Pelo 14º ano consecutivo, o Brasil é líder mundial de assassinatos trans no mundo, de acordo com o ranking anual da Transgender Europe (TGEU). O País corresponde a 29% de todos as mortes violentas sofridas por travestis e transexuais. Dos 327 casos registrados pela organização, 96 foram aqui.
Os dados foram coletados entre 1º de outubro do ano passado e 30 de setembro deste ano. Segundo a TGEU, a média de idade das vítimas está entre os 31 e os 40 anos. O Brasil, entretanto, registrou quatro das cinco mortes cometidas contras adolescentes de 15 a 18 anos – a outra foi nos Estados Unidos, que ocupa o terceiro lugar do ranking com 51 assassinatos. O México continua na vice-liderança, com 56 registros.
Pela primeira vez, a TGEU registrou assassinatos na Estônia e na Suíça. Segundo a organização, ambos os casos referem-se a mulheres imigrantes e negras, esfaqueadas em suas próprias residências – a brasileira Cristina Blackstar e a jamaicana Sabrina Houston.
Vítimas do gênero feminino correspondem a 95% de todas as mortes listadas no último ano. Dentre aquelas cuja profissão era conhecida, metade trabalhavam como profissionais do sexo.
“Esses números são apenas um pequeno vislumbre da realidade. A maioria dos dados vieram de países com uma rede forte de organizações trans e LGBTIQ que conduzem o monitoramento. A maioria dos casos continua não sendo notificada e, quando o são, recebem muito pouca atenção”, frisa a TGEU no relatório.
No Brasil, o trabalho de monitoramento é feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Apesar de manter-se na liderança, o país registrou menos assassinatos motivados por transfobia do que no ano anterior, quando o total de casos chegou a 125 e correspondia a 33% de todas as 375 vítimas no mundo.
A maioria dos assassinatos foram cometidos por tiros, esfaqueamento, espancamento, estrangulamento, atropelamento ou tortura. Os locais mais frequentes dessas ocorrências foram as ruas e a própria residência das vítimas.
“Os dados continuam a indicar uma tendência global preocupante quanto se trata das intersecções entre misoginia, racismo, xenofobia e ‘whorephobia’ [peconceito contra profissionais do sexo], com a maioria das vítimas sendo mulheres trans pretas e imigrantes, e trans profissionais do sexo”, observa a TGEU.
Ainda segundo a organização, “o alto número de assassinatos relatados na América Latina e no Caribe podem ser consideravelmente atribuídos à existência de sistemas de monitoramento bem estabelecidos”. A TGEU aponta também que os dados nessa região, que concentra 69% de todas as ocorrências, devem ser considerados “no contexto social, político, econômico e histórico específicos em que ocorrem”.
Realizado pela equipe do Transrespect versus Transphobia Worldwide (TvT), o “Observatório de Pessoas Trans Assassinadas Globalmente” é um boletim da TGEU publicado anualmente próximo ao 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia Internacional da Memória Trans. Desde que o relatório foi criado, em 2008, o Brasil assume com folga a liderança entre os países nos quais a transfobia faz o maior número de vítimas.
Ainda segundo os dados da TGEU, o Brasil já teve 1741 assassinatos de travestis e transexuais desde que o levantamento foi iniciado. Apesar de o País ter uma forte rede de coleta e divulgação dessas informações pela Antra, a própria organização reforça que esse total pode estar subnotificado, uma vez que não há uma estrutura oficial de coleta e monitoramento dos casos pelo governo federal.