Depois de dar vida a Rahim, um dos personagens queridinhos da série “Sex Education”, o ator francês Sami Outalbali, de 22 anos, chegou ao Brasil nesta semana para divulgar seu nove filme “Um conto de amor e desejo” (Une histoire d’amour et de désir), a segunda produção dirigida pela tunisina Leyla Bouzid. O longa integra a programação do 12º Festival Varilux de Cinema Francês, que volta ao formato presencial nesta quinta-feira (25) até o próximo dia 8.
Produzido na França, “Um conto de amor e desejo” conta a história de Ahmed, vivido por Sami, e Farah, uma jovem da Tunísia interpretada pela atriz Zbeida Belhajamor. O casal se encontra na Universidade de Sorbonne, em Paris, e logo desenrola um romance que quebra as expectativas de gênero e traz como pano de fundo uma coletânea de literatura árabe sensual e erótica, assim como o choque cultural entre os dois protagonistas.
A produção integrou a Semana da Crítica do Festival de Cannes 2021 e ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival Du Film Francophone d’Angoulême 2021. No Brasil, a estreia nos cinemas está prevista para o próximo ano, com distribuição da Bonfilm.
“O filme é uma jornada sobre o desejo dos dois”, conta Sami, em entrevista exclusiva à Híbrida. Além de Paris e da literatura, também está no centro do romance a virgindade de Ahmed e a forma com que ele e Farah lidam com ela. “Normalmente, com um cara hétero, existe toda essa lenda e hábito de simplesmente fazer [sexo pela primeira vez] e apenas superar. E esse cara [Ahmed] realmente não é desse tipo. É uma nova forma de masculinidade, que não estamos acostumados a ver.”
Aproveitamos a oportunidade também para conversar com o Sami sobre a terceira temporada de “Sex Education”, que traz algumas reviravoltas no triângulo amoroso vivido por Rahim, seu personagem Adam (Connor Swindells) e Eric (Ncuti Gatwa). “Acho que esses três personagens mostram coisas bem diferentes. É bem interessante ver como esses caras estão mostrando tantas possibilidades. Entendo completamente que quando você é um adolescente ainda está se questionando”, comentou.
“Um conto de amor e desejo” terá sessões por todo o Brasil através do Festival Varilux, cuja programação completa você pode conferir clicando aqui. Abaixo, veja o trailer do filme e confira a nossa entrevista completa com o Sami:
HÍBRIDA: Essa é a sua primeira vez no Brasil? Como estão as expectativas?
SAMI OUTALBALI: Sim, e está incrível. Eu fiz capoeira por cerca de nove anos quando era criança e estava bastante ansioso para ver isso aqui nas ruas e decidir se eu conseguiria ou não entrar em alguma roda. Quero só observar as diferenças, mas obviamente é melhor aqui.
H: Existe um novo movimento na capoeira que tem mesclado os passos da luta com os do voguing. Você deveria procurar.
SO: Oh, isso é irado! Que loucura!
H: O que te atraiu na história de “Um conto de amor e desejo” e no Ahmed como personagem?
SO: Apenas a simplicidade dele e, ao mesmo tempo, a sua complexidade, a forma como esse personagem está equilibrando vários sentimentos o tempo todo. O filme é uma jornada sobre o desejo deles. Ahmed está procurando descobrir mais sobre si, suas origens e seus pais – na verdade, eu me senti bastante envolvido com isso. E também a forma como a diretora queria filmar e mostrar essa história me atraiu.
H: Ambos os personagens vêm de países bem diferentes, mas ao mesmo tempo muito conservadores, apenas para se encontrarem em Paris. Como você acha que a cidade funciona de pano de fundo para essa história, especialmente ao instigar o relacionamento entre eles?
SO: Eles estão apenas explorando suas juventudes e acontece que estão fazendo isso em Paris, mas acho que poderia acontecer em qualquer lugar. Esse é meu ponto de vista, talvez a diretora possa discordar de mim. Mas eles estão apenas querendo descobrir quem são. Farrah está apaixonada por Paris quando encontra esse cara jovem, legal e tímido, e toda a química entre eles. Mas ela também aprende que ele tem muito a aprender antes de estar apto a ficar com ela. Por isso que o filme é uma jornada dos dois juntos.
É uma nova forma de masculinidade, que não estamos acostumados a ver
H: Logo no trailer, conseguimos perceber que ela é bem compreensiva com a questão de ele ser virgem, o que é uma forma interessante de mostrar essa ideia da masculinidade, especialmente para rapazes héteros. Você acha que essa fragilidade dele foi importante na construção do personagem?
SO: Completamente. Na verdade, é muito importante até mostrar essa forma diferente de ter sua primeira vez. Normalmente, com um cara hétero, existe toda essa lenda e hábito de simplesmente fazer [sexo pela primeira vez] e apenas superar. É algo supostamente divertido, para comentar com seus amigos, como uma espécie de competição, e esse cara [Ahmed] realmente não é desse tipo.
Ele está na verdade tentando entender que pode ter sexo e a sua primeira vez com essa garota [Farrah], mas sem ter que apressar as coisas. Ele ainda não está disponível e está esperando até se sentir totalmente bem consigo mesmo antes de ficar com ela. É uma nova forma de masculinidade, que não estamos acostumados a ver.
H: Sim, normalmente esse comportamente é atribuído às mulheres…
SO: Infelizmente, sim. Porque começamos a atribuir gênero às personalidades e atitudes, e eu realmente não entendo como podemos fazer isso e categorizar uma forma de ser e existir.
H: Ahmed e Rahim, de “Sex Education”, são grandes fãs de poesia e literatura. Você também compartilha dessa paixão por livros?
SO: Na verdade, eu comecei a realmente ler há uns dois anos, porque me ajuda a dormir. E então continuei lendo até agora. Eu fico bem triste que estamos perdendo esse hábito. Recentemente, comecei a ler esse autor que estou gostando muito, Amin Maalouf. Ele é francês de origem libanesa e detalha bastante a cultura árabe, o que é interessante porque me aproxima da minha cultura e das minhas raízes.
H: No final da terceira temporada de “Sex Education”, existe um clima no ar de que talvez Rahim possa ter algum relacionamento romântico com o Adam. Você gostaria que isso acontecesse?
SO: Eu não sei o que vai acontecer, só sei que adoro trabalhar com o Connor [Swindells]. Não sei nem se vou participar da quarta temporada, mas eu amaria encontrar e trabalhar com eles de novo, e participar novamente dessa aventura.
H: A série tem conquistado bastante o público do Brasil por abordar o sexo sem tabus, como um assunto que pode e deve ser abordado abertamente. Você sentiu esse mesmo impacto do público europeu?
SO: Acho que a série obviamente tocou as pessoas na Europa, mas as pessoas que conheci no Brasil têm me contado que ela é gigante por aqui e eu não sabia disso. Eu tinha uma noção por causa do Instagram, já que muitos dos meus seguidores são da América Latina, especialmente daqui, do México e da Argentina.
Quando entrei para a série, todo mundo me disse que seria algo grande, mas eu não acreditei porque estava muito focado no trabalho que não queria prestar atenção nisso. Acho que é a melhor forma de lidar com essas coisas.
H: “Sex Education” tem trazido para a tela uma representatividade LGBTI+ que não estamos acostumados a ver, principalmente em personagens tão jovens. Como se sente fazendo parte disso?
SO: Eu acho que esses três personagens que citamos mostram coisas bem diferentes. O Eric é abertamente gay, o Adam passou por uma longa jornada até se descobrir gay. Já no caso do Rahim, as pessoas dizem que ele é gay porque estava saindo com o Eric, mas ele nunca disse isso explicitamente.
H: Eu, na verdade, sempre tive a impressão que ele era bi ou panssexual…
SO: Pois é, ele nunca disse nada. Então acho que é bem interessante ver como esses três caras estão mostrando tantas possibilidades. Eu entendo completamente que quando você é um adolescente ainda está se questionando, e ver esses personagens é incrível. Eu adoraria ter tido uma série como essa quando eu tinha 15 ou 16 anos.