PORTFÓLIO: PARADAS DO ORGULHO PELO OLHAR DE PEDRO STEPHAN
por PEDRO STEPHAN
Há décadas ajudando a moldar o imaginário brasileiro sobre a cultura LGBT I+ e GLS bem antes disso, Pedro Stephan colaborou através dos anos com os principais veículos voltados para a comunidade, sempre com o olhar atento para as particularidades que tornam o movimento tão singular no País.
Seja atrás dos trios, nas marchas, barzinhos ou investigando o cruising carioca, o fotógrafo registrou épocas e figuras que não voltam mais, e que ao mesmo tempo permanecem até hoje.
Abaixo, ele compartilha com a Híbrida parte de seu acervo, e vai nos ensinando o que aprendeu vendo e vivendo ao longo do caminho.
Rio – Essa foi uma das imagens da primeira Parada LGBTI+ do Rio. Nós éramos poucos, mas queríamos marcar presença e ter visibilidade na imensa avenida Atlântica em Copa. E a nossa estratégia foi criar uma gigantesca bandeira do arco-íris bem vistosa que ocupava um espaço imenso enquanto nós segurávamos pelas bordas. Nessa primeira Parada, muitos casais LGBTI levaram seus filhos e familiares.
Desde meados dos anos 1990 até os dias de hoje, venho dedicando meu portfólio à abordagem das homossexualidades e gênero, sob um ponto de vista antropológico: atores sociais, ritos, territórios, militância, personalidades, festividades, paradas do orgulho lgbti etc.
Tenho feito imagens que são testemunho da conquista e construção da cidadania LBGTI nas últimas décadas no Brasil, em especial no eixo São Paulo-Rio. Tem sido uma longa trajetória que se confunde com a história da minha própria vida.
Quando vemos o repertório de imagens que abordam a diversidade sexual e de gênero, constatamos que até recentemente a temática era majoritariamente homoerótica.
E havia uma lacuna imensa a respeito da representação, principalmente sob forma de imagens fotográficas, do estilo de vida da nossa comunidade como um todo.
Os poucos registros que existiam vinham pela grande imprensa: era o olhar heterosexista, heteronormativo, que invariavelmente nos apresentava como marginais ou exóticos.
Rio– Nas primeiras Paradas do Rio, nós do Grupo Arco-Íris éramos obrigados a levar todos os documentos e autorizações conosco. Pois na hora H, a policia aparecia e dizia que não sabia de ato algum. Se não provássemos que estava tudo autorizado e no papel conforme as leis, impediam a Parada de acontecer. Nessa foto, uma pessoa ao fundo usa máscara como a que usamos hoje na pandemia, mas por outro medo: os militantes que estavam à frente da organização da Parada recebiam muitas ameaças de morte anônimas.
Minha missão como fotógrafo sempre foi criar uma nova imagem da nossa comunidade.
Uma imagem positiva, que surgia de dentro: para nós mesmos, porque precisamos nos ver.
E também para o grande público heterossexual que, por não conhecer nossa verdadeira face, acreditava nas imagens e afirmações distorcidas que eram lançadas sobre nós.