O primeiro turno das eleições 2022 terminou no último domingo (2), com uma maioria conservadora eleita para o Legislativo, principalmente no Senado. Ainda assim, o pleito rendeu um feito histórico para a comunidade LGBTI+, que pela primeira vez na história terá duas deputadas federais travestis e transexuais: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
Enquanto Erika foi a 9ª candidata mais votada de São Paulo, Duda foi a 3ª em Minas Gerais e teve a candidatura feminina mais votada no Estado. Ainda assim, o trabalho de ambas na Câmara dos Deputados será de desafios ao longo dos próximos quatro anos, especialmente na proposição e aprovação de projetos LGBTI+.
Das mais de 300 candidaturas LGBTI+ mapeadas, apenas 13 conseguiram se eleger. Ao todo, 17 Estados não emplacaram nenhum representante da comunidade. São eles:
- Alagoas (AL)
- Amazonas (AM)
- Amapá (AP)
- Ceará (CE)
- Espírito Santo (ES)
- Goiás (GO)
- Maranhão (MA)
- Mato Grosso do Sul (MS)
- Mato Grosso (MT)
- Pará (PA)
- Paraíba (PB)
- Piauí (PI)
- Paraná (PR)
- Rondônia (RO)
- Roraima (RR)
- Santa Catarina (SC)
- Tocantins (TO)
Abaixo, confira todas as candidaturas LGBTI+ eleitas em 2022:
São Paulo (SP)
Érika Hilton (PSOL) foi a única pessoa LGBTI+ eleita como deputada federal pelos eleitores de São Paulo, em 9º lugar no ranking geral e 3ª entre as mulheres. As eleições deste ano confirmam a popularidade da parlamentar no Estado, onde começou sua trajetória política em 2018 como parte do mandato coletivo da Bancada Ativista e se tornou a primeira deputada estadual trans, posto dividido com Erica Malunguinho à época.
No pleito seguinte, Erika tornou-se a vereadora mais votada da capital e encabeçou o ineditismo de pessoas trans no cargo. Ao todo, ela teve 256.903 votos nas eleições 2022 e se tornou também a primeira travesti eleita para a Câmara dos Deputados de São Paulo.
Já na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a Bancada Feminista (PSOL) foi a 3ª candidatura mais votada, com 259.771 votos. A coletiva também ampliou seu alcance e foi da Câmara Municipal, onde conquistou a vaga em 2020, levando consigo Carolina Iara, mulher trans e não-binárie, como co-deputada. O Movimento Pretas (PSOL) também se elegeu este ano em 41º lugar, com 106.781 votos.
Guilherme Cortez (PSOL) foi eleito como deputado estadual para a 94ª e última vaga da Alesp. Bissexual de Franca, no interior do Estado, ele conseguiu 45.094 votos nas eleições 2022.
Beth Sahão (PT), primeira mulher da história do noroeste paulista a ocupar uma cadeira na Alesp e lésbica, também foi eleita pela 5ª vez como deputada estadual, com 65.406 votos.
Ainda na Alesp, duas mulheres negras e com longo histórico de apoio e defesa da comunidade LGBIT+ também se elegeram. Leci Brandão (PCdoB), sambista da Mangueira e uma das primeiras cantoras brasileiras a se declarar lésbica, conseguiu 90.496 votos e se elegeu para o seu quarto mandato como deputada estadual.
Já Thainara Faria (PT), que se declara como bissexual, deixará o seu segundo mandato como vereadora em Araraquara para assumir uma cadeira na Alesp. Ao todo, ela teve 91.338 votos e ficou em 50º lugar no ranking geral de São Paulo.
Minas Gerais (MG)
Em Minas Gerais, Duda Salabert (PDT) repetiu a popularidade observada quando se elegeu a vereadora mais votada de Belo Horizonte em 2020 e agora conseguiu uma vaga de deputada federal pelo Estado. Ela foi a mais votada entre as mulheres, em 3º lugar do ranking geral, com 208.332 votos. Ela é a primeira mulher transexual eleita para a Câmara dos Deputados pelo Estado.
Dandara Tonantzin (PT), que se declara bissexual, também foi eleita deputada federal com 86.034 votos. “Nada para a classe trabalhadora vem de graça, tudo o que conquistamos até aqui é luta! Nós faremos um mandato trincheira de luta dos movimentos sociais!”, comemorou em suas redes.
Para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a cientista política, vereadora da capital mineira e lésbica Bella Gonçalves (PSOL) se elegeu em 67º lugar, com 43.768 votos.
Rio de Janeiro (RJ)
Primeira professora transexual na história da UFRJ, Dani Balbi (PCdoB) se elegeu em 20º lugar para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, com 65.815 votos. Verônica Lima (PT), mulher negra e lésbica que antes atuava como vereadora de Niterói, também conseguiu emplacar sua candidatura, que foi a 29ª mais votada no Estado, com 55.738 votos.
Rio Grande do Sul (RS)
Daiana Santos (PCdoB), mulher negra e “sapatão de luta”, foi a 22ª candidatura mais votada como deputada federal do Rio Grande do Sul e se elegeu com 88.107 votos.
Distrito Federal (DF)
Fábio Félix (PSOL), que já atuava como deputado distrital desde 2018, conseguiu se reeleger como o candidato mais votado do DF nas eleições 2022, acumulando 51.792 votos. O feito não é pouco e representa cerca de cinco vezes o que ele recebeu em seu primeiro mandato, transformando-o no candidato mais votado na história da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Acre (AC)
Michelle Melo (PDT) foi a 16ª candidatura mais votada como deputada estadual no Acre e se elegeu com 5.990 votos. Médica, professora e vereadora de Rio Branco que se identifica como bissexual, ela era a única candidatura LGBTI+ que disputava uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado.
Sergipe (SE)
Linda Brasil (PSOL), eleita vereadora de Aracajú em 2020, conseguiu eleger-se agora como a 7ª deputada estadual mais votada de Sergipe, a primeira mulher trans a ocupar o cargo no Estado. Mestra em Educação, a ativista trans reuniu 28.704 votos na disputa deste ano, o terceiro melhor resultado entre as candidaturas femininas.
Pernambuco (PE)
Para a Assembleia Legislativa de Pernambuco, Rosa Amorim (PT), militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, lésbica e negra, conseguiu se eleger com 42.632 votos, em 42º lugar.
Rio Grande do Norte (RN)
O Rio Grande do Norte traz o caso emblemático da governadora Fátima Bezerra (PT), reeleita com 58,31% dos votos. Apesar de o Estado não ter emplacado nenhuma candidatura LGBTI+ no Legislativo, Fátima é a primeira governadora lésbica do País e declarou no ano passado que na sua vida pública ou privada “nunca existiram armários”.
Na minha vida pública ou privada nunca existiram armários. Sempre demarquei minhas posições através da minha atuação política, sem jamais me omitir na luta contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia e qualquer outro tipo de opressão e de violência.
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— Fátima Bezerra (@fatimabezerra) July 2, 2021
Bahia (BA)
A médica Fabíola Mansur (PSB), que se declara como lésbica, foi a única parlamentar eleita para a Assembleia Legislativa da Bahia, em 43º lugar, com 58.064 votos. A oftalmologista tem um longo histórico de defesa da comunidade LGBTI+ baiana e soteropolitana, desde que foi eleita vereadora em 2012.