Revista Híbrida
Música

Vitor Fadul quer “desafiar estigmas” do autismo em seu 1º disco, “PANAPANÁ”

Vitor Fadul levou mais de dez anos para conceber e outros dois para produzir seu primeiro disco, "PANAPANÁ" (Foto: Soraia Costa | Divulgação)

Vitor Fadul levou mais de dez anos para conceber e outros dois para produzir seu primeiro disco, "PANAPANÁ" (Foto: Soraia Costa | Divulgação)

Panapaná é como se chama o coletivo de borboletas que, em bando, migram juntas formando nuvens pelo ar. Em caixa alta, esse também é o nome do primeiro álbum de estúdio de Vitor Fadul, lançado nas plataformas digitais no último dia 25. Aos 27 anos, o artista usa a borboleta como símbolo de sua própria transformação – de lagarta ao casulo e ao imago. O trabalho é fruto da metamorfose que ele mesmo passou nos últimos dez anos, estudando música e se aprofundando no autoconhecimento.

O single mais recente de PANAPANÁ é “FOGO INFINITO”, uma das nove músicas lançadas com a primeira parte do álbum. Enquanto não libera o restante do trabalho, Vitor fala com exclusividade à Híbrida sobre suas inspirações e referências musicais, que vão do pop de Anitta ao rock do Queen.

O papo também toca na vida pessoal do artista, que começou a cantar aos 5 anos de idade e foi diagnosticado com autismo já adulto. Vitor ainda comenta sobre o historiador e escritor Leandro Karnal, de 60 anos, com quem é casado desde 2022 e o qual define como “o amor de sua vida”.

HÍBRIDA: O que podemos esperar do restante de PANAPANÁ? Quais as inspirações para o álbum?

VITOR FADUL: O álbum é resultado da jornada de uma década da minha vida, só na concepção, e mais de dois anos para a execução! Um projeto que carrega muito significado. O próprio título, que significa “coletivo de borboletas”, possui a essência do que busquei transmitir através da minha música. PANAPANÁ é muito mais do que apenas a história de uma borboleta individual; é uma representação do coletivo humano, uma sinfonia de experiências compartilhadas e emoções universais.

Minhas influências e inspirações provêm de uma variedade de fontes. Crescer na periferia da zona leste de São Paulo, em um ambiente desafiador e carente de acesso à informação, moldou minha perspectiva de maneira singular. Os limites que enfrentei não me impediram de perseguir meu sonho de cantar. Minha jornada até aqui foi uma construção audaciosa, além das limitações que a vida parecia impor, e essa superação é a alma do meu repertório.

PANAPANÁ oferece aos ouvintes uma jornada musical por melodias envolventes, que abrangem desde influências do pop internacional e elementos da cultura brasileira até a música clássica. A originalidade que trago ao mundo é impulsionada pelo meu modo atípico de ver e criar, uma perspectiva que é tanto minha quanto universal.

H: Por que dividir o lançamento em duas partes?

VF: Olhar cada single isoladamente pode, de início, parecer desconectado, assim como quando estamos imersos em um fato e não conseguimos ver o panorama completo. No entanto, quando os acontecimentos se desenrolam e olhamos para trás, percebemos que tudo está conectado. Então, lançar single a single até finalmente revelar que se trata de um álbum é construir a história e provar que ela se constrói. E para isso que chamo a atenção: para a história de cada um. A história é o elemento que nos torna únicos e insubstituíveis e ao mesmo tempo é o que nos conecta, porque todos temos isso em comum, a história!

H: Quais suas principais referências como artista?

VF: Minhas principais referências como artista, que enriquecem meu estilo, vêm de uma mistura de influências musicais. Minhas composições são o resultado da fusão de inspirações tanto nacionais quanto internacionais que, combinadas, criam algo verdadeiramente original.

No cenário nacional, artistas como Anitta, IZA, Luisa Sonza e Gloria Groove têm sido fontes de inspiração significativas para mim. Admiro a abordagem contemporânea e vibrante que elas trazem para a música pop brasileira.

No âmbito internacional, artistas como Adam Lambert, Shawn Mendes, Lady Gaga, Beyoncé e Queen são as minhas grandes inspirações.

H: Como foi receber o diagnóstico de autismo? E de que forma ele impactou sua arte?

VF: Foi um momento transformador em compreensão e motivos dos porquês de eu ser tão diferente e sofrer tanto com o mundo. Durante toda a minha infância e vida adulta, carreguei uma carga pesada de autocrítica e confusão devido à falta de compreensão sobre minha especificidade. A pobreza na minha infância impediu que eu tivesse acesso a pediatras e, consequentemente, o autismo nunca havia sido detectado. Essa falta de conhecimento teve um impacto significativo na minha jornada, pois me levou a acreditar que eu era incapaz e desprovido de habilidades – o que tive certeza que não é verdade após receber o diagnóstico e entender que apenas funciono de forma diferente.

A aceitação do meu diagnóstico também teve um profundo impacto na minha arte. Passou a ser uma forma de expressão através da qual eu posso abraçar minha singularidade e compartilhá-la com o mundo, mostrando que todos podem fazer o mesmo, porque cada história é digna e válida. Minha música se tornou uma maneira de desafiar estigmas e inspirar outras pessoas que podem estar passando por jornadas difíceis. O diagnóstico trouxe uma nova perspectiva à minha criatividade, permitindo usar a arte para transmitir a importância da aceitação, da autoestima e da resiliência diante das adversidades.

H: Como você e Karnal se conheceram?

VF: A história do meu encontro com Karnal é repleta de coincidências e momentos especiais que ilustram como o universo, às vezes, conspira a nosso favor. O encontro em si pareceu uma mistura de destino e acaso, como se nossas histórias individuais estivessem destinadas a se entrelaçar naquele momento. Essa conexão inicial floresceu em uma colaboração rica e enriquecedora. Hoje, ele é o amor da minha vida Tenho muito carinho e respeito, e orgulho do ser humano extraordinário que ele é e que me fascina a cada dia!


H: Como lida com os comentários sobre a diferença de idade entre vocês?

VF: Lidar com as opiniões e comentários é uma parte inerente da exposição pública, e a diferença de idade certamente não é exceção. No entanto, meu foco está na minha música e na minha arte, nas mensagens que desejo transmitir e no impacto positivo que posso ter nas pessoas que a ouvem. Isso me ajuda a manter minha atenção nas coisas que realmente importam e a não me deixar distrair por elementos que podem não contribuir para o meu crescimento pessoal e artístico. Estou neste mundo para ser o melhor que posso ser a cada dia, eis um imenso desafio.

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