O cantor Bruno, da dupla sertaneja Bruno & Marrone, foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo por transfobia após um episódio em que perguntou à repórter Lisa Gomes (RedeTV), que é transexual, se ela teria órgão genital masculino. A denúncia foi encabeçada pelo deputado estadual suplente paulista Agripino Magalhães (MDB) e sua equipe jurídica.
Em uma entrevista feita no dia 12 de maio, Bruno, cujo nome verdadeiro é Vinícius Félix de Miranda, se dirigiu à repórter Lisa Gomes nos bastidores de um evento sertanejo no Villa Country, em São Paulo, e perguntou: “Você tem pau?”. Várias pessoas acompanharam o episódio e a jornalista encerrou a matéria após a interação, visivelmente contrangida.
Assista ao momento abaixo.
É TRANSFOBIA! O cantor sertanejo Bruno, que faz dupla com Marrone, fez uma pergunta indelicada e preconceituosa para a jornalista Lisa Gomes, uma das repórteres do programa TV Fama, exibido pela RedeTV!
Ele será processado pela jornalista. pic.twitter.com/3xZFeigPMV
— Universo LGBTQIA+ 🏳️🌈 (@universolgbtq) May 15, 2023
“Eu já enfrentei preconceitos na vida, mas aquilo me tirou do eixo, eu não faço ideia do que falei com ele, não sei como foi a entrevista. Só sei que, assim que acabei, sai de lá correndo. Tinha até que entrevistar outros famosos, mas não consegui”, contou Lisa, em entrevista ao site OFuxico. A jornalista também pediu que a RedeTV! não publicasse a entrevista.
Em suas redes sociais, a repórter publicou um vídeo comentando o episódio: “Foi horrível o que eu passei. Eu me senti invadida. Senti minha intimidade exposta de uma forma como eu não gostaria que fosse. Então, tudo isso me fez muito mal, de voltar a um lugar que eu não gostaria”, disse.
“E quando vem de um artista tão consagrado, tão querido do público, porque como artista, como cantor, eu acho ele sensacional, sabe? Eu estava lá para trabalhar, para exercer a minha função como repórter, com todo o amor do mundo, como eu sempre faço. Não fui me divertir, fui trabalhar para divulgar você, divulgar seu trabalho”, completou a jornalista, dirigindo-se a Bruno.
A representação foi enviada ao Ministério Público e será analisada pelo Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (GECRADI). O documento foi protocolado pelo advogado Ângelo Carbone e diz: “Os efeitos deletérios do crime de ódio por transfobia praticado pelo cantor Bruno reforçam o sistema de discriminação que as mulheres travestis e as mulheres transgêneros sofrem diariamente, excluindo-as socialmente de seu gênero identitário e obstando assim a realizações de seus direitos humanos de felicidade, aceitação e realização social e profissional”.
Em 15 de maio, três dias pós a repercussão do caso, o sertanejo emitiu um pedido desculpas, por meio de nota enviada pela sua assessoria de imprensa. “Ela é do bem, e me mostrou com muita sinceridade que as marcas de todo um processo de vida são eternas, e que cada ‘brincadeira’ de péssimo gosto como a minha pode trazer tudo à tona”, disse Bruno no texto. Ele também publicou um vídeo comentando o episódio em suas redes sociais.
Leia também:
- Twitter muda regras de usuário para permitir transfobia na plataforma
- Nikolas Ferreira é condenado a pagar R$ 80 mil por transfobia contra Duda Salabert
- Mulheres trans não têm vantagem nos esportes, aponta relatório
Desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a discriminação com base em identidade de gênero e orientação sexual ao racismo. Ainda em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou a decisão e aumentou sua punição, decretando que crimes desse tipo são inafiançáveis, imprescritíveis e podem resultar em uma pena de 2 a 5 anos de reclusão.