As Paralímpiadas de Paris 2024 chegaram ao fim neste domingo (8) como a edição mais bem-sucedida para o Brasil. E tudo isso só foi possível graças a uma delegação composta por oito atletas LGBTQIA+, o que nos tornou o país com mais representantes da comunidade na capital francesa, à frente de outros como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália, de acordo com levantamento feito pelo site Outsports.
O Brasil quebrou seu recorde total de medalhas até aqui, com 89 conquistas durante as duas semanas de competição – a melhor marca era 72, na Rio 2016 e em Tóquio 2020. Além disso, os brasileiros levaram 25 medalhas de ouro, superando o recorde anterior de 22, durante a última edição. Cinco medalhas brasileiras foram conquistadas por atletas LGBTQIA+.
A judoca Alana Maldonado se tornou bicampeã paralímpica na categoria 70kg da classe J2 (atletas que conseguem definir imagens). A nadadora Patrícia Pereira dos Santos levou a prata no 50m peito na classe SB3 (para atletas com limitações físicas severas) e também conquistou um bronze no revezamento 4x50m livre misto. Já Mari Gesteira também colocou duas medalhas no peito: bronze nos 100m livre e também nos 100m costas feminino na classe S9 (limitação físico-motora).
E para celebrar a primeira vez que o Brasil ficou entre os cinco melhores do quadro de medalhas de uma Paralimpíadas, a Híbrida fez um Top 5 de momentos especiais LGBTQIA+ em Paris 2024, que ficará para sempre na história do esporte.
5 melhores momentos LGBTQIA+ nas Paralimpíadas de Paris
- A Primeira Trans Paralímpica
A velocista italiana Valentina Petrillo se tornou a primeira atleta transexual a disputar uma edição das Paralimpíadas. Aos 50 anos de idade, ela passou pela transição em 2019, mas não conseguiu a vaga em Tóquio. Após disputar o Mundial de Atletismo Paralímpico em 2023, Petrillo finalmente realizou o sonho das Paralimpíadas e disputou a prova dos 100m e 400m na classe T12 (para atletas com deficiência visual).
A italiana é diagnosticada com a doença de Stargardt, que causa perda progressiva da visão, principalmente na área central, ocasionada pela degeneração das células da retina. Ele avançou até as semifinais, mas não se classificou para as disputas de medalha.
- O Ouro de Alana
Aos 29 anos, Alana Maldonado já está acostumada a fazer história. Em 2021, ela se tornou a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro no Judô em Paralimpíadas. Agora ela repetiu a dose, conquistando mais um ouro em Paris e se tornando bicampeã paralímpica.
A atleta do Palmeiras enfrentou uma adversária difícil na final, a chinesa Wang Yue. As duas já tinham duelado três vezes em 2024, com Alana perdendo todas as lutas. Mas dessa vez, a brasileira exorcizou os fantasmas e conseguiu um ippon para derrotar a rival e trazer o ouro para casa.
- Fierté em Paris
O francês Dimitri Pavade ficou em quarto lugar no Salto em Distância T64, classe em que disputam atletas com deficiência nos membros inferiores com prótese. Muita gente pode lamentar ficar tão perto do pódio e sair sem medalha, mas ele deve se orgulhar de uma conquista ainda maior: foi durante as Paralimpíadas que Pavade declarou publicadamente ser homossexual.
“Agora tenho uma segunda luta para travar com minha comunidade LGBTQIA+ e espero dar força e coragem também às pessoas que ainda estão no armário ou aos atletas de alto rendimento que não se atrevem a viver aberta e livremente essa liberdade que nos é devida por direito”, disse em suas redes sociais.
- Recordista Não-binárie
Aos 37 anos, Christie Raleigh Crossley disputou sua primeira Paralimpíada e conquistou nada menos que cinco medalhas na Arena Paris La Défense, que recebeu a Natação. Foram dois ouros, duas pratas e um bronze nas categorias S9 e S10, para atletas com deficiência física mínima. Nenhum outro atleta LGBTQIA+ conquistou tantas medalhas no evento.
Sua deficiência não é tão visível quanto a da maioria dos outros nadadores de sua classe. Christie teve um tumor no sangue removido do cérebro em 2019 e tem uma deficiência neurológica. Desde 2023, elu se declara como atleta não-binárie e conta com o apoio da Confederação Paralímpica dos EUA.
- Ela disse ‘SIM’
Medalhista de bronze nas Paralimpíadas de Tóquio, Jardênia Félix não conseguiu repetir a boa atuação em 2024, e terminou em quinto lugar no Salto em Distância T20, classe para atletas com deficiência intelectual. Mas Paris é a cidade do amor, e a brasileira não poderia perder a oportunidade de pedir a namorada Kayllany Yasmin em casamento.
Após a competição no Stade de France, Jardênia mostrou um pequeno cartaz com a mensagem “Kayllany, casa comigo?”. É claro que a amada, que estava na arquibancada com as bandeiras do Brasil e LGBTQIA+, só poderia lhe dar uma resposta: sim!
- Extra – Lucky Love na Cerimônia de Abertura
O artista francês Lucky Love foi convidado para se apresentar na Cerimônia de Abertura das Paralimpíadas de Paris 2024. Nascido Luc Bruyère, ele transformou a própria canção “Masculinity”, que fala sobre gênero e padrões estéticos, em “My Ability”, um jogo com a palavra disability, que significa “deficiência” em inglês.
Lucky Love é conhecido na cena LGBTQIA+ europeia, e nasceu sem o braço esquerdo. Seu ato na abertura dos Jogos foi ainda mais impactante pelo cantor performar com o dorso desnudo, mostrando com orgulho o seu corpo para milhões de espectadores que acompanharam a cerimônia por todo o planeta.
Publicado por @hibridamagazineVer no Threads