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Cultura

Biblioteca em homenagem a Laura de Vison é inaugurada no Rio

Laura de Vison fotografada por Pedro Stephan (Reprodução)

Lançado ainda em junho deste ano, o Centro Provisório de Atendimento (CPA IV) para LGBTs na Lapa, região central do Rio de Janeiro, inaugurou nesta semana a Biblioteca Professora Laura de Vison, em homenagem à icônica transformista e atriz brasileira. A iniciativa foi uma ação articulada entre a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS Rio) e Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH).

“Como professor, reafirmo que não existe transformação social sem passar pela educação, que abre horizontes para inúmeras oportunidades e promove cidadania”, afirmou Nélio Georgini, coordenador da Ceds, em nota à imprensa. “É importante prover esta parcela da população de alimento para o intelecto, abrir as portas para o conhecimento e dotá-los de capacidade para entender o mundo que os cerca por outras lentes. E a literatura pode cumprir perfeitamente este papel”, complementou Tia Ju, secretária de Assistência Social e Direitos Humanos.

Cerimônia de inauguração da Biblioteca Professora Laura de Vison, na Lapa (Foto: Divulgação)
Cerimônia de inauguração da Biblioteca Professora Laura de Vison, na Lapa (Foto: Divulgação)

Laura de Vison (1939-2007) foi uma persona criada pelo professor Norberto Chucri David em 1981 e, em suas próprias palavras, uma artista “drag queen-travesti-transformista” que fez história na cena carioca. Formada em Filosofia, deu aula de história por 18 anos no Colégio Cenecista Capitão Lemos Cunha, na Ilha do Governador, antes de ser demitida quando assumiu sua homossexualidade.

Aniversário Laura de Vison, 2007 (Foto: Pedro Stephan | Arquivo Pessoal)1

Encarada por muitos como a versão brasileira de Divine (1945-1988), musa do cineasta John Waters, Laura ficou conhecida ainda na década de 1960 e seu império na noite underground carioca durou pelos 40 anos seguintes. No palco, a artista entregava performances literalmente viscerais, chegando a comer miolos de animais (300g, para ser exato) em uma participação n’O Fantasma da Ópera. Em outras apresentações, revesava a troca de looks entre as peças de seu acervo, com mais de 100 vestidos, 40 perucas e 50 calçados.

Laura de Vison é homenageada em biblioteca no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

“Espero reações de qualquer tipo. Só não quero ninguém parado, estático. Pode me xingar, jogar coisas, não importa”, declarou em 1997 ao jornal Folha de S. Paulo, pouco antes de estrear na noite paulista. “O que é agressão, afinal? As pessoas são muito presas a coisas pré-estabelecidas, não se soltam. Eu peso mais de 150 quilos e vou fazer um strip-tease no ‘Babel’. A ideia é que todo mundo se sinta belo, não importa o que os outros achem.”

Na década de 1970, durante a ditadura militar, Laura foi presa “simplesmente por ser gay”. Nos anos seguintes, seu nome tornou-se sinônimo da noite carioca e ela chegou a conquistar até o estilista Jean Paul Gaultier, que ficou fascinado com o fato de que a artista também trabalhava como professor. No carnaval, ela chegou a ser homenageada com um carro alegórico no desfile da G. R. E. S. Estação Primeira de Mangueira, em 2018.

Carro alegórico da Estação Primeira de Mangueira em homenagem a Laura de Vison (Foto: Reprodução)

Laura morreu no Rio de Janeiro em 8 de julho de 2007 por complicações respiratórias decorrentes de uma cirurgia para tratamento de hérnia. Seu último trabalho foi a peça “Dei a Elza em Você”, do ano anterior.

A Biblioteca Professora Laura de Vison fica no Centro Provisório de Atendimento (CPA IV), na Rua Tenente Possolo, na Lapa, e conta com acervo de 200 livros. O local tem capacidade total para acolher 50 pessoas e, até esta semana, já havia ocupado 30 vagas, oferecendo quatro refeições por dia aos hóspedes.

Hóspedes do CPA IV durante cerimônia de inauguração da Biblioteca Professora Laura de Vison, na Lapa (Foto: Divulgação)

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