiu no jornal, uma coisa maravilhosa, eu caí na asneira de ler os comentários. Nossa, nunca mais eu faço isso! A matéria foi tão delicada, tão bonita, tão incrível, e eu percebi que há uma vontade da pessoa de atingir algo que ela não conhece, que sequer um dia vai encontrar. Na tua cara, ela nunca falaria.
H: Você já ficou cara a cara com alguém que te ofendeu pela internet?
VB: Já. Eu confrontei a pessoa e ela ficou sem jeito. Porque a Faculdade Mark Zuckeberg dá um escudo de invisibilidade para as pessoas e não é assim que as coisas funcionam realmente. Todo este povo, racistas, transfóbicos e afins, têm que passar vergonha, têm que perder as coisas! Enquanto as pessoas se sentirem melhores porque têm privilégios, elas têm que arcar com o ônus e com o bônus. Nós precisamos perder o medo de nos defender, porque enquanto a pessoa que agride tiver a certeza de que temos medo, ela continua agredindo.
H: Ser trans e preta potencializa as agressões?
VB: O movimento de perder o medo é muito empoderador. Quando os racistas percebem que a gente está com esse poder nas mãos, de ser dona da própria história, há este sentimento de perda, que geralmente é realocado com a raiva e a vontade que o outro seja banido da face da terra. Nossa, eu já ouvi cada coisa! Já fui ameaçada…
Eu ganhei o troféu de Mulher Cidadã em Porto Alegre, que é a maior honraria dada a mulheres no Estado do Rio Grande do Sul. Mas eu quase não recebi esse troféu, porque um deputado falou que “não, porque não é mulher”. Depois disso, fui receber o prêmio na Assembleia Legislativa. Tinha umas pessoas aplaudindo, umas com cara de ranço. Agradeci dizendo: muito obrigada, embora vocês não me considerem nem mulher e nem cidadã. Não sou mulher, porque vocês me chamam de tudo, menos mulher; e não sou cidadã porque, por exemplo, pra ir ao banheiro tenho que pensar quatro vezes antes. Se estou com muita vontade, se dá pra aguentar até chegar em casa, se não vai ter uma mulher lá dentro que vai me bater, me xingar, se… Entende?
H: Os fiscais do corpo alheio estão em todos os segmentos da sociedade.
VB: Às vezes, os conservadores extrapolam a linha da vida. Nos tiram a sobrevivência, a vontade de sair de casa, nos privam de ir ao banheiro. Numa universidade aqui de Porto Alegre, aconteceu isso com duas meninas trans. Elas desistiram da faculdade por duas razões. Uma que o professor não respeitava o nome social delas, e elas ficavam constrangidas; e outra que elas não conseguiam usar o banheiro. É falta de humanidade! É um sistema que vai se alimentando das pequenas crueldades da vida.
Nos tiram a sobrevivência, a vontade de sair de casa, nos privam de ir ao banheiro
Uma menina trans, por exemplo, ela já não tem nem escola, ela sai da escola antes porque… Gente, eu fui criança trans, eu sei o que eu passei na escola, sabe? Tem que ter muita força de vontade mesmo. Depois, ela acaba indo pra rua. O que acontece? Ela precisa comer, ela precisa viver, né? Ela vai pra prostituição porque, primeiro, sempre tem uma cafetina, e ela encontra a proteção que nunca teve. Depois, ela encontra uma maneira de viver, porque com o dinheiro que ganha, ela tem uma arma pra dizer “agora vocês vão ter que me engolir, porque eu tenho dinheiro de igual para igual e vou frequentar o mesmo restaurante que vocês”. Dinheiro não tem gênero, né? Dinheiro também não tem preconceito, as pessoas aceitam sempre. Eu comparo o conservadorismo a uma conserva mesmo, de rabanete, por exemplo, que quanto mais conservado está, mais fedorento fica. Até que apodrece.
H: O que uma pessoa trans pode esperar em tempos de Bolsonaro?
VB: Muito pouco. Quase nada. Nada. São 95% de mulheres trans que se prostituem, e há homens trans também. “Tá, e por que 5% não se prostituem?” Porque são exceções! São pessoas que conseguiram sobreviver, literalmente. A meritocracia é muito cruel, só tem quem tem dinheiro, e a gente sabe que a meritocracia tem cor também, né? A meritocracia tem gênero e cor. E não, nós não temos mérito pra ela.