Híbrida
CINEMA & TV

Apesar de enfadonho, Oscar 2018 trouxe momentos de representatividade

Hollywood se reuniu em peso neste domingo (4) para celebrar, em Los Angeles, a festa mais badalada da sétima arte. Conduzido por Jimmy Kimmel — mais contido nas piadas em seu monólogo e nos eventuais tropeços que na cerimônia do ano anterior -, o Oscar 2018, cansativo como já de costume, apresentou poucas surpresas no circuito de premiações da temporada, apesar de ter garantido algumas vitórias memoráveis e momentos de representatividade que ficarão marcados na história.

No tapete vermelho, o look todo preto do Globo de Ouro foi abandonado, dando vazão a escolhas mais plurais pelos convidados e convidadas. No palco, menções ao mais antológico momento na história da premiação (a troca de envelopes do ano passado na categoria de Melhor Filme) foram feitas – como esperado-, assim como o tema que mais agitou a indústria nos últimos meses: o assédio sofrido por mulheres em seus locais de trabalho e a falta de igualdade salarial entre gêneros na indústria do entretenimento.

Para celebrar, nós da Híbrida recapitulamos as cenas mais inesquecíveis de uma noite enfadonha, mas que, para compensar, incluiu dentre seus momentos importantes a primeira mulher trans no palco da cerimônia e o êxito de uma história sobre compaixão e tolerância às diferenças:

UMA MULHER FANTÁSTICA GARANTE VITÓRIA PARA O CHILE – E PARA A REPRESENTATIVIDADE TRANS!

https://www.youtube.com/watch?v=1B0LqlV3YmE

Favorito para o prêmio ao lado do sueco The Square — A Arte da Discórdia” (vencedor da Palma de Ouro de Cannes, em 2017), o chileno Uma Mulher Fantástica”  (dirigo por Sebastián Lelo) foi anunciado por uma empolgada Rita Moreno como dono da estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Tratando-se de uma história sobre resiliência e resistência, a obra que estreou no último Festival de Berlim quebrou padrões, se tornando o primeiro longa fronteado por uma mulher transexual – a divina protagonista Daniela Vega – a vencer algum Oscar. Um ponto para a América Latina e mais outro para a representatividade trans no cinema!

Diga-se de passagem, essa não foi a única vez em que a maravilhosa protagonista   Daniela Vega esteve presente no palco…

DANIELA VEGA INTRODUZ A MELHOR PERFORMANCE DA NOITE

Retornando ao palco para bater outro recorde (agora como a primeira apresentadora transexual na história da cerimônia), Daniela foi a encarregada para introduzir a performance de Sufjan Stevensque contou com a presença de St. Vincent, Moses Sumney, dentre outros. Indicada a Melhor Canção Original pelo tocante Me Chame Pelo Seu Nome, “Mistery of Love” acabou perdendo a estatueta para “Remember Me”, de “Viva — A Vida é Uma Festa”.

JAMES IVORY VENCE COM “ME CHAME PELO SEU NOME”

https://www.youtube.com/watch?v=jDoIOo8GMvY

Concorrendo contra “Artista do Desastre”, “A Grande Jogada”, “Logan” e “Mudbound — Lágrimas Sobre o Mississipi”, o roteiro adaptado de Me Chame Pelo Seu Nome vinha despontando como absoluto favorito na categoria já há algumas premiações anteriores. E na cerimônia final e mais importante da temporada não deu para ser diferente — James Ivory, responsável por trazer a história do autor André Aciman para as telonas ao lado do diretor Luca Guadagnino, levou a única estatueta para o filme de forma marcante: como o vencedor mais velho da cerimônia, aos 89 anos, e usando sua camisa estampada com o rosto de Timothée Chalamet.

O RECONHECIMENTO DE “CORRA!”

https://www.youtube.com/watch?v=SVmuTIQBoio

Talvez o concorrente mais improvável desta edição do Oscar — dada a sua estreia no começo do ano passado, seu tema, seu gênero e o sucesso estrondoso nas bilheterias-, Corra!” era um dos favoritos em algumas categorias das quais foi nomeado. E das quatro indicações recebidas, o terror levou para casa o prêmio de Melhor Roteiro Original, entregue ao também diretor Jordan Peele, que se tornou o primeiro negro vencedor da categoria na história da premiação.

O DISCURSO DE FRANCES MCDORMAND

https://www.youtube.com/watch?v=-86vgvZGMs4

Surpresa para ninguém que Frances McDormand fosse a escolhida para o prêmio de Melhor Atriz por “Três Anúncios Para um Crime”: na temporada, ela venceu todas as premiações televisadas e, no Oscar, já era esperado que não fosse diferente, como não foi mesmo. O destaque absoluto ficou por conta de seu discurso, talvez o melhor de toda a noite. Frances, que comumente tem o dom de tornar tudo menos entediante graças ao seu carisma e bom humor, pediu para que todas as mulheres indicadas em todas as categorias se levantassem na platéia, dizendo: “Olhem ao redor, senhoras e senhores. Porque todas nós temos histórias para contar e projetos que precisam ser financiados. Não falem sobre isso conosco na festa hoje à noite. Nos convide para seus escritórios em alguns dias ou venham até os nossos, o que acharem melhor. E falaremos sobre isso”.

GUILLERMO DEL TORO PONTUA PARA O MÉXICO (DE NOVO)

https://www.youtube.com/watch?v=bAx0b4Fqju8

Outra não-surpresa foi a estatueta de Melhor Diretor para o talentoso Guillermo Del Toro e sua apaixonante fantasia A Forma da Água”. Ainda assim, não deixou de ser um prêmio significante, considerando o discurso do cineasta  sobre imigração e o muro na fronteira, além do fato de que sua vitória é a quarta para o México somente nesta década: em 2014, Alfonso Cuáron levou por “Gravidade” e, tanto em 2015 quanto 2016, Alejandro González Iñarritu venceu por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” e “O Regresso”, respectivamente.

“A FORMA DA ÁGUA” LEVA MELHOR FILME

https://www.youtube.com/watch?v=2hnYE_URTpc

A vitória de “Moonlight: Sob a Luz do Luar” no ano passado, felizmente, parece ter vindo para sinalizar uma nova regra a ser trajada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e não uma completa exceção. Indicado para 13 estatuetas e vencedor de 4, A Forma da Água levou o prêmio mais importante da noite para casa, desbancando outro forte concorrente (“Três Anúncios Para um Crime”) e a possível zebra (“Corra!”). Renovador ver a Academia, comumente acusada de conservadora e retrógrada, premiando uma ficção científica numa história lírica e poética sobre amor e empatia com minorias.

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