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Cláudia Celeste, a primeira atriz travesti em novelas do Brasil

Cláudia Celeste, a primeira travesti e transexual a participar de uma novela no Brasil, é homenageada pelo Google (Foto: Reprodução)

Cláudia Celeste, a primeira travesti e transexual a participar de uma novela no Brasil, é homenageada pelo Google (Foto: Reprodução)

O Google decidiu homenagear nesta segunda-feira (22) a atriz Cláudia Celeste, primeira travesti e transexual a aparecer em telenovelas do Brasil. A imagem da artista está desde meia-noite ilustrando o doodle, versão customizada do buscador

A data não foi escolhida por acaso: há exatos 34 anos, em 22 de agosto de 1988, foi ao ar em rede nacional o primeiro episódio da novela Olho no Olho, que marcou também a primeira aparição de Cláudia Celeste na TV. O folhetim dirigido por Ricardo Waddington foi transmitido na TV Manchete e trazia a atriz como Dinorah, mulher que precisava se prostituir para sobreviver. Este foi o primeiro papel fixo de uma atriz transexual na televisão.

Cantora, dançarina, diretora, produtora, autora, cabelereira e uma infinidade de coisas mais, Cláudia nasceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 1952. Ela serviu no Exército e, em seguida, começou a trabalhar como cabeleireira em Copacabana, quando tinha 20 anos. Foi nesse período que ela dizia ter entendido a vontade de transicionar.

O início da carreira artística de Cláudia foi no palco do Teatro Rival, na Cinelândia, que segue até hoje como um espaço de potencialização dos talentos LGBTI+. Em 1973, a atriz participou do espetáculo de revista O mundo das bonecas, assinado por Gugu Olimecha e produzido por Américo Leal, pai da atriz Leandra Leal.

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Ela era conhecida na noite carioca como a Lebre Misteriosa do Imperial, uma referência ao produtor artístico Carlos Imperial, quem lhe batizou como Cláudia Celeste. Sob sua direção, ela participou do show Era uma vez no Carnaval, na extinta Boate Sucata, de Ricardo Amaral, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Em 1976, Cláudia se inscreveu Miss Brasil Gay, no qual levou a faixa e a coroa, tornando-se a terceira campeã na história do evento, depois Paulette Loramil, em 1974, e Angela Leclery, em 1975. Ela recebeu a faixa no Teatro Carlos Gomes, que ainda resiste na Praça Tiradentes. Ao longo dos anos, ela produziria e venceria outros muitos concursos de beleza do tipo, o que acabaria catapultando a artista para uma carreira na TV.

Ao longo de sua carreira, Cláudia Celeste contracenou com nomes como Sônia Braga, Lima Duarte, Beth Goulart, Mario Gomes, Paulo José, Sônia Clara, Renée de Vielmond, Herson Capri, Tonico Pereira e muitos outros. Ela também participou de filmes nacionais, como Motel, Punks – Os Filhos da Noite e Beijo na Boca, além de ter gravado discos que iam do rock à bossa nova, a maior parte deles inspirados nos espetáculos musicais que apresentava.

Transfobia

Apesar de ter estreado em Olho no Olho, Claudia Celeste foi convidada em 1976 para participar da novela Espelho Mágico, após o diretor Daniel Filho ter visto ela se apresentando no Rival. Seu papel entretanto foi cancelado e os episódios que ela gravou editados após o restante do elenco e a imprensa ter descoberto que a atriz era transexual.

Após esse episódio, Claudia saiu do Brasil para trabalhar na Europa, mesmo destino encontrado por muitas de suas artistas contemporâneas chamadas transformistas naquela época, como as Divinas Divas, que também se criaram no palco do Rival e sob a direção de Américo Leal. Quando voltou ao País, ela finalmente chegou à TV, por Olho no Olho.

Claudia Celeste morreu aos 65 anos no Rio de Janeiro, em 2018, por causa de uma infecção pulmonar. Ela deixou um legado inestimável para a população LGBTI+ do Brasil, especialmente para travestis e transexuais que, mesmo depois de 34 anos, ainda lutam para conseguir espaço na TV aberta e serem representadas de forma digna e humanizada na teledramaturgia ou no audiovisual, de forma geral.

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