Na coluna de julho com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui o álbum de Boombeat; EPs de Bruxa Cósmica e Valesca Popozuda; além dos singles de Tonny Hyung com Danny Bond e Rennan da Penha, Kesha, Katy Perry, Ana Carolina, Raquel Virgínia, Assucena e Paris Hilton com Rina Sawayama.
Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.
Boombeat – “METamorFOSE”
“Não achei meu cu no lixo /ao contrário do que pensam/baby eu não faço questão de pinto”, diz a canetada braba de Boombeat, artista que tenho adorado acompanhar desde o coletivo Quebrada Queer e que está sempre aqui na Playlist, em “Meu nivel (olha pra minha cara)”, faixa de seu álbum de estreia, o bom METamorFOSE, um dos lançamentos LGBTQIA+ mais importantes do ano. Emicida abençoa o rolê queer mais uma vez, comprovando ser um importante aliado, como já tinha deixado claro em “AmarElo”, com Pablo Vittar e Majur. Majur é citada na faixa, ao lado de Liniker, Lina (Linn da Quebrada), Monna Brutal e Bixarte, nesse país “onde nada é mais perigoso que amar um homem”. O álbum traz mais participações bem especiais de FBC, ainda nessa tour de trazer homens cis héteros pro debate, Tuyo, Cynthia Luz e também de Urias e Duquesa em “Chata”, que passou aqui na seleção de abril. Rapper, cantora e compositora travesti, Boombeat é conhecida por suas rimas ácidas, melodias marcantes e estilo único. “Cair é do homem, mas levantar é da travesti”, canta em “Machuca (Cypher travesti)”, com Siamese, Sodomita e Tonny Hyung. O álbum tem produção de Gabriel Saffi e fala sobre autoestima.
Bruxa Cósmica – “Vogue Club“
Em novembro de 2021, eu já estava interessado na cultura ballroom e entrevistei na Sexta Sei a Bruxa Cósmica, 27 anos, dançarina experiente no showbiz, com performances com Fernanda Abreu, Teto Preto e Sofi Tukker em “Throw some ass”. A gata lésbica lançou seu EP de estreia, Vogue Club, com destaque para a boa faixa “Bote”. Ela foi inspirada a entrar no mundo da arte pelos pais. Em 2015, conheceu o movimento ballroom pela internet e mergulhou fundo, organizando, no ano seguinte, a primeira batalha de vogue no Rio de Janeiro. Este ano, ela estrelou o episódio de estreia de Segura Essa Pose, do Globoplay, que desvenda a cena ballroom carioca. O álbum traz beats de vogue e club e dá uma ideia da sonoridade que embala a cultura. “Cheguei no Rio sozinha com 17 anos para realizar meus sonhos, e a Vogue me acolheu, me deu força e fez eu me afirmar como artista. Eu me sinto honrada por ter encontrado algo tão forte”, conta.
Valesca Popozuda – “De volta pra gaiola: (Amor de verdade) e (Amor)”
Diva maior do funk nacional, Valesca Popozuda lançou um duo de EPs, De Volta Pra Gaiola 2 (Amor de Verdade) e De Volta Pra Gaiola 2 (Amor). Ela diz que uma das versões é light e canta sobre experiências homossexuais em “XXT na XXT”, com “XXT no pensamento”, aquela “tesourinha de leve”, pedindo “vem com o dedinho, dois dedinho, três dedinho”, no “modo cachoeira” e em “uma piscina que nem precisa de banheira”. Na melhor vibe do grande clássico de seus repertório “Me ama – Mama”, hit com Catra, ela faz uma espécie de funk com bossa-nova, um funk de câmara (ahahaha) com influências de R&B, pagode e trap. Um charme. O lançamento reforça a liberdade feminina e o star quality da nossa diva, que é uma das maiores artistas do funk. “Esse caminho foi feito pra todas as mulheres”, avisa, logo no primeiro segundo do play.
Tonny Hyung, Danny Bond e Rennan da Penha – “Nutella”
Eu ainda não conhecia o flow de chicote de Tonny Hyung, artista e travesti de Meriti, na Baixada Fluminense, bicha “viciada em peru” que faz com o c* o que não fazem com a x*ta e tem “água da x*ca potável”, um milagre queer e sanitário (risos). A transubstanciação da água de x*ca é o milagre que a gata faz em “Nutella”, faixa nervosa com pegada afrohouse e ballroom, que conta com outra monstrona do talento travesti, Danny Bond, apresentada à artista pelo produtor da faixa, Rennan da Penha. Um duelo de titãs para quebrar tabus e naturalizar a sexualidade de mulheres travestis. Tonny Hyung rompe os padrões que a limitam e silenciam, provando que domina seu flow com maestria ao reivindicar o direito de falar sobre todo e qualquer assunto. “‘Nutella’ vem para mostrar skill de flow, mostrar que quem rima bem, rima literalmente falando de qualquer coisa”, comenta. “Participar desse projeto tem uma importância muito grande pelo fato de serem pessoas negras e periféricas fazendo o seu corre”, analisa Danny.
Michaela Jaé – “Green Lights“
Grande estrela da série Pose, ganhadora do Globo de Ouro e indicada ao Emmy, Michaela Jaé é uma garota techno, cyberpunk e gostosona no clipe futurista de “Green Lights”, inspirado em animes e no clipe de “Scream”, de Michael e Janet Jackson (1995). O single anuncia seu álbum de estreia, 33, com lançamento previsto para 26 de setembro. No clipe, ela é o modelo 33F7, uma mulher humanoide híbrida futurística e supergostosa, que acorda em um planeta alienígena usando um traje esquelético prateado e cromado. “Estamos tão em sintonia com a tecnologia que ela quase se fundiu conosco”, analisa.
Kesha – “Joyride“
Diva primordial do autotune desde que explodiu com “Tiktok” em 2009, Kesha provou a grandeza de sua arte com o confessional álbum Gag Order (2023), que resenhei aqui, no qual reflete sobre ataques de pânico com a imagem poderosa do rosto coberto por plástico filme. No último dia da independência americana, 4 de julho, ela lançou a canção “Joyride”, a primeira pela sua própria gravadora Kesha Records, após sair da RCA e da Kemosabe Records na esteira das acusações de abuso sexual que fez contra o produtor Dr. Luke, em 2014. Independência merecida, visto que o processo contra Luke acabou em acordo. Com vibe dançante, a música é a primeira amostra do próximo álbum da cantora, o sexto de sua carreira, que agora deve seguir resgatando sua fase mais pop. O lyric vídeo mostra carros em combate de destruição, estilo derby, e bonecos de posto dançando.
Katy Perry – “Woman’s World”
Artista que também trabalhou com Dr. Luke, Katy Perry nunca tinha dado pistas de que é uma grande gostosa e feminista militante até a chegada do anabolizado “Woman’s World”, primeiro single de seu novo álbum, 143, com lançamento confirmado para 20 de setembro, via Capitol Records. No clipe, dirigido por Charlotte Rutherford, ela referencia a imagem feminista e vintage do cartaz da propaganda We can do it (1943), criada por J. Howard Miller, reimaginando também a clássica foto do almoço de operários no topo de um arranha-céu, em Nova York (1932). Nesta nova era pop, a diva mimetiza a Mulher Maravilha: tem pernas de robô e abastece o bumbum com gasolina (neles!), terminando o clipe enquanto sai de cena pendurada em um helicóptero e carregando o símbolo de Vênus e do feminino. Ela faz show no Brasil em 20 de setembro, como atração principal do Rock in Rio. O dia da sua apresentação inclusive já está com os ingressos esgotados.
Ana Carolina – “Malandragem“
Nada vai ser mais “cuecão de couro” neste ano do que Ana Canta Cássia, o álbum da minha conterrânea juiz-forana Ana Carolina cantando o repertório de Cássia Eller. O primeiro single é “Malandragem”, canção de Cazuza e Frejat que estourou na voz da nossa saudosa cantora, mãe do Chico Chico. O clipe foi registrado ao vivo na última turnê, com direção de Jorge Farjalla, e traz Ana fazendo o que faz de melhor: domando um violão. Foi assim que ela estourou, aqui em Minas, lotando os barzinhos e arrastando uma multidão de sapatões apaixonadas. A turnê cantando Cássia já foi vista por mais de 400 mil pessoas, e o show em São Paulo, no Tokio Marine Hall, foi inteiramente gravado. O projeto será lançado ao longo do ano, em partes. As últimas datas da turnê podem ser encontradas em seu site oficial.
Raquel Virgínia – “Hipnose”
Da série “gatas que cantam muito”, Raquel Virgínia segue abraçando a verve pop e dançante em “Hipnose”, seu segundo single solo pela Warner Music Brasil, depois do quente e sensual “Da Me Más”. O videoclipe é um drama novelesco inspirado nos universos de Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino, com um toque de Teletubbies fashionistas. A personagem, enigmática e meio surtada, é fashionista ao extremo. Ex-integrante do trio As Baías, ela se tornou a primeira mulher trans a ser indicada duas vezes ao Grammy Latino. É simplesmente alucinante o medley de “Pagu/Volta Por Cima”, gravado em Nova York, no evento Pacto Global da ONU – Rede Brasil. Raquel também é CEO de uma agência de diversidade, a Nhaí.
Assucena – “Nu”
Outra ex-integrante do trio As Baías e também indicada ao Grammy Latino, Assucena lançou o clipe para “Nu”, canção do seu álbum de estreia solo, Lusco-Fusco. O clipe celebra a transcendência e a liberdade pessoal, com criação e direção de Lu Villaça, da Surreal Hotel Arts, promovendo uma experiência sensorial poética. O trabalho explora a jornada da sombra à luz, apresentando diferentes casais em momentos íntimos, que simbolizam a evolução da resistência inicial à entrega emocional e sexual. “‘Nu’ é uma celebração da liberdade e da aceitação pessoal. Com a direção sensível de Lu Villaça e a inovação tecnológica da Rube, conseguimos criar algo que realmente toca a alma”, declara Assucena. O clipe termina com um depoimento dela e de outras pessoas trans sobre a sua aceitação, “respeitando a mulher que há em mim”.
Paris Hilton e Rina Sawayama – “I’m Free”
Paris Hilton dança em roupa íntima de couro no clássico das pistas de dança “I´m Free”, que ela gravou em dueto com Rina Sawayana. Aos 43 anos, a herdeira da cadeia internacional de hotéis que leva seu sobrenome está com um corpaço que ela move, no clipe, ao som do ritmo da dança eletrônica. Paris incopora a letra empoderadora da música com um telefone flip e a maior estética dos anos 2000, que ajudou a moldar. Logo após este lançamento, ela ainda soltou, com Meghan Trainor, o reggaeton “Chasin”. As canções estarão em seu segundo álbum, Infinite Icon, previsto para 6 de setembro e que ainda terá feat com Miley Cyrus.
Moreira também está ouvindo:
- “Nada Sei”, Paula Toller e Luísa Sonza
- “The girl so confusing version with lorde”, Charli XCX e Lorde
- “Insomnia”, Normani
- “Te quero não nego não”, Ana Liz e Pedro Dias
- “Black Loro”, Hiran e Tássia Reis
- “Colo e canjica”, Jeza da Pedra
- “Chihiro”, Mulú + Duda Beat
- “Quem Manda Em Mim”, Pabllo Vittar e Zaynara
- “Planos do céu”, Angela Ro Ro
- “Cumbuca”, Lilian Rocha e Josyara
- “Temperatura”, Thiago Thomé
- “Nubrilho da bala”, Dornelles, DJ Jhury e DJ Joah
- Ask that god, Empire of the Sun
- ”Venenosa”, Pocah, Triz e MC GW
- “Necessito”, Lexa
- “I can´t stand my father anymore”, Maria Beraldo
- “Onda de amor”, Diego Bragà
*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.