A drag queen Shangela, conhecida por ter integrado o elenco de RuPaul’s Drag Race (2ª e 3ª temporada regular dos EUA/All Stars 3), foi acusada de abuso sexual por pelo menos cinco pessoas. A informação foi publicada pela revista Rolling Stone na última semana após uma série de pesquisas, realizadas ao longo de 16 meses por autos processuais e entrevistas com as supostas vítimas.
A investigação contra Darius Jeremy Pierce (o homem por trás da drag) começou em 2022 e se acentuou em maio de 2023, quando Daniel McGarrigle, produtor assistente da série da HBO We’re Here – apresentada por Shangela ao lado de outras ex-participantes de RPDR -, acusou Pierce de drogá-lo e estuprá-lo em uma festa de encerramento do reality, ainda em 2020.
“Não consigo explicar como estou magoado e enojado com essas alegações totalmente falsas. Este novo processo nada mais é do que uma tentativa de abalar tanto a mim quanto a uma conceituada empresa de televisão”, disse Shangela à época da acusação. Em fevereiro deste ano, o caso foi resolvido através de uma mediação judicial.
Entretanto, as novas acusações publicadas pela revista têm relatos semelhantes ao caso de McGarrigle: os homens, que se identificam como queer, tinham de 18 a 23 anos quando supostamente foram embebedados por Pierce antes da tentativa de abuso sexual.
“Me lembro claramente de uma sequência de eventos, que era eu deitado na cama. E então me sentindo mal, em todos os lugares. [Me lembro de] sentir, ver, cheirar aquilo. Eu me lembro visceralmente disso. E então, enquanto tudo acontecia, uma tentativa de penetração. Eu estava tão ruim que vomitava na cama. Não é como se eu estivesse no controle de qualquer coisa que estava acontecendo”, disse Zein Checri, uma das supostas vítimas, à Rolling Stone.
De acordo com Andrew Brettler, advogado de Pierce, as denúncias são “falsas e sem embasamento de qualquer evidência ou testemunha confiável”. Ele também afirma a existência de “diversos problemas com os relatos dos acusadores” e alega que seu cliente jamais engajou em tentativas de sexo não-consensual.
Além de Shangela
Esta não é a primeira vez que uma RuGirl foi envolvida num escandâlo deste tipo. Talvez o caso mais emblemático tenha ocorrido em 2020, quando a participante Sherry Pie (Joey Gugliemelli), então integrante da 12ª temporada regular dos EUA, foi acusada de ser predadora sexual por pelo menos cinco homens.
Após a divulgação dos casos, o artista foi imediatamente desclassificado do reality, que já havia sido gravado. A produção, para evitar o retrabalho, tentou apagar o máximo possível da presença de Sherry Pie na gravação.
“Em respeito ao trabalho duro das outras drag queens, a VH1 irá transmitir a temporada como planejado. Sherry não aparecerá na grande final, programada para ser gravada nos próximos meses”, disse uma nota publicada do canal responsável pela transmissão de RPDR à época.
Sharon Needles, vencedora da 4ª temporada e uma das participantes mais emblemáticas da história de Drag Race, também foi acusada de abusar física e psicologicamente de um fã quando este ainda era adolescente.
Casos como esses servem de pólvora para o atual momento de perseguição aos direitos da comunidade LGBTQIA+ nos Estados Unidos. Além do risco do retorno de Donald Trump à Casa Branca, o país já vem enfrentando uma série de ações conservadoras, como a proibição de mulheres e meninas trans em esportes femininos, caçadas contra shows de drag queens em locais públicos, redução de assistência médica a crianças trans e adolescentes trans, dentre outros.
A onda reacionária, inclusive, foi um dos motivos que impediu as supostas vítimas de Shangela de virem à público anteriormente. Elas revelaram temer que as denúncias pudessem ajudar a fortalecer o discurso e os projetos de leis anti-drag no país. Ainda assim, esperam que Pierce seja responsabilizado por seus atos.
“[Pierce é] um grande porta-voz de uma comunidade em que ele machucou um bocado de gente. Eu espero que as pessoas levem isso a sério. É um grande alívio que, finalmente, esta discussão está começando a acontecer”, disse Checri.