Em 31 de Março de 1964, o país entrava num período marcado pelo cerceamento dos direitos cívis e políticos daqueles que lutaram contra o autoritarismo. A ditadura militar, ao longo de seus 21 anos de duração, perseguiu, matou e torturou aproximadamente 20 mil pessoas, segundo dados da organização internacional Human Rights Watch, incluindo integrantes da comunidade LGBTI+, que se tornaram alvos específicos por meio de operações focadas nesse grupo.
Durante este período, a censura foi uma prática recorrente na invisibilização de pessoas queer, que não podiam ser mencionadas ou mostradas em jornais e programas de TV, salvo raras exceções, como a manchete de 1º de maio de 1980, na qual O Estado de S. Paulo publicou: “Polícia já tem plano conjunto contra travestis”.
Para as autoridades da época, os valores e costumes desse grupo minoritário eram vistos como ameaçadores à juventude e ao regime ditatorial.
O endurecimento se intensificou entre 1980 e 1985, quando o delegado José Wilson Richetti ordenou a prisão em massa de travestis e transexuais através dos temidos “rondões” que levaram mais de 1.500 pessoas à prisão só em São Paulo. Em 1987, mesmo após o fim do regime militar, a polícia manteve o hábito e deu início à Operação Tarântula, com o objetivo de caçar e prender travestis e transexuais que se prostituíam na capital paulista.
Torturas, espancamentos e extorsão eram recorrentes contra aquelas que fossem detidas e, como forma de escaparem da prisão, elas acabavam cortando os pulsos. Como o Brasil passava por uma histeria coletiva contra o HIV, o medo que os policiais tinham de contrair o vírus era maior do que o desejo de punir as travestis e, consequentemente, acabavam libertando-as.
Hoje, lutamos pela justiça e memória de todas as pessoas que foram injustamente torturadas por um governo autoritário e assassino ao lutarem pela democracia e representação de seus direitos. Nessa mesma data, é comemorado em todo o mundo o Dia Internacional da Visibilidade Trans que, no Brasil, significou o início de um regime duro e covarde para com essa população.