O Twitter foi palco pra mais uma demonstração de ineficiência política da direita e da esquerda na tarde desta quinta (11), quando um bate-boca entre Fernando Haddad (PT) e Carlos Bolsonaro (PSC) foi de Bolsa Família à suposta sexualidade de Carlos em menos de 140 caracteres.
A discussão começou após Haddad ter desenterrado um tweet de 2010 de Jair Bolsonaro, no qual ele criticava o Bolsa Família (o qual chamou de ‘bolsa-farinha’). “Será que 1/12 do bolsa-farelo (13ª parcela) vai reverter sua situação no Nordeste? Lembrando que você não reajustou o benefício nem pela inflação e seu governo ofende os nordestinos a todo instante?”, atacou o petista, fazendo referência à nova medida assinada pelo presidente.
A partir daí, Carlos entrou na conversa xingando Haddad de “marmita” e recebeu de troco do ex-prefeito de São Paulo a pergunta: “Priminho tá bem?“. O comentário alude aos boatos que surgiram ainda no ano passado de que o vereador carioca teria um caso com seu primo Leonardo Rodrigues de Jesus (Leo Índio), porque os dois supostamente moravam juntos.
Para além do paradoxo que seria um membro do clã Bolsonaro ser gay e enrustido, fica o questionamento: em que muda a vida do cidadão brasileiro se Carlos realmente tiver um caso com seu primo? E mais, por que Haddad acha prudente fazer um comentário da vida particular de alguém em uma discussão pública, entre duas pessoas públicas, que começaram tudo por políticas públicas?
E aí entra a realidade de até onde o discurso homofóbico consegue ir para alegar que ser gay ou LGBT, em qualquer contexto, é motivo de vergonha, de escárnio, de constrangimento e humilhação. Qual é o objetivo de Haddad em levantar de novo essa questão sobre Carlos e seu primo? É enfurecer o seu oponente? É mostrar que ele tem ‘teto de vidro’ e deve ficar quieto pra não ser ‘exposto’?
Antes que os leitores da Híbrida se confundam achando que esse é um texto de defesa do Carlos Bolsonaro como pessoa, já aviso que não é. Ele, assim como grande parte de sua família, é incompetente e ineficiente na vida pública, já demonstrou inúmeras posições conservadoras e homofóbicas e, como vereador, está passível de críticas sim. Mas não por dormir ou não dormir com seu primo.
Não faz muito tempo, o Twitter regojizou um vídeo vazado, onde um grupo de ‘bolsominions’ apareciam em uma orgia num quarto de motel em Rondonópolis (MT). Rapidamente, descobriram os perfis de todos os envolvidos, expuseram os garotos e compartilharam exaustivamente um material que não pode ser classificado como nada além ou aquém de ‘revenge porn’.
Alguns podem até argumentar que os rapazes de Rondonópolis ‘merecem’ ter sua privacidade exposta e escrachada dessa forma, já que espalhavam discurso de ódio na internet. Ou que Carlos Bolsonaro merece ser constrangido por supostamente ser gay e enrustido, já que ele mesmo é homofóbico. Mas a forma debochada como as duas histórias são tratadas pela internet e, pior, por Haddad, político que se coloca em defesa das minorias, expõe o machismo estrutural dos brasileiros.
Não é preciso ser um gênio para imaginar que, se a fala do ‘priminho’ tivesse vindo de um Bolsonaro contra alguém como Jean Wyllys, estaríamos denunciando e condenando a falta de relevância do tópico para qualquer melhoria da vida pública. Especialmente em um país que passa por tamanho caos administrativo, econômico e social como o Brasil; um país recordista em violências contra LGBTs, diga-se de passagem.
Essa não é a hora de políticos da oposição descerem ao nível de quem construiu uma carreira toda baseada na disseminação do discurso de ódio conta minorias. Muito menos de reforçar a ideia de que orientações não-heteronormativas são prejudiciais, em qualquer instância, em qualquer pessoa.