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Playlist: Os melhores lançamentos LGBTQIA+ de janeiro

Discos de Sam Smith, RuPaul e Gali Galó são destaques dos lançamentos musicais de artistas LGBTI+ em janeiro

Discos de Sam Smith, RuPaul e Gali Galó são destaques dos lançamentos musicais de artistas LGBTI+ em janeiro

Na primeira coluna de 2023 com os principais lançamentos LGBTQIA+ de artistas nacionais e internacionais em janeiro, o colunista Fabiano Moreira* comenta os novos discos de Sam Smith, RuPaul, Lúdica Música! e Gali Galó, os EPs de Palomaris, Mustta e Grag Queen, além dos novos singles de Utopixxxta, ​Leopold Nunan, Leo Cavalcanti e Ticia.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist logo aqui para ouvir também outros lançamentos que irão sair ao longo do ano:

Sam Smith, Calvin Harris e Jessie Reyez – “I’m Not Here To Make Friends”

Tem coisa mais bacana do que ver uma gay vivendo a viadagem em toda a sua plenitude? Ainda mais se ela lança um “clipe de um milhão de dólares” e chega em um vestido rosa três vezes mais volumoso que a própria figura, feito sob medida por Tomo Koizumi, de helicóptero dourado, com um sample de RuPaul pregando “se você não pode amar a si mesmo, como vai amar alguém mais?” e produção assinada por Calvin Harris? Além da excelência costumeira nos vocais, é isso o que Sam Smith está servindo em Gloria, uma auto-estima “delirante, provocante e gostosona” que usa calcinhas com a bunda de fora, ornamentos de mamilo e o que mais ele quiser. É uma pessoa queer que se ama mais, como declarou em “Love me more”, single que passou por aqui em maio. Esse é seu quarto álbum de estúdio, plene, plene, plene, e já passou por aqui também “Unhloy”, o feat com Kim Petras que parou a internet, em setembro.

Lúdica Música! – “Espelho do Coração”

Sou fascinado pelo grupo mineiro radicado em Maia (Portugal), Lúdica Música!, desde a adolescência, quando Rosana Britto (voz, violão, percussão), Isabella Ladeira (voz, percussão) se apresentavam com o mitológico Joãozinho da Percussão, que já gravou com Chico Buarque e fazia malabarismos com os instrumentos. Rosana e Isabella são casadas desde a criação do grupo, há 30 anos, e agora contam com a guitarra encantada de Gutti Mendes (voz, guitarra, percussão), rei dos timbres, pedais e efeitos. O trio acaba de lançar o seu oitavo álbum, Espelho do coração, lambendo as feridas causadas pela Covid e o isolamento social, e participar do The Voice Gerações Portugal, quando fizeram todas as cadeiras dos jurados virarem. Bati um papo com eles pra Sexta Sei aqui.

RuPaul – “Black Butta”

Parece que foi ontem que começou o nosso programa de TV favorito, RuPaul’s Drag Race, mas já se vão 15 anos que as gays têm que lip sync por suas vidas, e a gente acompanha, sempre como se fosse a primeira vez, risos. Gostoso demais. No lançamento da décima quinta temporada, RuPaul lançou também o álbum Black Butta, o 15º de uma carreira fundada no autotune. É o que eu sempre digo: enquanto houver RuPaul haverá esperança. Os dois singles principais são “Star Baby”, que escolhi pra playlist aqui da Híbrida, e “Show Me That You Festive”.​​

Gali Galó – “Gali Galó”

“Aceita”, da artista não-binárie Gali Galó, de Ribeirão Preto (SP), é uma das músicas mais bonitas e emocionantes do ano passado. Passo mal. Isso me fez colocar a expectativa lá no alto para o seu álbum de estreia, Gali Galó, que chegou nesse janeiro com a faixa, confirmando Gali como expoente do movimento pocnejo, fundado por seu parceiro e nomeado ao Grammy Latino Gabeu, que participa em “Na frente dos bois”. A sonoridade é sertaneja, brega, pop e, claro, com muito “litrão” pra acompanhar. É muito bacana ver lésbicas nos spots, e, no álbum, a produção é de Mônica Agena, que também cola velcro, e participa também a maravilhosa sapatão paraense Aíla, em “Fluxo”. Gali criou o Fivela Fest, o primeiro festival Queernejo do Brasil. Viva o poder das sapatão. Amo demais. 

Palomaris – “Um canto encanto”

Ouvi a voz da paulistana bissexual Palomaris pela primeira vez em novembro, no curta-metragem utópico e periférico Lua, mãe, cantando “Eu me permito”. O curta foi exibido no Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades (como é bom te amar). O filme é uma distopia sob a colonização da lua com contornos raciais, dirigido pela trans não-binária Água, que esteve na exibição, ganhou sticker da #sextasei e também lança faixa em março. Lembro que fiz Shazam, sem resultados, e gravei a tela de cinema só pra saber de quem era aquela bela voz. Pois encontrei a sereia Palomaris no Instagram e fiquei sabendo que ela acaba de lançar EP, Um canto encanto. “São quatro músicas autorais que expressam as diversas musicalidades que atravessam uma corpa negra diaspórica. Inspirada na intuição, na fruição de ideias afro cosmopolitas, numa busca de si, num descontentamento, numa ancestralidade atemporal, onde o presente, passado e futuro estão interligados e se comunicam entre si”, me conta, pelo chat do Instagram.

Grag Queen – “Gente Crazy”

Os poderosos vocais de Grag Queen estão em seu segundo EP, Gente crazy, que chegou acompanhado de clipe cheio de coreografias para a faixa-foco “Milkshake”. Talento nato, vencedora do concurso Queen of the Universe, da franquia RuPaul, a artista tem experimentado várias fórmulas para emplacar, do funk ao romântico, do pop indiano ao baladão. Não entendo como o branding dela é tão parecido com o da Gloria Groove, visto que estão no mesmo escritório. O EP é bem feito e animado, mas fica um gosto de mais do mesmo. Bati um papo com ela, bem antes do EP, aqui. Admiro demais.

Mustta – “M1”

Mustta chamou a atenção na cena queer por circular, por aí, de barba e maiô. Foi em torno dessa persona que o cantor gay maranhense radicado em São Paulo criou toda a narrativa que finalmente apresenta ao público no seu EP de estreia, o bom M1, com produção esperta de Du Brown, da agência e produtora Duto, de Dughettu. O volume mostra uma azeitada mistura de pop, reggae, batidão e reggaeton, com participações de Tati Quebra-Barraco em “Se não deu tu vai dar” e Dughettu e King na boa “Faremos todos”, track que mandei pra playlist. Quer puta pior? / Sou piranha”, avisa, em “Piranha”. O primeiro single lançado, “La puta triste”, uma espécie de “loura do banheiro”, ganhou videoclipe em animação 3D, com Mustta em calcinha string. Antes do EP, ele já tinha lançado “Liga Pra Mim”, versão em português do hit “Hotline Bling”, de Drake, e “Maiôzinho”, além de ser um dos criadores do bloco de carnaval carioca Sereias da Guanabara. Ferve demais o meu amigo.

Leopold Nunan, Sonia Santos e Ana Gazzola – “Quem é teu baby?”

Extremamente alto-astral e cheio de amor pra dar o clipe do coco “Quem é teu baby?”, que o carioca radicado em Los Angeles Leopold Nunan acaba de lançar, em parceria com a lendária cantora brasileira Sonia Santos, sucesso da Som Livre, das trilhas das telenovelas da Rede Globo e do Fantástico, nos anos 1970, com sua companheira e também cantora Ana Gazzola. O single, composição de Beto Brown, é o primeiro do álbum Leo from Rio, que ele lança esse ano cantando em português. O álbum é uma homenagem ao pai de Leopold, o médico cirurgião e professor Virmar Ribeiro Soares, piauiense morto há sete anos que deixou, no testamento, mais de 300 raros discos de MPB, entre eles, o álbum Crioula (1976), de Sonia Santos, que Leopold encontrou em Los Angeles. Como sempre, a moda é protagonista do clipe, com looks (muitos) pra lá de absurdos. Leopold, que é portador da rara síndrome Charcot-Marie-Tooth (CMT), grupo hereditário de doenças do nervo periférico que afeta movimentos e sensações nos braços e nas pernas, levanta a bandeira contra o capacitismo com uma escalação de elenco pautada na diversidade, com Pessoa Com Deficiência (PCD), indígena da tribo Isleta Pueblo, do Novo México, com vestes da tribo brasileira Kamajura, gays, lésbicas, pessoas trans, pessoas de cor (Person Of Color/POC) e amantes de animais e plantas.

UTOPIXXXTA – Secos e Molhados (Wealstarks Remix)

Adoro conhecer novos artistas. O trio mineiro Utopixxxta acaba de lançar remix para Secos e Molhados”, com versos que abordam os jogos de sedução da noite. Essa é a segunda faixa lançada, depois da estreia com “Troca de Carícias”. O grupo independente e queer foi criado por Fernanda Polse (Beloryhills), Kleyson (São Paulo) e Rodrigo Moreira (Nova York) para unir poesia, música, suingue e diversão. No clipe lançado para o remix do francês Wealstarcks para “Secos e Molhados”, o artista  LGBTQIA+ Will Soares é um causamento na gravação feita em motel do centro da capital, com uma mistura de dança contemporânea, vogue e pole dance, uma celebração da identidade queer. Wow. “Troca de Carícias” mistura beats orgânicos a batidas eletrônicas, com sintetizadores nostálgicos, tudo produção da craque Vivian Kuczynski que, volta e meia, passa por aqui. As faixas fazem parte do EP de estreia do trio, com cinco tracks dançantes, que está vindo aí. 

Tícia – “Fogo”

“Ela é fogo, o próprio fogo, cê não vai conseguir apagar”, avisa a letra do sensual funk ijexado “Fogo”, o segundo single da artista jovem, preta, baiana, periférica e bissexual Tícia, do selo Batekoo Records. No clipe, estão a força, a potência e o axé da pombagira. No ano passado, ela divulgou outro single do trabalho, “Salcity”, que aborda as diferentes dinâmicas e contradições da capital baiana. Ela está preparando o seu primeiro EP, Sagrada e Profana, para o 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá, e estamos esperando o barril dobrado ;). Os clipes, baianos até a medula, são dirigidos por Rafael Ramos.

Leo Cavalcanti“Noite quente”

O cantor e compositor paulistano gay Leo Cavalcanti mora no vapor de Salvador há cinco anos, onde dança a beleza até o chão nas noites quentes do Pelô nos shows do ÀTTØØXXÁ, minha banda favorita no mundo. Gostoso demais, hein? Deu vontade sim, é “cada noite um amor”, do jeito que eu gosto. Esse é o primeiro single do álbum de inéditas que ele está preparando, o Canções em Chamas, que defende o prazer como manifestação política. “É uma defesa da liberdade, do afeto livre, do encantamento, do estado de descoberta. E eu quis falar que o fervo é uma luta, o prazer é uma forma política de se colocar no mundo, de exercer a nossa potência e de manifestar quem a gente é da melhor forma”, conta. Aqui já acendeu, pode vir que é sinal verde e já engajei demais. Ansioso.


*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O GloboTribuna de MinasMix BrasilRG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.

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