Revista Híbrida
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Mostra “Curta Sapatão” reinvidica a presença lésbica no audiovisual

Tesouras e aranhas se enfrentam sobre um fundo escuro. Uma idosa reencontra sensações que estavam esquecidas. Um diálogo entre mãe e filha traz à tona o preconceito familiar. Com curtas-metragens independentes realizados por diretoras lésbicas, a mostra “Curta Sapatão” ocupou a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro na última quinta (29), Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, com essas e outras cenas para um público formado em grande maioria por mulheres lésbicas e bissexuais.

Produzido pelos Cineclubes LGBT+ e Quase Catalógo, o evento também contou com um debate após as sessões, com as participações das pesquisadoras Érica Sarmet, curadora da mostra, Naira Évine e Luiza Bellonia; das diretoras Carla Villa-Lobos e Patrícia Galucci; e da atriz Bruna Linzmeyer. Na ocasião, o público discutiu temas trazidos pelos filmes e questões relacionadas à produção e divulgação do cinema de temática lésbica, fugindo do estereótipo e da fetichização dos corpos femininos na sétima arte.

Imagem do curta-metragem "MC Jess", de Carla Villa-Lobos, presente na mostra "Curta Sapatão" (foto: Reprodução Instagram)
Imagem do curta-metragem “MC Jess”, de Carla Villa-Lobos, presente na mostra “Curta Sapatão” (foto: Reprodução Instagram)

Mas como definir os parâmetros desse “cinema lésbico”? Para Érica, que pesquisa o tema de forma independente há três anos, são filmes que “fogem da estética e do enquadramento masculinos – o cinema é uma linguagem inventada por homens”. A questão da representatividade e da auto-representação também é central nessas produções, tanto nas narrativas quanto na motivação das diretoras em realizá-las: “Tá na hora de a gente falar, de a gente se ver”, comenta a curadora.

“A importância de pautar a visibilidade lésbica no cinema vem muito para marcar um posicionamento. Onde estão as lésbicas no cinema?”, questiona Érica. O debate também é levantado pelas diretoras presentes na mostra: “Além de estar na tela, a representatividade também está atrás dela”, pontua Luiza Bellonia, estudante de Cinema da UFF.

José de Saia, Patricia Galucci, Naira Évine, Érica Sarmet, Bruna Linzmeyer, Carla Villa-Lobos e Luiza Bellonia durante o debate pós-sessões da mostra Curta Sapatão (Foto: Reprodução Instagram)

A interseccionalidade na abordagem dos filmes também foi uma temática amplamente discutida. Os curtas “Para Costurar Folhas Secas” (que conta com a participação da cantora lésbica Luedji Luna) e “Mc Jess” trazem a forma com que as lésbicas negras – e periféricas, no caso deste último – se colocam e encontram seu espaço em um mundo hegemonicamente branco, masculino e heterossexual.

“Mc Jess”, que fechou a mostra, conta a história de Jéssica, uma jovem lésbica de família evangélica, que encontra sua voz através da poesia do slam. “O curta surge dessa falta de representatividade que eu me deparei desde a minha adolescência, em que os filmes sobre lésbicas sempre tinham finais trágicos”, comenta a diretora Carla Villa-Lobos. A estrela do filme é Carol Dall Farra, poeta carioca que, fora das telas, produz o “Slam das Minas”, um espaço para mulheres recitarem suas poesias na rua.

Depois da mostra, grande parte das mulheres presentes na Cinemateca se dirigiu ao “Ocupa Sapatão”, evento na Cinelândia em homenagem a Marielle Franco, que reuniu atrações como o Slam das Minas e o casal de cantoras Bia Ferreira e Doralice.

Confira a lista dos filmes exibidos aqui.

E, para ler mais sobre o assunto, confira a matéria da nossa primeira edição, Onde estão as sapatonas no cinema nacional?”

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