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Os melhores filmes LGBT+ no Festival do Rio

Com mais de 250 filmes espalhados por 20 salas de exibição na Cidade Maravilhosa, a 19ª edição do Festival do Rio chega em um momento crítico para as artes no Brasil, e em especial no Rio de Janeiro. Realizado pela primeira vez sem o apoio da Prefeitura (que já vem cortando verbas do carnaval, da Parada do Orgulho LGBT+, do Premio da Música Brasileira e por aí vai), o evento conseguiu o feito de reunir produções de 60 países, distribuídas entre 15 mostras.

Apesar de o número de títulos ser reduzido se comparado ao de anos anteriores, não se espante: a safra de 2017 traz verdadeiras relíquias da sétima arte, com filmes já aclamados em outros festivais mundo afora e aquelas produções independentes que também merecem seu destaque. Pensando nisso, reunimos na lista abaixo um roteiro dos melhores filmes, longas ou curtas, que abordam o publico LGBT+ e suas temáticas, sejam nacionais ou internacionais. Vem com a gente!

(Para consultar trailers e horários, clique no título do filme)

They”

Depois do sucesso em Cannes, o filme chega ao Festival do Rio como uma das grandes apostas na temática LGBT+. Dirigido por Anahita Ghazvinizadeh, o longa narra a complexa transição de gênero vivida por J (Rhys Fehrenbacher), um garoto de 14 anos do subúrbio de Chicago. A história foca no momento crucial em que o adolescente precisa decidir se seguirá em frente ou não com a sua escolha, após dois anos de medicações e terapias.

“They” mostra de forma sensível as batalhas de um adolescente durante sua transição de gênero

“Entre Irmãs”

O drama dirigido por Breno Silveira e baseado no livro “A Costureira e o Cangaceiro”, de Frances de Pontes Peeble, conta a história de duas irmãs nordestinas na década de 1930 e suas respectivas lutas contra o machismo e as amarras sociais da época. Após o falecimento dos pais, as meninas vão morar com a tia costureira até que o destino as separa: Luzia (Nanda Costa), deficiente física, se junta a um grupo de cangaceiros, enquanto Emília (Marjorie Estiano) vê em um casamento arranjado a chance de melhorar sua vida e ir para a capital. Ao longo do filme, ambas seguem uma jornada de autodescoberta dos próprios desejos, amores e sonhos.

Marjorie Estiano e Nanda Costa desafiam o patriarcado com “Entre Irmãs”

“Me chame pelo seu nome” (“Call me by your name”)

Um dos mais esperados do Festival, quiçá do ano, o filme conta a história de Elio (Timothée Chalamet), um jovem de 17 anos que vive seu primeiro crush homoafetivo com o estagiário do pai, Oliver (vivido por Armie Hammer, o que torna o crush ainda mais compreensível). O romance se passa ao longo do verão de 1983, no norte da Itália. Com uma fotografia instigante, as dores e prazeres do primeiro amor são contadas de forma sensível e poética, que ajuda a potencializar ainda mais a sensualidade das cenas. Aviso: você nunca mais verá pêssegos com os mesmos olhos. *’Summertime Sadness’ tocando ao fundo*

As angústias do primeiro amor em “Me Chame Pelo Seu Nome”

“Vergel”

Coprodução entre Brasil e Argentina, o drama traz uma performance crua de Camila Morgado como uma recém-viúva que, enquanto espera o corpo do marido ser liberado em Buenos Aires, amadurece sua sexualidade e seu emocional. Dirigido pela argentina Kris Niklison, o longa fez barulho na última edição do Festival de Gramado e traz Camila em uma de suas personagens mais complexas e desafiadoras, cujas camadas do romance com a vizinha (Maricel Álvarez) fogem aos vários clichês possíveis.

Camila Morgado entrega performance cativante em “Vergel”

“120 Batimentos por Minuto” (“120 Battements par Minute”)

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o longa francês narra um romance entre dois rapazes militantes no início dos anos 1990, que tentam driblar a indiferença e o estigma social em torno da epidemia mundial de AIDS. Irreverente, divertido e emocionante, o filme não usa os movimentos sociais de seus personagens apenas como pano de fundo, mas os entende como parte intrínseca de suas vidas como jovens homossexuais e soropositivos. As cenas mostram os protestos na rua, a dificuldade de conseguir atenção do governo ou da mídia para a causa LGBT+, a falta de informação da sociedade e outros tópicos que parecem mais atuais do que deveriam ser quase mais de 20 anos depois. Ah, vale mencionar também que o título foi escolhido para representar a França na disputa pelo Oscar.

A militância escancarada do aguardado “120 Batimentos por Minuto”

“Berenice Procura”

Após um tempo trabalhando com novelas globais, o diretor Allan Fiterman se reencontra com Cláudia Abreu, que vive a taxista Berenice nesse suspence policial. Apaixonada por thrillers e ouvinte fiel do ex-marido Domingos (Eduardo Moscóvis), a mulher ainda tem que lidar com o filho adolescente, que passa pela descoberta de sua sexualidade. Paralelamente, ela se vê envolvida no assassinato da cantora transexual Isabelle, papel que marca a estreia da modelo Valentina Sampaio na sétima arte.

Valentina Sampaio estreia nos cinemas com “Berenice Procura”

“Based on a true story”

É um thriller de Roman Polanski com Eva Green e Emanuelle Seigner (ela mesma, de “A Pele de Vênus”). Se isso não for suficiente para explicar o mood, é só saber que o roteiro traz uma versão meio distorcida de “Acima das Nuvens” (“Clouds of Sil Maria”, 2014), com mais tensão psicológica e Eva em mais uma performance intensa e brilhante. Não à toa, fez bastante barulho quando exibido na última edição do Festival de Cannes.

A sociopatia de Eva Green em “Based On a True Story”

“Copa 181”

O drama marca a estreia de Dannon Lacerda e traz uma boa safra de artistas conhecidos pela cena queer do Rio de Janeiro, como Simone Mazzer, que empresta seu vozeirão à cantora de ópera Eros. A vida da artista começa a se embaralhar com a de outra estrela, a travesti Kika, vivida por Silvero Pereira e que, assim como sua personagem na novela “A Força do Querer”, aguenta um emprego “convencional” de segunda à sexta para se transformar numa estrela dos palcos quando a noite cai. Ela, assim como Eros, também precisa enfrentar um relacionamento prestes a mudar de forma irreversível.

Simone Mazzer solta a voz e brilha ao lado de Silvero Pereira em “Copa 181”

“Tom of Finland”

Sem optar pelo lado fácil do erotismo, o filme dirigido por Dome Karukoski narra a trajetória do artista Touko Laaksonen, o Tom of Finland (Pekka Strang), um dos nomes responsáveis por redefinir o comportamento e a identidade da cena LGBT+ no século XX. Após ter servido durante a 2ª Guerra Mundial, o desenhista começa a protestar os códigos que o oprimem através de ilustrações fetichistas com policiais, motoqueiros e marinheiros em poses sexuais. Vale lembrar também que o título foi escolhido para representar a Finlândia na disputa pelo Oscar.

“Tom of Finland” e seu erotismo subversivo

“God’s Own Country”

Nesse romance meio “América” meio “Brokeback Mountain”, o diretor Francis Lee estreia com a história de Johnny (Josh O’Connor), filho frustrado de um fazendeiro que reprime sua homossexualidade durante o dia e, com o cenário rural e bucólico de Yorkshire ao fundo, a extravasa noite afora. Após um primeiro estranhamento, ele se apaixona por Gheorghe (Alec Secareanu), o peão recém-contratado por seu pai, o que obviamente acaba criando mais problemas psicológicos e sociais no seu entorno.

Um romance bucólico no delicado “God’s Own Country”

“Tailor” (Curta)

Depois de ter feito bonito no Festival de Gramado, rendendo ao diretor Calí dos Anjos os prêmios de ‘Melhor Direção em Curta’ [o primeiro transsexual a conseguir esse feito] e o ‘150 anos Canadá para jovens cineastas’, a animação chega ao Festival do Rio já com grandes expectativas. Nela, Tailor é um cartunista transgênero que divide com o mundo online as suas expectativas, frustrações e desafios como homen trans na sociedade contemporânea. Um olhar necessário, sensível, bem humorado e inclusivo, feito por quem entende melhor do assunto.

Os desafions de um cartunista trans no elogiado “Tailor”

“Minha adorável lavanderia” (“My Beautiful Laudrette” – Londres, 1985)

Com Daniel Day Lewis no auge de sua forma como um punk revoltadinho e charmoso, a comédia cult mostra a luta constante de Omar para se esquivar das perguntas do pai sobre “E como andam as namoradinhas?”. Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, o longa, apesar de kitsch, faz um recorte interessante sobre preconceitos raciais e sexuais na Inglaterra comandada por Margareth Thatcher.

Daniel Day Lewis e um romance improvável em “Minha Adorável Lavanderia”

“Grace Jones: Bloodlight and Bami”

Bom, é um documentário sobre Grace Jones, o que já dispensa mais apresentações. Com cenas da intimidade do ícone, o filme foi gravado ao longo de 10 anos e mostra sua persona dentro e fora dos palcos, assim como sua vida mais privada na Jamaica ou ao lado do fotógrafo e eterno romance Jean-Paul Goudé.

Um olhar intimista na vida de Grace Jones

“Queercore: How to Punk a Revolution”

O documentário dirigido por Yoni Leiser lança uma análise sobre a inconformidade com as regras sociais da onda pós-punk liderada por uma parcela anárquica da comunidade queer britânica. Já esgotados com os ataques que seus membros sofriam na década de 1980, na Inglaterra, esse jovens LGBT+ se uniram para formar o movimento ‘Homocore’, onde a regra era incomodar o máximo possível. O longa ainda é repleto de entrevistas com ícones da cena, como o diretor John Waters (“Pink Flamingos”), Beth Ditto (The Gossip), Peaches e Kim Gordon (Sonic Youth).

A revolução pós-punk do Queercore

“Thelma”

Esse thriller sueco bebe direto na fonte de Stephen King, cuja protagonista vivida por Eili Harboe começa a demonstrar poderes sobrenaturais à medida que vai descobrindo sua homossexualidade, quase como uma versão lésbica de “Carrie, a Estranha”. Simultaneamente, sua família religiosa e conservadora tenta “curá-la” (oi cura gay!) de ambas as “doenças”, o que desencadeia um descontrole ainda maior sobre sua potência.

Tensão sexual e sobrenatural em “Thelma”

“As Misândricas” (The Misandrists”)

Escrito e dirigido por Bruce La Bruce, ícone da cena queer, essa comédia trash mostra um exército de feministas radicais, cuja forma de militância é através da liberação sexual desenfreada. Nessa escola para meninas, as professoras ensinam que o sexo lésbico é a chave para a destruição do patriarcado.

A revolução sexual d’As Misândricas de Bruce La Bruce

“Vaca Profana” (Curta)

No curta metragem dirigido por René Guerra, Nádia (Roberta Gretchen) é uma travesti que fará de tudo para conquistar seu desejo mais profundo: a maternidade. O filme também traz Maeve Jinkings no elenco.

Uma travesti luta pelo sonho da maternidade em “Vaca Profana”

Sal “(Curta)

Baseado em uma história real, o curta de Diego Freitas conta a história por trás da vida dupla de Márcio, um técnico de informática que atrai rapazes em apps de pegação para realizar alguns fetiches bizarros nas horas vagas. De fato, quem nunca passou por uma dessas?

Márcio exercitando os fetiches de sua vida dupla no curta “Sal”

“Discreet”

Coprodução entre Brasil e Estados Unidos, o filme de Travis Matthews mostra a jornada de um andarilho buscando vingança contra o homem que o estuprou quando era jovem. Ao mesmo tempo, sua viagem pelo mundo é documentada quase como um diário de aventuras sexuais.

As aventuras sexuais de “Discreet”

“Orlando – A mulher Imortal” e “Eduardo II”

Por último, mas jamais menos importante, o Festival ainda vai ter uma dobradinha de Tilda Swinton na mostra “Félix apresenta: Clássicos do Queer Britânico”. Em Orlando”, ela bota sua androginia pra jogo e interpreta um nobre amaldiçoado para viver eternamente jovem e que, após 400 anos, ainda perambula pela Inglaterra renascido no corpo de uma mulher. Já com “Eduardo II”, a atriz se insere em uma narrativa repleta de cenas emblemáticas como uma rainha abandonada pelo marido  e publicamente trocada por outro homem.

Tilda Swinton como o imortal Orlando, no clássico de 1992

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