O Brasil se manteve pelo 13º ano consecutivo como o País que mais mata travestis e transexuais, de acordo com o novo levantamento da Transgender Europe (TGEU) divulgado nesta quinta-feira (11). Entre setembro de 2020 e outubro deste ano, foram 125 assassinatos entre a população transgênero, o que corresponde a 33% do total contabilizado em todo o mundo.

Realizado pela equipe do Transrespect versus Transphobia Worldwide (TvT), o Observatório de Pessoas Trans Assassinadas Globalmenteé um boletim da TGEU publicado anualmente próximo ao 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia Internacional da Memória Trans. Desde que o relatório foi criado, em 2008, o Brasil assume com folga a liderança entre os países nos quais a transfobia faz o maior número de vítimas.

O Brasil também é responsável por quase metade do total de mortes na América do Sul e Central, região que sozinha concentra 70% dos casos registrados no período. A média mundial de idade das vítimas foi de 30 anos, mas o País também se destaca ao ter a mais jovem dentre elas: Keron Ravach, a adolescente de 13 anos assassinada em janeiro, no interior do Ceará.

“Nós já esperávamos que o Brasil continuasse à frente deste ranking, sobretudo pela falta de ações, campanhas, discussões e investimentos para enfrentar uma violência específica contra a nossa população”, comenta Bruna Benevides, diretora da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), entidade responsável por coletar os dados nacionais.

Ela observa ainda que este é o quinto ano de monitoramento dos dados nacionais pela Antra e as perspectivas para o relatório geral a ser liberado em dezembro não são das melhores. “Já observamos que seguiremos acima da média de todos os anos na violência contra a população trans quando fecharmos o ano de 2021”, afirma.

“Infelizmente, o Estado tem falhado miseravelmente na proteção da nossa população e, de certa forma, a falta de dados governamentais e das políticas públicas colocam essas pessoas em uma posição de maior suscetibilidade a serem vítimas de violências, visto que não nos são garantidos os direitos à vida, à proteção e a uma existência plena e digna.”

Escalada mundial

Ao todo, a TGEU já contabilizou 1.645 travestis e transexuais assassinadas no Brasil desde que começou a reunir esses dados, em 2008. A cada dez mortes de pessoas trans registradas no mundo ao longo desses 13 anos, quatro foram aqui.

Os 375 assassinatos de travestis e transexuais registrados no boletim deste ano representam um aumento de 7% no total mundial em comparação com período anterior. Nesse ranking, o Brasil divide o pódium com México e Estados Unidos, que dobrou de casos desde o último levantamento, muitos deles impulsionados ainda durante o governo de Donald Trump.

O levantamento da TGEU ainda aponta que a grande maioria das pessoas trans assassinadas no mundo eram mulheres (96%) e profissionais do sexo (24%). Já as principais formas foram por arma de fogo (38%) e esfaqueamento (20,3%). Em relação ao local dos crimes, os mais recorrentes são a rua (31,2%), seguida pela própria casa da vítima (16,9%).