Nos lançamentos LGBTI+ com as principais novidades musicais de setembro, o colunista Fabiano Moreira* comenta os novos discos de Björk, Noporn, Thiago Pantaleão, IZRRA e Deize Tigrona, o EP da musa IZA, os novos singles de Pabllo Vittar com MC Carol e com Vitão, a parceria quentíssima de Sam Smith com Kim Petras, além das faixas mais recentes de Kali Uchis, Daniel Peixoto e da misteriosa GA31.
Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist abaixo para ouvir também os lançamentos de Ludmilla, Christina Aguilera, Paramore, Luedji Luna, Marina Sena e mais:
Björk – “Fossora”
Depois de cinco anos sem lançar disco, a islandesa Björk, talvez a maior cantora viva na Terra, voltou a chamar a atenção global com seu novo álbum, Fossora. No primeiro single divulgado, “Atopos”, ela vive no mundo de visual caprichado dos cogumelos. Em “Ovule”, looks impressionantes contam a história do seu divórcio traumático do parceiro de longa data Matthew Barney. O disco foi parcialmente inspirado pela morte da mãe da artista, em 2018, como fica visível nas músicas “Sorrowful Soil” e “Ancestress”. O álbum foi criado na Islândia, depois de 16 anos sem visitar seu país de origem, em meio ao confinamento da covid, e conta com a participação dos dois filhos, Sindri e Ísadora, além do sexteto de clarinete Murmuri, que fez desse um álbum do instrumento. Nessa volta pra casa, duas faixas foram gravadas em islandês. Ela faz show no Primavera Sound, em São Paulo, em 5 de novembro.
Noporn – “Contra dança”
Eu tenho muito orgulho de ser um lianer, nome dado pelo jornalista Renan Guerra, risos, aos fãs de Liana Padilha, fundadora e voz do duo de música eletrônica Noporn, que acaba de lançar o segundo disco com o novo produtor e integrante Lucas Freire, Contra Dança. Este é o quarto álbum do projeto, que está completando 20 anos de serviços prestados à cena clubber nacional. A dupla, esse mês, segue em turnê pela Europa e volta ao Brasil para os shows de lançamento em novembro. O disco traz 12 faixas que têm a noite e o sexo como protagonistas e foram compostas durante e após a tour pela Europa divulgando o SIM, último disco. Bati papos com a dupla para a Sexta Sei nos lançamentos dos dois discos, aqui e aqui.
Thiago Pantaleão – “Fim do Mundo”
A primeira vez que eu vi o Thiago Pantaleão foi só aquele barulhão do tabu sendo quebrado em “Bumbum Check”, clipe com Villa e Ruxell no qual Pantaleão rebola como só ele sabe rebolar. É muito controle do bumbum! Ele acaba de lançar seu primeiro álbum, Fim do Mundo, pela Som Livre, com direção artística de Pablo Bispo e produção musical de Ruxell e Gondim. O primeiro single, “Desculpa por eu não te amar”, já antecipava o mix gostoso de pop rock e R&B do trabalho e estourou, com mais de 1,5 milhão de plays, falando sobre responsabilidade afetiva. Adoro “Mente pra mim” e o arrocha pop de “Fim do mundo”. O disco traz parcerias com Day Lins e Lukinhas, e a capa remete ao universo de animes, imprimindo uma nova abordagem da homoafetividade.
IZRRA – “Coisas de amor”
Está um bailão o álbum de estreia do carioca IZRRA, Coisas de Amor, que saiu pela Universal com clipe recheado de cenas quentes com o ator Ícaro Silva para a linda “Céu Lilás”. O vídeo foi gravado na Cruzada São Sebastião, conjunto habitacional popular carioca no Leblon, símbolo de resistência. São oito clipes ao todo, como “Naquele quadro”. O cantor, que afirma estar se descobrindo sexualmente, começou na igreja e no metrô e fez um disco que fala de amor em todas as suas nuances e da liberdade de ser quem se é. Ele diz estar se descobrindo, beija Ícaro no clipe e insinua “grandes lábios” em “Todas as canções”. Esbanjando calor, sensualidade e swing, IZRRA mostra como aprendeu a ter um olhar mais amoroso sobre as situações e sobre ele mesmo com suas canções dançantes. Ele aborda temas como autoestima, homoafetividade preta, descobertas, liberdade, relacionamento e amor.
Deize Tigrona – “Foi eu que fiz”
Tenho uma história de amor muito bonita com a Deize Tigrona. Divulguei o seu retorno com o hit instantâneo “Madame”, com produção do meu chapa e irmão Fredi Chernobyl, da Comunidade Nin-jitsu. Comecei a atender a Deize, com um fee simbólico que durou só três meses, e foi um estouro da boiada, todo mundo queria falar com a gata, o que me abriu muitas portas e divulgou o meu escritório, que estava nascendo. Acho que todo o nosso amor está impresso aqui nessa foto, na Bootie Rio no Rivalzinho. Foi no ambiente da festa que nasceu o mashup de Sadomasoquista com Rihanna, do Videomash, que viralizou no TikTok. Nessa época, eu nem sabia que a Deize enfrentava uma batalha contra a depressão (tema da música “Pelo amor de Deize”) e que estava trabalhando, há alguns anos, como gari no Rio de Janeiro. Fiquei muito feliz quando ela, finalmente, foi abraçada e envolvida pelo amor da Batekoo Records, responsável pelo lançamento de seu segundo disco, Foi Eu Que Fiz, com as canetadas da diva, que assina todas as letras de suas músicas, embaladas em ritmos como funk, trap, pop, rock e música eletrônica. O disco foi todo construído em cima de colaborações de Deize com Malka (que assina e a producão), JLZ, Teto Preto, DJ Chernobyl, Francêsbeat e Badsista.
IZA – “Três”
IZA é um raro caso de artista que alcançou imenso sucesso sem ter um bom álbum lançado. Este é o desafio ao qual a artista se entrega com os recentes lançamentos, que vão compor tal disco, como o recente EP Três, com “Mole”, “Mó Paz” e “Droga”, que ganharam um filme, além dos lindos singles “Gueto”, “Sem Filtro” e “Fé”. Bem, o problema do disco parece resolvido. O curta traz muita dança contemporânea, visuais de cinema e retrata diferentes fases das relações amorosas. IZA aparece ainda anônima, em casa, sonhando em ser cantora, no vagão de metrô e em um apartamento abandonado.
Pabllo Vittar e MC Carol – “Descontrolada”
Se tem alguém que trabalha seu nome é Pabllo Vittar, que passou por aqui, na coluna de agosto, com faixas com Lexa e Chameleo. Pois a gata está de volta com três lançamentos, sendo uma inédita, a primeira do próximo disco, PV5, feat com a absurda MC Carol em “Descontrolada”, que quase quebra a internet, rodando igual ao Taz e com a peruca bicolor que homenageia o MC Brinquedo. Também chegaram remixes, um da Brabo Music com Betty Who, “She Can Dance”, e também o de “S de Saudade (Remix)”, com o Vitão, um cara que eu adoro. O primeiro ganhou estética que emula os anos 90 e é uma homenagem às pistas de dança e mais uma parceria gringa da drag, que já lançou faixas com Lady Gaga, Charli XCX, MARINA, Lauren Jauregui, Thalia e Rina Sawayama. Já na música com Vitão, sobre liberdade, ele, que adora uma montação, disputa com a drag quem tem mais “charisma, uniqueness, nerve and talent” em um casaco “bordado” com ursinhos de pelúcia em um parque de diversões.
Sam Smith e Kim Petras – “Unholy”
“Unholy”, a parceria queer entre o home gay inglês Sam Smith e a mulher trans alemã Kim Petras, estreou direto no topo da parada britânica de singles, alçando a dupla ao mesmo patamar de Oasis e The Rolling Stones. A faixa é o single principal do quarto álbum de estúdio de Sam, que vem aí. No videoclipe, uma mega produção, tem bastante sensualidade e clima de cabaré. A música conta a história de um homem que deixa sua esposa em casa para se jogar em uma festa em clube secreto de strip tease, o “Body Shop”. Kim Petras é expoente do pop que emula os anos 00 com letras explícitas sobre sexo, amo demais seu último disco, Slut pop. Serviram.
Kali Uchis – “No Hay Ley”
A musa colombiana Kali Uchis esbanja sensualidade. Eu adoro o seu som e sigo seus passos com curiosidade, assim como toda a nova explosão em língua espanhola. “No hay ley” tem estética anos 1990, calcada na house music, e fala sobre uma obsessão apaixonada servindo corpão no clipe. Este é o primeiro single desde o lançamento de “Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios)”, seu disco de 2020. “Fiz essa canção sobre colocar o amor acima de todo o resto. No amor, não existe lei”, declarou.
GA31 – “Futuristic Love”
Já tem um tempão que eu sou completamente aficcionado pela artista que se autointitula GA31 e nunca, jamais, mostra a face ou se apresenta ao vivo. Toda a mística é reforçada e embasada no suposto sapatonismo da artista e no uso de uma voz semelhante a de uma assistente pessoal, robotizada, em seis discos lançados. Além do grande hit “Lésbica Futurista”, que viralizou no TikTok da Rússia, ela fez algumas faixas muito bacanas com a Clarice Falcão, que nunca a encontrou pessoalmente, como apurei, para a maravilhosa “Famosa” e um remix pra “Mal pra saúde”. Falam por aí que GA31 é, na verdade, um homem gay, mas seus serviços à causa sapatão são reconhecidos em todo o território nacional. O último lançamento, “Futuristic love”, depois de um tempo sumida, traz o que a gata faz de melhor, colagens digitais e mixagem de imagens, “just chilling”.
Daniel Peixoto – “Ciúme”
Conheço o cearense Daniel Peixoto desde os anos 2000, quando ambos éramos usuários de Fotolog, e ele, vocalista da banda de rock Montage, fazia história. Convivemos bastante também no saudoso clube Dama de Ferro, em Ipanema, no Rio, onde eu era parte da mobília, risos. Ele lançou a faixa “Ciúme”, que mistura sintetizadores de electropop com ritmos nordestinos, como forró, piseiro e repente, e antecipa seu próximo disco, Tropiqueer, previsto para este mês de outubro. A produção é do conterrâneo Alahin, nome por trás de sucessos de Lorena Simpson e Natalia Damini. O lançamento conta ainda com uma versão instrumental, para karaokê.
*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.