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Polônia promove campanha para país adotar “zonas livres de LGBTs”

No início deste ano, ao menos um terço das cidades na Polônia declararam ser “zonas livres de LGBTs”, uma ideia que começou a ser preada ainda no ano passado, com o acirramento dos discursos religiosos da extrema-direita que buscava se reeleger no país. Na última quinta-feira (30), a União Europeia declarou um bloqueio ao financiamento para pelo menos seis cidades polonesas que aderiram à campanha.

“A UE valoriza os direitos fundamentais que devem ser respeitados pelos estados membros e suas autoridades”, declarou Helena Dalli, comissária europeia pela Igualdade, em suas redes sociais. “Nossos tratados na Europa garantem que qualquer pessoas é livre para ser quem é, viver onde preferir, amar quem quiser e mirar tão alto quanto almejar. Eu vou continuar a insistir em uma #UniãodeIgualdade”, reforçou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em suas redes sociais.

Na prática, as medidas atacam o bolso de cidades que mantinham programas de intercâmbio ou geminação com outras regiões europeias, cujo financiamento pela União Europeia pode chegar a até € 25 mil (R$ 156 mil). Algumas regiões, inclusive, já haviam se adiantado à decisão da UE e imposto seus próprios bloqueios a parcerias com a Polônia, como foi o caso da cidade de Douai, na França.

Parada do Orgulho LGBTQ na Polônia em julho de 2019, poucos meses antes das eleições presidenciais que reelegeram a extrema-direita no país (Foto: Stoyan Nenov | Reuters)

As medidas vêm após o país ter passado por uma escalada da violência contra LGBTs desde o ano passado, quando as eleições presidenciais fizeram o discurso da extrema-direita do país se inflamar ainda mais. Ainda em 2019, pelo menos um terço das cidades e regiões polonesas assinaram uma campanha para se declararem “zonas livres de LGBTs”, como se a população fosse uma praga a ser exterminada.

Há poucos meses, o jornal polonês Gazeta Polska chegou a imprimir adesivos que diziam “zona livre de LGBTs” e incentivou os leitores a exibi-los publicamente em suas casas. Aliado do Partido Lei e Justiça (PiS), ao qual o presidente Andrzej Duda é filiado, o veículo perdeu anunciantes após o caso, mas a discriminação explícita no país não diminuiu.

O presidente polonês Andrzej Duda (Foto: AFP)

Na Polônia, não há nenhum reconhecimento legal de uniões homoafetivas e um dos principais motes da campanha que começou em 2019 e se estende até aqui é a de que autoridades locais devem se abster de ações que possam ser interpretadas como “tolerantes” à comunidade LGBTQ. Ao mesmo tempo, o país se esforça para impedir ajuda financeira às organizações não-governamentais que ajudem a promover direitos igualitários para essa população nas 80 regiões que já se declararam como “zonas livres”.

A campanha foi apoiada pelo ministro de ativos estatais Janusz Kowalski, que reforçou a ideia de a Constituição polonesa reconhecer o conceito de família apenas como aquela formada entre um homem e uma mulher. “Não podemos permitir que um único euro seja tirado da Polônia, dos governos locais poloneses ou de qualquer instituição por dizer ‘não’ à ideologia LGBT e por protegerem a família polonesa”, declarou ao jornal Rzeczpospolita.

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