A safra recente e crescente de artistas que assumem abertamente sua sexualidade e a expressam através da música tem ajudado a diversificar ainda mais as narrativas LGBT+, um fenômeno que se fez presente em vários gêneros ao longo de 2017. Lésbicas munidas de batidas eletrônicas e futuristas, transexuais apoiadxs pela força do rap e bichas abrindo seus coração ou balangando suas rabas: basta ter acesso à internet para poder mergulhar em toda essa pluralidade de ritmos e histórias. Mas pra adiantar o seu lado, juntamos os melhores e mais incríveis lançamentos desse ano e ainda dizemos por quê você precisa ouvi-los. Solta o play:
Linn da Quebrada – “Bomba Pra Caralho”
O primeiro gostinho de “Pajubá”, LP de estreia da Linn, traz tudo aquilo que quem conhece a artista esperaria dela: letras irreverentes, trocadilhos inteligentes e críticas sociais (à violência policial, ao preconceito periférico, à transfobia e a muito mais), tudo isso envolto em uma produção sombria, agressiva e irresistível.
Johnny Hooker, “Flutua” (part. Liniker)
Sucesso instantâneo desde que foi anunciada pela primeira vez, a música traz dois dos melhores e mais potentes vocalistas dessa geração berrando juntos: “Ninguém vai poder querer nos dizer como amar”. A mensagem do blues soa como um raio de esperança em tempos sombrios e, para aumentar ainda mais sua clareza, nada melhor do que a projeção de “Amar Sem Temer” no palco do Rock In Rio.
As Bahias e a Cozinha Mineira – “Bixa”
O segundo disco do grupo paulista chega metendo o pé na porta e a agulha do gramofone direto na era disco. Divertido, pop, extremamente dançante, envolvente e sensual, o álbum traz Assucena Assucena e Raquel Virgínia naquele casamento vocal magnifíco, coroado com as melhores influências da MPB. Se “Mix”, “Dama da Night” e “Um doido caso” são capazes de animar qualquer pista de dança, outras como “Tendão de Aquiles”, “Drama” e “Universo” convidam o ouvinte a sentar e escutar as letras com mais atenção.
Pabllo Vittar & Anitta – “Sua Cara”
Desde que apareceu na tracklist de “Know No Better”, a tão aguardada parceria entre Pabllo e Anira já atingiu o topo dos assuntos comentados no Brasil e gerou expectativa. Mesmo que tivesse se apoiado apenas na produção afiada e inconfundível do Major Lazer, “Sua Cara” já seria sucesso pelo país afora, assim como suas cantoras. Então veio a música e, logo em seguida, um vídeo megaproduzido, rodado no deserto do Saara, com as divas entregando performances dignas de qualquer popstar internacional (inclusive, melhores que muitas). A apresentação de Pabllo com Fergie, no Palco Mundo do Rock In Rio, foi um ápice merecido para todos os órfãos do pop queer de Lady Gaga (mesmo que um dia depois). E foi também um triunfo pessoal para Anitta que, mesmo não sendo oficialmente convidada para o festival, ainda se fez presente de forma inegável.
Daniela Mercury – “Tri Eletro”
Estamos há mais de quatro meses do carnaval, mas se tem alguém que consegue trazer a folia para outubro é Daniela. No ET (como ela chama carinhosamente o EP) “Tri Eletro”, a baiana apresenta três músicas novas, pulando no fervo do axé, do carimbó, do samba e das guitarradas, através de colaborações assinadas por Dona Onete, Lucas Santtana e Marcio Victor (Psirico).
Rico Dalasam – “Fogo em Mim”
Ponto alto do EP “Balanga Raba”, a parceria com Mahal Pita (BaianaSystem) reúnes as maiores qualidades do trabalho de Rico até o momento: sua capacidade de compor versos facilmente repetíveis pelo público e a entrega enérgica nos vocais, o que também se repete com maestria no vídeo.
Silva – “Beija eu”
Destaque merecido do excelente “Silva Canta Marisa” (diga-se de passagem, o concorrente mais forte a Melhor Álbum de MPB no Grammy Latino), a música ganhou um tratamento visual à altura. Dirigido por Jorge Bispo, esse hino à liberdade do amor mostrou com poesia aquilo que a doçura na voz do cantor já transmitia: se organizar direitinho, todo mundo beija.
GA31 – “Fode”
Depois de mostrar “a força da mulher sapatona” e as “lésbicas futuristas”, a produtora eletrônica lançou outra faixa construída com samples improváveis, vozes robóticas e uma batida irresistível. O resultado continua caminhando na linha entre o humor e a liberação, ora lá ora cá, mas sempre irreverente.
Mahmundi – “Imagem”
Seguindo o sucesso do seu excelente disco autointitulado, a cantora carioca dá mais uma vez o seu toque pessoal às influências oitentistas. Como uma versão mais intensa, dançante e atual de “Fullgás”, “Imagem” também traz uma paixão ardente e entregue, que acaba arrastando o ouvinte consigo.
Lia Clark – “Boquetaxi”
Com mais um batidão incendiário, Lia traz outro hit para os amantes do funk, com aqueles versos safados e divertidos que já se tornaram sua assinatura registrada. O vídeo é uma obra à parte, com figurinos icônicos, carão e todo aquele estilo kitsch-glamour que a gente sempre ama.
https://www.youtube.com/watch?v=wRu6ALNaeTg
Tyler, The Creator, “Flower Boy”
Mesmo que tenha brincado inúmeras vezes e soltado pistas sobre sua sexualidade, Tyler só a abordou de forma direta e sincera nesse LP, onde ele espalha metáforas sobre estar “escondido” em um jardim (“Garden Shed”), admite beijar rapazes brancos desde 2004 (“I Ain’ Got Time”) e confessa estar procurando boys que pareçam com um jovem Leonardo DiCaprio (“Who Dat Boy?”). Bem-vindo ao vale, Tyler!
SZA –“CTRL”
Não é à toa que SZA fez parte do seleto grupo de pessoas com assinaturas no “ANTi”. Em seu primeiro disco apoiado por uma gravadora de peso, a cantora mostra que não tem medo de ser uma “bad gal” quando preciso (como em “Love Galore”, na qual ela canta sobre dispensar boys e bitches), mas também admite uma fragilidade complexa e carente em momentos como “Pretty Little Birds” e “20 Something”.
Frank Ocean – “Chanel”
Cada vez mais aberto sobre sua bissexualidade, Frank canta exatamente sobre amar “um garoto lindo que nem uma garota” e “ver os dois lados, como [a logo da] Chanel”, ao mesmo tempo que a produção transita pelas suas várias facetas, do rap ao R&B.
Perfume Genius – “Die 4 You”
A androginia de Mike Andreas anda mais forte do que nunca, transparecendo de forma aguçada nas mudanças do seu timbre de voz e apoiada por estéticas sonoras e visuais de tirar o fôlego. A languidez etérea desse single específico de “No Shape” serve como uma boa síntese da proposta que o Perfume Genius vem passando ao longo do tempo, entregue da forma mais delicada e vulnerável possível.
Halsey – “Strangers” (part. Lauren Jauregui)
Cantada por uma dupla de artistas publicamente bissexuais e de grande impacto no público mais adolescente, a música é uma reinterpretação de um encontro romântico à la “Romeu e Julieta”, mas protagonizado por duas meninas. Com uma narrativa sensual e nada sutil, a canção merece destaque também pela importância que Halsey deu ao uso do pronome feminino na composição.
Sam Smith – “Too Good At Goodbyes”
O retorno de Sam Smith trouxe mais do mesmo que ele já havia apresentado antes e, ao contrário do que aconteceu com Adele, parece não ter colado muito. Ainda assim, é um single válido para quem está na fossa, com aqueles vocais impressionantes do britânico e a produção majestosa para completar o drama. Com sorte, o LP terá opções mais variadas e felizes (até porque a solteirice parece estar favorecendo o moço).
George Michael & Nile Rodgers – “Fantasy”
Apesar de não ter feito muito barulho, qualquer lançamento de George Michael deve ser celebrado pela comunidade LGBT+ (mesmo que póstumo). O dedinho de Nile Rodgers na produção então faz com que “Fantasy” traga aquele pop britânico, animado e dançante que George fazia tão bem e que deixa tanta saudade.
Katy Perry – “Swish Swish”
Mesmo com as acusações debatíveis de que Katy tem se apropriado da cultura queer pelo mero objetivo de lucrar, a energia dessa parceria com Nicki Minaj e a forma que ela funciona em uma pista de dança são inegáveis. Da participação de Gretchen naquele icônico lyric video, à performance com as drag queens e com o menino da mochila no SNL, e ao uso de gírias gays com um clipe no mínimo divertido fizeram com que o single inevitavelmente fosse abraçado pelo público.
Jay-Z – “Smile”
Sim, Jay-Z não é exatamente o artista mais provável e adequado para uma lista de músicas LGBT+, mas se tem algo que chocou o público em “4:44” quase tanto quanto ele admitir que a tal Becky do cabelo bom realmente existe, foi a homenagem feita para sua mãe nessa faixa. Nela, o rapper descreve como “viver escondida nas sombras” prejudicou a saúde mental de Gloria Carter e como ele chorou lágrimas de alegria ao vê-la apaixonada, independente de ser por um “ele” ou por uma “ela”. É bonito, é sincero e raps que abordem esse tema são sempre bem-vindos.
Selena Gomez – “Bad Liar”
O comeback de Selena tinha tudo para ser apenas mais uma música pop divertida e bem produzida, não fosse o sample do clássico “Psycho Killer” (Talkin’ Heads) e um videoclipe no qual a estrela interpreta uma adolescente com uma tipica girl crush jovial em sua professora de educação física.
