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Playlist LGBT+: os melhores lançamentos musicais de novembro/24

Mart'nália, Daniel Peixoto e Clementaum com Karol Conká são os destaques musicais de novembro

Mart'nália, Daniel Peixoto e Clementaum com Karol Conká são os destaques musicais de novembro

Na coluna de novembro com os principais lançamentos musicais de artistas LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Rawi, Siamese, Mart´nália, Marcos Sacramento e Cronista do Morro; o EP de Day Limns; além dos singles de Luana Flores com Juliana Linhares, Dornelles com Yuri Gabe, Clementaum com Karol Conká e Daniel Peixoto.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.

Rawi – “Arte de Bicha”

Rawi é um dos artistas queer mais potentes e expressivos do Brasil, como já tinha comentado aqui na Híbrida sobre o trabalho desse paraense de Santarém que extrapola a música a produzir conteúdo visual e de moda. Saiu em novembro o seu segundo álbum, Arte de Bicha, com patrocínio de Natura Musical e o título que é também seu nick no Xuíter. Já nos visualizers, as duas primeiras faixas fortalecem essa ideia da música acompanhada das artes plásticas em “ADB1 Tapajônica Icônica” e “Canvas”, assim como as próprias maquiagens artísticas. O álbum é quente e úmido, como o clima de sua natal Santarém, na região conhecida como “planalto santareno”, e situa o corpo LGBTQIAP+ amazônico num tempo, espaço e som, com a poética do quadril que rebola, da língua que enrosca, da minissaia que salva as tardes de calor.

Os 13 visualizers servem looks e conceitos em uma experiência visual única de sua poética, mergulhando em sua identidade queer a partir de referências pop e símbolos da cultura regional nortista-santarena. Os visualizers tem a direção de Bárbara Vale e direção criativa de Gustavo Dorado e Rawi. O álbum é uma experiência sonora que remete a uma festa psicodélica e eletrônica em um barco, com a produção musical de Andrew Só, do estúdio Monhangarypy. O papo dessa Sexta Sei foi com o artista. 

Mart’nália – “Pagode da Mart´nália”

Mart’nália deixou a Biscoito Fino e estreia na Sony Music com Pagode da Mart´nália, álbum no qual relê 12 clássicos da geração 1990 do pagode, reafirmando o ritmo como plataforma queer, depois das experiências de Ludmilla, Glória Groove e Samba de Colher, como resenhado aqui na Playlist. O repertório inclui sucessos de grupos como Grupo Raça, Só pra Contrariar, Raça Negra, Molejo, Revelação, Katinguelê, Soweto, Art Popular e Exaltasamba, com participações de Caetano Veloso, em “Domingo”; Luísa Sonsa, em “Cheia de manias”; Martinho da Vila, em “O teu chamego”; e Luiz Otávio, em “Essa tal liberdade”. A produção foi dividida entre Marcia Alvarez, Luiz Otávio e Marcus Preto. A direção musical é de Luiz Otávio. A direção artística é de Alvarez e Preto.

“O que estou fazendo nesse novo trabalho é reverenciar grupos e compositores que ajudaram a criar uma conexão maior do público com o samba, que ainda era marginalizado naquele período. Fazer essa releitura e juntar a cadência do meu samba a essas canções contribui muito para minha própria liberdade no cantar. Esse repertório marcou muito a memória afetiva das pessoas no passado e agora pode conectar ainda mais as novas gerações ao universo do samba”, analisa a artista. 

Cronista do Morro – “Uma possível vingança”

Rapper soteropolitana que já passou aqui pela Playlist, Cronista do Morro ecoa autenticidade e crítica social em seu primeiro álbum, Uma possível mudança, com apoio da Natura Musical. O trabalho sintetiza as principais referências da artista, que mescla a bagagem das ruas e o rap a elementos da sonoridade urbana da Bahia, como pagodão baiano e samba reggae. “Carta para o presidente” ganhou clipe e abriu caminhos para o debut.

“A concepção criativa do disco vem de muita pesquisa, das observações do cotidiano em Salvador, trazendo minha ótica sobre a cidade, para além dos atrativos turísticos. Quis desabafar sobre o contraste dos dois lados da cidade, equilibrando a energia do hip hop e do que é a verdadeira Salvador”, conta Cronista.

Siamese – “Siamese”

Siamese é natural de Andirá (PR) e uma força a ser reconhecida no pop nacional, como fica comprovado em Siamese, seu álbum de estreia. Ela já tinha passado aqui pela Playlist com “Marmita”. A cantora e compositora mostra seu estilo, que passeia por diversos gêneros musicais, como pop, rock, funk, disco music, afrobeat, bossa nova e rap. “Quero que esse primeiro disco mostre todas as minhas facetas, minha personalidade”, explica.

Siamese iniciou sua carreira em Curitiba com o lançamento do EP Som do Grave, em 2017. Em 2019, lançou Overdose, segundo EP, com colaborações de Tuyo, Boombeat e Danna Lisboa. Tirado, que assina a produção de oito das dez faixas do disco, trabalhou junto com Siamese nos arranjos vocais. Badzilla produziu duas faixas, sendo uma produzida inteiramente por ele, e outra em parceria com Clementaum. Com a estreia do álbum, a cantora também se prepara para um show especial de lançamento, que acontecerá em Curitiba, no TeatroPaiol, nos dias 13 e 14 de dezembro.

Marcos Sacramento – “Arco”

Marcos Sacramento passou aqui na seleção da playlist em outubro, com o single “Voltei”, canção de Baden Powell e Paulo César Pinheiro que homenageia o duo queer brasileiro Les Étoiles, formado por Luiz Antônio e Rolando Faria, que fez grande sucesso na Europa nas décadas de 1970 e 1980. Em novembro, ele lançou o álbum Arco, com prudução de Elisio Freitas, direção artística de Phil Baptiste e participações especiais de Josyara, em “Bahia-Rio”; e Zé Ibarra, em “Todo amor que houver na sua vida” (Cazuza). Lançamento da Biscoito Fino, o álbum celebra os 40 anos de carreira de Marcos com frescor e pitadas de ousadia.

“Depois de 40 anos de carreira, quis fazer diferente, me jogar em algo que eu não dominava completamente. Quis juntar forças, conhecimentos e estéticas com artistas com os quais não tinha trabalhado ainda. Deleguei um pouco mais e me deixei ser surpreendido. Acho, também, que só consegui por estar cada vez mais seguro com meu fazer artístico. O resultado me deixou muito feliz, estou inteiro ali. Acho que o público que me acompanha não só me reconhecerá, como me verá a partir de uma outra perspectiva”, pontua Marcos Sacramento.

Day Limns – “VênusNetuno II”

Uma das maiores vozes da atualidade, Day Limns lançou o EP VênusNetuno II, desdobramento do álbum VÊNUS≠netuno, uma fusão de pop, rap e rock que define como “pop underground”. O EP é inspirado na carta de tarot O Carro, símbolo de movimento e superação, convite para uma viagem introspectiva que desafia a polarização. “Este trabalho é meu manifesto por um mundo mais conectado e expansivo”, comenta Day.

Com influências de astrologia, misticismo e uma estética pop futurista, o EP explora temas de intuição e autodescoberta em um universo inspirado no movimento Solar Punk, com natureza e tecnologia coexistindo em harmonia. A faixa “Dom” tem a participação de Vitão e fala sobre a capacidade de transformar a dor em arte. Os visuais têm uso de tecnologia de Virtual Production, em colaboração com ERØ e a Veludo (Academia de Filmes). “Eu quis usar a tecnologia para criar uma ponte entre o que é tangível e o que só existe dentro de nós”, explica.

Clementaum e Karol Conká – “Passaçãum (ÉoQquerida?)”

Clementaum, a maiorzona, já apareceu aqui na seleção da Híbrida e volta com outra diva curitibana, Karol Conká, que também já passou por aqui. O feat delas, “Passaçãum (ÉoQquerida?)”, tem produção que explora o funk e o techno, e os visuais fazem uma divertida brincadeira com o táxi laranja de Curitiba, apesar de elas não terem se conhecido na cidade. “Tô com a língua solta, pronta pra chicotear”, canta Karol.

A artista participou do Boiler Room do Primavera Sound Barcelona e foi destacada como ponto alto do festival pela WGSN. Sua primeira turnê pela Europa passou por oito países, com paradas em clubes importantes, como Antídoto (Madri), MusicBox (Lisboa) e Raum (Amsterdã). Clementaum é um dos nomes mais interessantes do ano, com certeza, tanto que foi nominada como Produtora Musical do Ano ao WME Awards.  

Luana Flores e Juliana Linhares – “Alumeia”

A multifacetada artista paraibana Luana Flores apresenta ao público o single e clipe “Alumeia” , segundo faixa do seu esperado álbum de estreia que tem lançamento previsto para 2025. Com a participação especial de Juliana Linhares, a música fala da nova luta que o Nordeste enfrenta contra a instalação desenfreada de parques eólicos e seus impactos. Dirigido pela própria Luana, o clipe narra a história ficcional de uma funcionária de uma usina eólica no sertão da Paraíba, que carrega consigo um baú mágico. A canção mescla elementos de forró, brega, xote, xaxado, maracatu e baião, criando uma sonoridade vibrante que exalta a resistência nordestina. E tem cheiro de couro? Tem sim.

O álbum também incluirá colaborações com artistas como Jéssica Caitano e Chocolate Remix, MC da Argentina. O primeiro single,“Encantarya”, foi uma parceria com a imensa Cátia de França.

Dornelles e Yuri Gabe“Violento”

Dornelles dessa vez teve timing e bastante sorte ao lançar a faixa“Violento”, feat com Yuri Fabe, na semana do atentado ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Violento” veio a partir de uma visão política de tudo que está acontecendo no nosso país nos últimos anos, mas, principalmente, do que está acontecendo nesse último semestre do ano de 2024. É uma resposta satírica à oposição.

“Então, você vai ver vários símbolos ali, como o pneu, que é uma referência à oração do pneu que os bolsonaristas fizeram na estrada. Você vai ver a gente de exército e trazendo pessoas LGBTQIA+ vestidas de exército, porque, para eles, o símbolo, a simbologia armamentista é uma coisa poderosa para eles, na crença deles. Então eu pego todos esses símbolos que eles amam, que eles cultuam e coloco para a gente, pego a bandeira do Brasil e coloco para a gente, sabe? Para trazer essa coisa de olha, nós fazemos parte disso aqui também, sabe? E nós vamos existir aqui também.” Avisa!

Daniel Peixoto – “De Presente (Miami Acid Remix)

Daniel Peixoto passou por aqui em maio, com o lançamento de seu terceiro álbum, Tropiqueer. O projeto agora ganha desdobramentos em remixes, e o segundo a ser lançado é “De Presente (Miami Acid Remix)”. São três versões, o remix, acapella (karaokê) e o instrumental, para os DJs e produtores criarem suas próprias versões. Daniel também assina, pela primeira vez, a produção musical da faixa, feita em parceria com Alahin, que já canetou hits para Lorena Simpson e Natália Damini.

O EP marca a estreia da cantora Thalia Luz, novo talento vocal da cidade de Fortaleza. “Ela é realmente um nome novo. A demo da música foi gravada por ela, e nós decidimos usar na faixa final, porque ela é realmente muito talentosa. Espero que ela siga uma carreira e possa fazer músicas autorais, porque ela é muito boa. Ela tem uma casa noturna bem bombada aqui em Fortaleza que se chama “The Lights”, no bairro universitário Benfica, onde ficam as universidades”, conta Daniel.

Moreira também está ouvindo:


*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, escreve no Baixo Centro, fazendo a Sexta Sei, e aqui na Híbrida.


As opiniões e comentários expostos na coluna são de responsabilidade do autor.

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