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10 curtas imperdíveis para assistir no Festival Pajubá de Cinema LGBTI+

"Sangro", "Ela que mora no andar de cima" e "Mc Jess" são alguns de nossos preferidos na 1ª edição do Festival Pajubá (Foto: Divulgação)

(Com João Ker)

Das comunidades ribeirinhas no Norte do Brasil aos morros e quebradas da periferia carioca, a 1ª edição do Pajubá – Festival de Cinema LGBTI+ do Rio de Janeiro apresentou online e gratuitamente 35 curtas-metragens que mostraram não só a variedade dos temas possíveis na nossa sigla, mas no País. Com a cerimônia de encerramento e premiação marcada para as 19h do próximo domingo (14), nós da Híbrida, parceiros oficiais do evento, separamos 10 títulos imperdíveis da programação.

Os curtas desta lista foram selecionados pela originalidade com que escolheram e abordaram temas relacionados à comunidade LGBTI+, cuidado estético, capacidade de comoção e atenção aos aspectos técnicos, como fotografia, edição de imagem e som, atuação e linearidade narrativa. Nesta seleção, você encontra títulos de todo o Brasil, que mostram dilemas, conquistas e personagens da nossa sigla, com assuntos urgentes e histórias comoventes. Confira abaixo e não perca a premiação do Pajubá, que será transmitida online no site oficial do festival e ainda terá a entrega do Prêmio Híbrida de Crítica.


“Perifericu” (Brasil Ficção)

Pessoas periféricas, LGBTI+ e pretas são constantemente associadas à demonstração de tragédia no universo audiovisual nacional, reproduzindo violentamente o espaço marginalizado que, infelizmente, ocupam em nossa sociedade. O que “Perifericu” faz é justamente trilhar o caminho inverso desta equação, trazendo suas ricas personagens para o centro da narrativa com estilo, sensibilidade e humor na medida certa.

Na história, as amigas Denise e Luz (interpretadas por Stheffany Fernanda e Vita Pereira, que também assinam a direção ao lado de Nay Mendl e Rosa Caldeira) nos apresentam suas rotinas ambientadas num universo 100% brasileiro, ressignificando a música gospel inescapável e enfrentando, cada uma à sua maneira, o desemprego, a discussão familiar e o preconceito social. Pra rir, pensar e antecipar um cinema tão vivo como o que é oferecido por aqui.

Em "Perifericu", aquelas que são colocadas à margem da sociedade, ocupam o centro da narrativa (Foto: Divulgação)
Em “Perifericu”, aquelas que são colocadas à margem da sociedade, ocupam o centro da narrativa (Foto: Divulgação)

Os Últimos Românticos do Mundo (Brasil Ficção)

Se o mundo tivesse data marcada para acabar, o que você faria nas suas últimas horas de vida? Para Pedro (Carlos Eduardo Ferraz) e Miguel (Mateus Maia), casal principal de “Os Últimos Românticos do Mundo”, a resposta é embarcar numa viagem tocante explorando a paixão mútua e revivendo, com afeto, tudo de bom que marcou a existência naquele cenário distópico onde uma nuvem rosa será a responsável pelo apocalipse.

Dirigido com muito carinho por Henrique Arruda, esta ficção-científica possui um universo tão rico que transborda em todos os detalhes da narrativa: seja na estética oitentista, recheada de referências (incluindo um lipsync de “Total Eclipse of the Heart” na beira da estrada) até a maneira como as subjetividades de seus protagonistas são construídas através dos relacionamentos com as mães. E mesmo que o visual impressione e deleite os olhos, o grande trunfo desta linda história é enxergar o amor como uma das grandes armas de resistência da nossa humanidade.

Mesmo com a chegada do apocalipse, o amor persevera na distopia queer “Os Ùltimos Românticos do Mundo” (Foto: Divulgação)

Bhoreal (Brasil Documentário)

Na primeira cena de “Bhoreal” (dirigido por Bernado de Assis), vemos uma drag queen entregando marmita para pessoas em situação de vulnerabilidade no centro de São Paulo. Em seu rosto, há uma máscara de tecido (presente também na face das demais pessoas que ajuda pela frente), o que faz com que identifiquemos de imediato o tempo verbal da história: o presente assolado pela pandemia do coronavírus.

A partir daí, conhecemos o lar físico e metafórico de Lorenzzo Di Padilla e Gervásia Bhoreal – aquela persona que lhe permite enfrentar o mundo com um salto nos pés e carinho no coração. Com uma simplicidade visual que favorece seu tom intimista, o filme toca pela vulnerabilidade daquele que permite que sua história seja contada, nos inspirando a desejar um mundo mais plural e menos injusto.

A história de Lorenzzo Di Padilla e sua drag Gervásia Bhoreal são a alma do documentário “Bhoreal” (Foto: Divulgação)

Sangro (Brasil Documentário)

Inspirado na história real do namorado do diretor Tiago Minamisawa, “Sangro” nos traz os conflitos internos de alguém que descobre ser portador do vírus do HIV. O sentimento de luto, proveniente da estigmatização da sociedade em torno da doença e de seus portadores, é contado através de animação stop-motion e narração em off. A lição que o filme nos deixa a partir da intimidade do relato é que mesmo que tenhamos apenas uma vida, com amor e compreensão, há sempre a possibilidade de recomeçar.

Inspirado em história real, “Sangro” tem animação stop-motion e narração em off sobre como é descobrir ser portador do vírus do HIV (Foto: Divulgação)

MC Jess (Regional Fluminense)

Em “MC Jess”, a maneira como acompanhamos a rotina de Jessica faz com que nos sintamos próximos da personagem. Mais do que isso: identificamos, em cada lugar pelo qual passa, situações semelhantes e pessoas parecidas com aquelas que a rodeiam. Diariamente enfrentando suas dúvidas internas e o preconceito da sociedade e da família, a jovem negra e lésbica entra em sincronia consigo mesma quando ganha voz naquilo que ama fazer: a poesia do rap.

O filme de Carla Villa-Lobos transita entre a ficção – tão real que mais parece um documentário – e os relatos de mulheres que, assim como Jess, encontraram na arte uma forma de resistência e transgressão. Destaque para a naturalidade com que Carol Dall Farra, também rapper e poetisa, vive a personagem que dá título ao curta.

O naturalismo com que Carol Dall Farra vive Jessica contribui para o tom realista de “Mc Jess” (Foto: Divulgação)

“Copacabana Madureira” (Regional Fluminense)

Aterrorizante e revelador na mesma medida, “Copacabana Madureira” pinta um retrato devastador da onda de fake news que surgiram durante as eleições presidenciais de 2018 e como muitas delas construíram em torno da comunidade LGBTI+ a figura de um inimigo comum à extrema-direita e aos seus valores deturpados de “família”. Mais ainda, explora também a dicotomia de vivências entre as zonas sul e norte do Rio de Janeiro, dando vida ao conceito de “Cidade Partida” por meio de imagens, depoimentos e notícias.

Há um grande mérito na forma como Leonardo Martinelli conseguiu montar o curta-metragem, principalmente na edição e sobreposição de emojis em imagens sacras, no uso de arquivos públicos da política nacional e ao fugir dos cenários clássicos e clichês da capital fluminense. Para quem ainda não entendeu como a realidade brasileira se transformou na distopia que vivemos hoje, “Copacabana Madureira” é um ótimo ponto de partida.

“Copacabana Madureira” faz retrospectiva aterrorizante e esclarecedora de 2018 e da dicotomia carioca (Foto: Reprodução)

“Dominique” (Brasil Documentário)

A personagem principal que dá nome ao curta é apresentada ao público através de um depoimento sensível, sincero e que quebra as expectativas e estereótipos normalmente atrelados às narrativas de travestis e transexuais. Apesar de Dominique nos contar suas histórias de violências, superação e preconceitos, ela o faz com simplicidade e leveza, ao mesmo tempo em que nos mostra como conseguiu que o amor próprio e materno prevalecesse em meio aos percalços de sua trajetória.

Aqui, é preciso dar o devido mérito a como a entrevista com ela e com Dona Deca foi conduzida por Tatiana Issa e Guto Barra, que souberam muito bem mesclar imagens de cobertura com declarações como “a vida da travesti é intensa, mas rápida”. Conhecer a história de Dominique traz frescor e um sopro de esperança para quem vive no país campeão de assassinatos trans.

Depoimentos de “Dominique” trazem sopro de alívio e força às narrativas trans (Foto: Divulgação)

“Hoje eu não fico no vestiário” (Brasil Documentário)

Como bem aponta o documentário de Nicole Lopes, o futebol é simultaneamente o esporte mais popular do Brasil e um espaço extremamente hostil para a comunidade LGBTI+, principalmente para as mulheres, sejam elas jogadoras ou torcedoras. Usando o time curitibano Capivara Esporte Clube como personagem central de um problema nacional, o curta traz depoimentos de gays e lésbicas que, excluídos desde cedo desse ambiente, resolvem criar seus próprios jogos e associações.

Lançado em 2019, “Hoje eu não fico no vestiário” precede um movimento que tomou conta do País com associações similares ao Capivara surgindo em vários estados, a ponto de fomentar uma torneio exclusivo de clubes LGBTI+, a LiGay Nacional de Futebol (LGNF). Para saber mais sobre o campeonato, leia essa matéria exclusiva na nossa 2ª edição.

A hostilidade à comunidade LGBTI+ no futebol é o eixo central de “Hoje eu não fico no vestiário” (Foto: Reprodução)

“Ela que mora no andar de cima” (Brasil Ficção)

Há quatro anos, abordamos na nossa 1ª edição a falta de representatividade lésbica no cinema nacional. Em “Ela que mora no andar de cima”, o diretor Amarildo Martins traz uma história completamente inusitada sobre o flerte entre duas vizinhas na melhor idade. Com performances ilustres de Marcélia Cartaxo e Raquel Rizzo, o curta é um primor, da caracterização e figurino ao cuidado com a fotografia. Desde Juliette Binoche e Johnny Depp em “Chocolate” que uma prova de doces não se mostrava tão sexy no audiovisual.

Ternura e bom humor dão o tom em “Ela que mora no andar de cima” (Foto: Divulgação)

“Não me chame assim” (Brasil Ficção)

Com uma atuação forte e convincente de Leona Jhovs, “Não me chame assim” aborda as mudanças na relação entre uma travesti e um homem cisgênero quando ela decide fazer sua cirurgia de redesignação. O tema quase universal à população trans é abordado com sutileza na direção de Diego Migliorini ao mostrar o que motiva seus personagens centrais e, simultaneamente, lançar um alerta real das possibilidades de desfecho para essa situação.

Do desrespeito à identidade de gênero às (im)possibilidades afetivas – mostradas tão bem em diálogos como o “dedo podre” de Daniela ou “nada vem fácil na vida da travesti” -, o curta constrói delicadamente o universo da personagem. E mais: deixa o público curioso para saber o que viria a seguir na vida dela.

Leona Jhovs brilha em “Não me chame assim” (Foto: Divulgação)

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