A partir da próxima quarta-feira (8), Lorelay Fox irá se tornar a primeira drag queen apresentadora do “Superbonita”, após 18 anos do programa na grade do GNT. “Eles resolveram reformular tudo. Agora, é um reality show, que lembra um pouco aquele estilo de ‘Project Runway’, mas cada episódio é com competidores diferentes”, ela conta com exclusividade à Híbrida.
Além de Lorelay, personagem criada pelo youtuber e publicitário Danilo Dabague, comandam esse novo formato do programa Karol Conká, que esteve à frente de sua última temporada; Giovanna Ewbank, que já fez as vezes de apresentadora na “TV Globinho” (2009) e no “Video Show” (2016); e o maquiador Renner Souza, queridinho das celebs que vai dividir com a drag queen a análise técnicas dos participantes.
“Eu e o Renner estamos como especialistas, dando um embasamento profissional e cobrando os resultados de um ponto de vista mais técnico”, explica Lorelay, que começou sua relação com o canal em 2016, no próprio “Superbonita”, quando foi convidada de Ivete Sangalo no episódio ‘Supermontada’.
Com quase 500k de inscritos em seu canal no Youtube, o “Para Tudo”, e mais uma legião de fãs espalhada por suas redes sociais, os 12 anos de experiência que Lorelay carrega com a arte drag lhe ajudaram durante o ritmo intenso de gravações do reality: “Olha, eu achei que não fosse aguentar real. Ser drag já é bem difícil e trabalhoso, e ainda tivemos uma semana em que gravamos seis dias seguidos. As gravações duraram mais ou menos 12 horas, em 13 diárias. No último dia, foram 17h de estúdio. Muito intenso, muito muito!”, ela revela.
Abaixo, conversamos com Lorelay sobre sua estreia como apresentadora de TV, o ritmo corrido de gravações, seu lado de jurada “carrasca”, a importância da representatividade que seu novo trabalho terá para jovens LGBTs e até pink money. Confira:
Híbrida: Como rolou esse novo job de apresentadora no “Superbonita”?
Lorelay Fox: É muito legal, porque é algo que eu gosto bastante, principalmente porque me identifico com a linguagem que o canal tem. Acho que temos uma conexão, nesse sentido. Ele tem umas pitada de feminismo e de diversidade, mas de forma bem suave e subliminar.
Eu sou aquela bicha que não acredita nas coisas até elas acontecerem. Achei que, no caso do “Superbonita”, eu apareceria em algum quadro dentro do programa para dar opinião. Não imaginei que fosse eu falando o tempo todo como está sendo.
H: O que os fãs que te acompanham no “Para Tudo” podem esperar da sua participação? O que vai mudar ou não?
LF: O foco do ‘Superbonita’ é enaltecer a maquiagem artística. Então, estamos lá para levantar a bola desses profissionais, que são muito desvalorizados. No meu canal, às vezes sou mais pessoal, descolado, falando de temas que têm a ver com a minha vida. No programa, eu estava mesmo com esse ângulo de ser especialista e fazer pontuações objetivas. Às vezes, eu me sentia muito séria, porque é algo muito grave julgar profissionais. Tem gente que trabalha há 30 anos e já fez capas de revista etc., então levei muito a sério essa questão da maquiagem artística.
H: E como tem sido a diferença entre gravar para a TV e para o Youtube?
LF: É um reality show, então tem muita coisa acontecendo. Eu perguntava muita coisa, aprendi muito e vi que, mano, as coisas acontecem real. Quem decidia o resultado mesmo éramos nós quatro, e o ritmo foi muito intenso justamente por isso. O tempo era real, então tinha que cobrar as pessoas. E a gente ficava nervoso, porque via que as pessoas não entregavam, aí tinha que brigar porque dava tudo errado. (risos)
H: Como foi o relacionamento com os outros apresentadores? Rolou alguma dica por parte da Giovanna e da Karol, que já estão mais acostumadas com TV?
LF: É exatamente isso, elas já estão bem mais acostumadas. A Karol já foi apresentadora, a Gio também, e eu pedia muita dica nesse sentido. A gente trocava várias figurinhas. Todo mundo ficava destruído no final do dia, mas também se apoiando muito. Tinha que ter um bate-bola muito legal de conversa e de sintonia. Era um clima muito gostoso e a gente conseguia desenvolver até mesmo quando não estávamos gravando. Posso dizer que mudei e amadureci muito como profissional nessa experiência. Tinha algo que aprendi do Youtube e que me ajudou muito, que é falar espontaneamente. Mas também precisava olhar para a câmera certa, trazer emoções para as pessoas e pensar na edição.
H: Aproveitando, você é uma jurada do tipo mais carrasca ou boazinha?
LF: Olha, tivemos algumas maquiagens muito horríveis mesmo. No Youtube, eu poderia ter escrachado a pessoa, mas na televisão você precisa de mais ‘rebolado’. Nas gravações, eu fui a pessoa que mais falou quando precisava brigar ou dar um sermão, porque eu já faço isso no meu canal, onde trago questões muito sérias, muito graves, mas sempre de maneira doce, tipo como um ‘tapa com luva’. Era sempre uma briga com embasamento técnico, nunca pelo meu gosto pessoal e sim pelo que esperávamos de acordo com o tema de cada prova. Em nenhum momento, os participantes acharam que fomos desonestos.
Estamos quebrando os estereótipos de que a figura da drag só serve para o povo rir da nossa cara
H: Em um dos seus vídeos, você comentou como é importante um artista LGBT+ ser apreciado pelo seu trabalho e não só pela sua imagem. Como vê o impacto do seu papel como apresentadora de TV nesse aspecto?
LF: Pra mim, isso é muito gratificante. As pessoas ainda me procuram mais para falar sobre temas de diversidade. Lá [no ‘Superbonita’], nós também falamos, mas de forma subliminar e puxando pela beleza, com seriedade. E é só agora que estão desenvolvendo esse olhar para as drags, percebendo que temos talento e técnica, tanto as cantoras quanto as maquiadoras. Estamos quebrando os estereótipos de que a figura da drag só serve para o povo rir da nossa cara. É para o povo rir com a gente, entender o que é a nossa arte e nossa expressão artística.
Eu fico feliz de fazer parte desse processo de transformação da mídia. É que eu sou uma bicha velha, então enxergo isso tudo de forma muito bonita. Nunca existiu uma referência dessas para mim e isso traz um sentimento muito grande de respobnsabilidade. Hoje, um menino que mora no interior do país consegue ver essas pessoas e se sentir representado. É bem legal saber que estamos saindo da internet, porque querendo ou não, os jovens já estão em contato com essa desconstrução. Mas aquela mãe de família vai ter uma outra visão, até porque a TV atinge um público diferente.
H: Você também falou bastante sobre a questão do pink money no seu canal, em relação ao vídeo do Nego do Borel. Como pessoa LGBTQ e, ao mesmo tempo, publicitário, de que forma você acha que marcas e artistas podem apoiar a comunidade de uma forma sincera?
LF: Isso é algo muito nítido pra mim. No meu canal, quando eu fecho jobs com marcas grandes, a gente precisa entender que a sociedade está começando a pensar na diversidade. Então precisamos pensar isso nas próprias empresas. Se alguém vai usar esse público para vender, mas se internamente também vai trabalhar essa questão como filosofia da empresa. É legal que as marcas levantem bandeira – elas vão vender mais, claro; mas precisamos realmente entender se elas estão criando uma mudança estrutural naquela questão.
É diferente do Nego do Borel falar que quer ser ‘diverso’, mas na sociedade ocupa outro lugar e tem outra postura. Acho que essa é a principal maneira de a gente descobrir se é um apoio sincero ou não, principalmente porque as marcas têm um poder muito grande. E acho que também depende de nós, influenciadores, cobrarmos isso das empresas.
O “Superbonita” estreia na próxima quarta-feira (08), às 22h30, no GNT.