Na coluna de setembro com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Lady Gaga, Jamie xx, Paris Hilton, Pedro Sampaio e Carolina Zingler; o EP do Noporn; além dos singles de Keiynan Lonsdale, The Chainsmokers com Kim Petras, Charli xcx com Troye Sivan, Caetano Brasil com Ever Beatz e Giovani Cidreira com Vandal.
Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.
Lady Gaga – “Harlequin”
Quem mais poderia ser a Arlequina, além de Lady Gaga, a mãe de todas as party monsters que lançou, quase de surpresa, o álbum Harlequin, um albaço de jazz, inspirado em sua personagem do filme Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux), que estreia no próximo dia 3. A produção executiva é assinada pela própria Lady Gaga em parceria com Michael Polansky, seu noivo, por uma jornada que transcende gêneros, explorando a complexidade emocional e crua de uma mulher que prospera no caos. O álbum chegou com vídeo promocional para a faixa “The Joker”. Este é o primeiro álbum de Lady Gaga inspirado no jazz desde a morte de Tony Bennett, com quem teve a chance de trabalhar em diversas ocasiões. Com uma abordagem moderna do pop vintage, o álbum é influenciado pelo vasto léxico musical americano, fortemente enraizado no blues e na música americana antiga. Do jazz ao punk, do funk ao blues e tudo mais, Harlequin apresenta arranjos exclusivos e originais de músicas que evocam o caos vibrante e a profundidade emocional da personagem do filme.
Jamie xx – “In Waves”
Jamie xx, que era responsável pelos beats e pela produção na banda inglesa The xx, lançou seu segundo trabalho solo, o aguardado In Waves, pela Young Recordings. E o mais importante: ele vem ao Brasil, em 26 de outubro, para show na Gop Tun, festa de música eletrônica em São Paulo. Nas 12 faixas do álbum, Jamie reproduz os crescendos emocionais e a volatilidade de uma noite quase mística ao lado de um elenco de colaboradores que inclui The Avalanches, Kelsey Lu, John Glacier e Panda Bear, Oona Doherty e seus colegas do The xx, Romy e Oliver Sim. “Treat Each Other Right” é um hino de breakbeat e soul futurista, com videoclipe da fotógrafa e filmmaker Rosie Marks. Em junho, ele colaborou com Robyn em seu primeiro grande lançamento em seis anos, com “Life”, uma explosão de horns e loops, apresentando uma das vocalistas mais icônicas dos últimos tempos. Ao lado dos recentes singles, “All You Children”, com The Avalanches, “Dafodil” e agora “Waited All Night”, ele mostra a potência desse trabalho. A identidade visual está deslumbrante.
Paris Hilton – “Infinite icon”
Também sou teu povo, Paris! “Welcome to Bad Bitch Academy (BBA)” saúda o ícone no feat com Meghan Thee Stallion que dá o tom do disco em gradações de pink da maior patricinha do mundo, Paris Hilton, que volta a lançar álbum depois de jejum de 18 anos. A herdeira da rede Hilton de hotéis, dona de um império somente seu e protagonista de programa de culinária que ensina a fazer pipoca rosa com glitter, entrega disco de eletrônica feito inteiramente para o seu público gay, com muito dance-pop. Além de Stallion, o álbum produzido por Benny Blanco tem participações de Meghan Trainor, na declaração de independência “Chasin”; com Rina Sawayama, no single principal, do qual falei aqui, “I’m free”; Sia, na balada poderosa cheia de sintetizadores “If the earh is spinning”; e ainda Maria Becerra. Uma pena que o volume não acompanhe a excitação da faixa com Stallion, que já entrou pro hinário gay. “Sinto-me muito orgulhosa de ser a It Girl original e o modelo para a celebridade moderna”, diz a diva.
Pedro Sampaio – “Astro”
Pedro Sampaio abraçou um lado meio Walter Mercado com looks brocados em Astro, seu segundo álbum, no qual ele volta a usar o autotune como linguagem, algo que faz com maestria. O volume tem participações de J Balvin, Marina Sena e Luísa Sonza, com vizualizers para todas as músicas. O artista investiga a ideia de que todos somos seres de luz. Tá. “Gosto de pensar que todos somos astros, porque temos algo a oferecer ao mundo. No meu caso, minha luz emanada vem da arte, da música…”, reflete. Achei bem legal a entrega em “Prece”, na qual ele dueta com o MC Thiago.
Carolina Zingler – “Eu viro bicho”
“As flores do jardim gritaram: mas mulher, tu é bela”, para o eu-lírico da compositora, cantora e artista pública Carolina Zingler, gaúcha radicada em Portugal, em “Mais linda”, segundo single lançado de Eu viro bicho, seu quinto disco de estúdio. O volume foi gravado de forma a manter o espírito da execução musical, com os músicos tocando em salas próximas, interligadas, para preservar a sensação única da performance ao vivo. A trajetória da artista é marcada pelo projeto Esquina do Jazz, que já aconteceu nas ruas de Lisboa, São Paulo e Florianópolis. É nessa pergunta que, mesmo por e-mail, dá para sentir a alma de Carolina se iluminar. “Conheci tanta gente legal performando nas ruas que, só por isso, valeu. Além de experimentar repertórios, me deu uma outra visão sobre minha relação com meu ofício. É uma troca sincera com o público e, ao mesmo tempo, simples, porque tu vai lá, se apresenta sem depender de estruturas maiores. Me sinto livre, como um cavalo correndo no potreiro (campos como chamamos nos pampas gaúchos rsrs), no seu ritmo e verdade”, revela. Tive o prazer de conversar com Carolina para a Sexta Sei.
Noporn – “Noite Triste“
Tudo tem o seu momento, e agora foi o propício para a gente “dançar com você”, Liana Padilha. A ocasião é um par de singles que o seu parceiro de Noporn, Lucas Freire, lançou em setembro, depois da partida da diva do spoken word, em março, através do EP I know you. E como não tinha sido lançado antes esse feat das estrelas de Liana e Jup do Bairro, em Noite triste, que já chega como uma das melhores faixas do ano, na mesma pegada do hit “Tropicalismo dark”, a última faixa lançada antes do adeus. A faixa “Dançar com você” chega com “I Know you”, uma regravação do projeto paralelo Tintapreta (formado por Liana, Lucas e Cassius Augusto). Achei legal que, além do nome do NoPorn, o de Lucas Freire aparece nos créditos, meio que dando início à sua nova trajetória solo, que será sucesso, visto suas imensas sensibilidade e talento. Para todos nós, que seguimos órfãos, esse EP e o sucesso do Lucas são feixes de luz na escuridão que ficou a pista sem Liana. “Quero seguir mexendo nesse grande baú de rascunhos que colecionamos ao longo dos anos para que possamos continuar nos deleitando e celebrando o legado maravilhoso da música e da mensagem da Liana”, conclui Lucas. O NoPorn já sextou duas vezes, com seus dois últimos álbuns, aqui e aqui.
The Chainsmokers e Kim Petras – “Don’t Lie”
Enquanto outras divas estavam sereiando em belos clipes aquáticos, como Camila Cabello em “Godspeed”, e Vitoria Monét em “Sex on sight”, a estrela trans pop alemã Kim Petras sai de uma poça de lama, toda linda e poderosa, direto para uma rave ribeirinha comandada pela dupla eletrônica The Chainsmokers, em “Don’t lie”. Este é o primeiro single do próximo projeto ainda sem título de Andrew Taggart e Alex Pall, os gigantes do EDM. O lançamento marca o retorno de Petras à música, depois do cancelamento de uma série de aparições em festivais de verão, no início deste ano, devido a problemas de saúde. Shantay, you stay.
Keiynan Lonsdale – “Kiss the boy”
“Kiss The Boy”, o single de estreia de Keiynan Lonsdale, em 2018, ganhou uma matadora versão ao piano, com direito a clipe que emula o beijo entre iguais, uma delícia. O clipe mostra Lonsdale esbarrando em um boy atraente, em todos os lugares que vai. O flerte aumenta, eles vão a um encontro, saem e pá!, se beijam. A música foi inspirada em “Kiss the Girl”, do filme A Pequena Sereia, daí o clima de conto de fadas queer. Lonsdale é conhecido por seus trabalhos como ator em filmes como Love Simon, The Flash, My Fake Boyfriend e a recente série da SBS, Swift Street, e também já apareceu aqui na Playlist há um ano.
Charli xcx e Troye Sivan – “Talk talk”
Charli xcx segue dando aulas de como reverberar o lançamento de um álbum e, depois da parceria com Billie Eilish, ela lançou o single com Troye Sivan, “Talk talk”, ambos parte de brat and it’s completely different but also still brat, uma segunda versão de brat, prevista para chegar em 11 de outubro, pela Atlantic Records. Nesta versão, tem até spoken word de Dua Lipa. O álbum foi nomeado ao Mercury Prize 2024 e a faixa “Guess”, com Billie, estreou no TOP 1 na UK Official Singles Charts em agosto, tornando Charli a primeira artista britânica a alcançar o topo das paradas de singles este ano. Charli também uniu forças com Troye para a aguardada turnê da dupla pelos Estados Unidos, Charli xcx & Troye Sivan Presents: Sweat, que já rendeu momentos memoráveis.
Caetano Brasil e Ever Beatz – “Vibrações”
Nada vai ser mais queer em setembro do que o clarinetista juiz-forano Caetano Brasil no clipe “Vibrações”, clássico de Jacob do Bandolim que ele acaba de recriar com o produtor Ever Beatz. Caetano é um um dos principais clarinetistas do choro contemporâneo, indicado ao Grammy Latino pelo seu segundo álbum, Cartografias (2019). Esta é mais uma clássica, depois de inserir Laura Conceição em “Naquele tempo”, do seu terceiro álbum, Pixinverso – Infinito Pixinguinha (2023), que foi destaque aqui na Playlist. No clipe, ele dá muito close, com lenço e macacão, quebrando paradigmas do setor de música de câmara. Queen! A música foi gravada, originalmente, por Jacob, no álbum de mesmo nome, em 1967, com o Conjunto Época de Ouro, e foi o último da carreira de Jacob. A nova versão combina o virtuosismo do clarinete de Caetano com o beat envolvente produzido por Ever Beatz, craque das cabines em Juiz de Fora, numa fusão única de tradição e modernidade.
Giovani Cidreira e Vandal – “Feira do Rolo“
O baiano Giovani Cidreira, bissexual, dá os primeiros passos de seu projeto especial interpretando os sambas de Ederaldo Gentil com o lançamento de “Feira do Rolo”, em parceria com o rapper Vandal, que adicionou novos versos, e produção musical de Mahal Pita e Filipe Castro. A canção foi gravada pela primeira vez por Alcione, em 1977, no LP Pra Que Chorar, o clássico álbum do giro com o vestido amarelo. “Vem que a feira é do rolo / Vem quem tem pra rolar”, diz a letra. O single, assim como o álbum completo (previsto para este ano) faz parte do projeto Identidade: Giovani Cidreira canta Ederaldo Gentil, contemplado pelo edital Territórios Criativos. Desde que ouviu “O Rei”, o cantor Giovani Cidreira se encantou pelas voz e composição do sambista: “Eu fiquei naturalmente atravessado por aquilo e quis saber mais da história dele”, conta o artista, falando também da tristeza que emana de muitas canções. “Ederaldo, assim como Vandal, não fez concessões para a indústria, não referenciou nada. Eles têm um comprometimento com a verdade, com uma música muito verdadeira”, reflete. A nova versão tem elementos de salsa, MPB, samba e rap, uma roupagem original que preserva a força das palavras de Ederaldo. O lançamento é da dobra discos da gente.
Moreira também está ouvindo:
- “Fancy”, La Cruz
- “Lights Camera Action”, Kylie Minogue
- Sophie, Sophie
- “Malvado favorito”, Anitta e MC G15
- “Alibi Pt2” – Anitta, Sevdaliza, Pabllo Vittar e Tseult
- “Omega”, Rosalía + Ralphie Choo
- “What a girl wants”, Christina Aguilera e Sabrina Carpenter
- “Midnight”, Orville Peck, Kylie Minogue, Diplo
- “Suma”, Almério e Martins
- “Entre o bem e o mal”, Johnny Hooker
- “Me dá meu coração”, Jader + Otto
- “Montaria”, Ney Matogrosso + Adriano Faquini
- Escândalo Íntimo Deluxe – Luisa Sonza
- 143 – Katy Perry
- Club Grasa, Nathy Peluso
- “Sensação de…”, Katy da Voz e as Abusadas + Irmãs de Pau
- “Eusexua”, FKA Twigs
- ”Cria de Caxias”, Pocah
- 33, Michaela Jaé
- “Tatuagem do teu ex 2”, Kaya Conky, Christopher Luz, MC Pogba, KatyD
- “Soltera”, Shakira
*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, escreve na Tribuna de Minas; no Baixo Centro, fazendo a Sexta Sei; e aqui, na Híbrida.
As opiniões e comentários expostos na coluna são de responsabilidade do autor.